Em uma cidade em que acidentes de trânsito matam mais que criminosos, Prefeitura promove corrida a 300 km/h nas ruas.
“O controle da velocidade é crucial para a segurança do trânsito, já que, na maioria dos acidentes de trânsito, a menor velocidade do veículo poderia ter evitado o acidente ou abrandado sua gravidade”, orientação da Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo (CET).
[media-credit name=”Crystian Cruz” align=”alignright” width=”300″][/media-credit]Em 2010, 1.375 pessoas morreram em acidentes de trânsito na cidade de São Paulo. Destas, 630 perderam a vida atropeladas. Em outras palavras, praticamente quatro pessoas (3,7) morreram por dia no trânsito da principal capital econômica do país, sendo que quase duas (1,7) foram atropeladas. Os dados fazem parte de um levantamento feito pela CET com base em dados do Instituto Médico Legal e boletins de ocorrência de acidentes de trânsito registrados pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo.
Só para efeito de comparação, o número de mortos no trânsito superou o de homicídios dolosos na capital em 2010, que foi de 1.196.
A velocidade é um dos principais problemas, que o digam os mais velhos. Segundo Dirceu Rodrigues Alves, diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), em se tratando de acidentes, a rapidez nas ruas prejudica quem tem mais idade. “Conforme o tempo passa, a mobilidade do indivíduo fica prejudicada.
Ele não tem os mesmos reflexos e movimentos de um jovem. Isto se reflete na travessia de uma rua, no descuido de passar entre automóveis ou ao dirigir”, diz. Entre os mortos atropelados, a maioria (55,4%) tem mais de 50 anos. De todas as vítimas fatais, 195 são aposentados ou pensionistas.
A Abramet defende a redução da velocidade nas ruas para reduzir acidentes.
Rapidez
[media-credit name=”Crystian Cruz” align=”alignleft” width=”300″][/media-credit]Os números foram divulgados pela CET em um comunicado à imprensa no dia 20. Gostaria muito de indicar o link para a íntegra do estudo, mas não consegui mais encontrar a página dentro do site da empresa em que ficavam as estatísticas (saiu do ar?!). Fiz uma solicitação formal ao departamento de imprensa no mesmo dia, mas (ainda?) não me responderam. Quem quiser mais detalhes sobre os acidentes fatais na capital em 2010, pode consultar o que saiu na Folha, no Estadão, no G1 e na ESPN sobre o assunto.
Em se tratando da relação direta entre velocidade e acidentes, porém, o problema não se restringe a 2010 e nem à capital. É só ver o que aconteceu durante o feriado de Páscoa no Estado de São Paulo. Tanto nas estradas estaduais quanto nas federais, o número de mortes aumentou em relação ao ano passado. Nas estaduais*, subiu de 36 para 41. Nas federais, de quatro para seis. Dúvida sobre a razão da maioria dos acidentes? Pergunte a qualquer policial rodoviário o que ele acha dos carros andando como se apostassem corrida nas estradas.
“As principais infrações foram excesso de velocidade e ultrapassagens em locais proibidos, gerando acidentes com vítimas”, tenente Moacir Mathias do Nascimento à Agência Brasil.
* Apesar de o número absoluto de vítimas ter aumentado, a Secretaria de Transporte de São Paulo anunciou os números deste ano como queda de vítimas fatais, usando como base um Índice de Acidentes que inclui quilômetros e quantidade de veículos. Desde que tal medição foi adotada, a Secretaria proibiu a divulgação dos números absolutos dos anos anteriores (restrição um tanto quanto ineficaz em tempos de internet). Na época, procurei a assessoria da Secretaria e a Polícia Rodoviária Estadual e representantes de ambos os órgãos afirmaram não estarem mais autorizados a divulgar os dados.
[media-credit name=”Crystian Cruz” align=”alignleft” width=”199″][/media-credit]Fórmula Indy
No domingo, dia 1º, a cidade de São Paulo recebe a Fórmula Indy, principal prova de corrida em circuito de rua do mundo. Isso, corrida na rua mesmo. No caso, um dos trechos é a Marginal Tietê, uma das mais movimentadas de São Paulo, em que será possível atingir 300 km/h, como anunciam com orgulho os organizadores, o que deve proporcionar mais acidentes “espetaculares”. Ah, este ano, entre os patrocinadores está uma cervejaria.
É a segunda vez que a competição acontece na capital. A primeira, em 2010, foi considerada um “sucesso”, porque, entre outros feitos, foram realizadas 95 ultrapassagens. O piloto mais veloz ganhou o troféu das mãos do governador e teve até premiação para quem fez a volta rápida. A Prefeitura inicialmente planejou gastar R$ 3 milhões para receber o evento, mas acabou gastando R$ 12 milhões.
Vruummmmmmmmmmmmmmmmmmmm…
* Publicado originalmente no blog Outras Vias.