Kingston, Jamaica, 14/1/2015 – Durante décadas nas férteis ladeiras do vulcão La Soufriere, que ocupa o terço norte de São Vicente, uma ilha caribenha de 344 quilômetros quadrados, foi produzida maconha, que avivou a economia clandestina e o comércio dessa substância ilegal no Caribe oriental. Mas agora o vulcão, de 1.234 metros de altura, que entrou em erupção pela última vez em 1979, é explorado para algo totalmente diferente: seu potencial para a energia geotérmica.
O governo de Ralph Gonsalves acredita que a energia geotérmica significará uma mudança para a economia local. No caribenho país de São Vicente e Granadinas, onde o turismo é o suporte econômico, o custo da eletricidade representa entre 40 e 50 centavos por quilowatt/hora, várias vezes o que pagam os consumidores nos Estados Unidos.
Tanto proprietários individuais quanto a indústria esperam que as explorações, que já duram mais de um ano, apresentem resultados que permitam produzir entre 10 e 15 megawatts (MW) de eletricidade, tão necessários para aliviar a dependência dos muito caros combustíveis fósseis e dar nova vida aos setores produtivos e à agroindústria.
A exploração de energia geotérmica é possível graças a uma associação entre o governo do Partido Trabalhista de Unidade, a empresa islandesa Reykjavik Geohtermal Ltd. e a Emera Inc, uma companhia internacional com sede em Nova Escócia, no Canadá, proprietária de numerosas centrais elétricas no Caribe.
Um ano depois do lançamento do projeto, o primeiro-ministro Gonsalves, que vai disputar um quarto mandato de cinco anos em 2016, disse ao parlamento, em dezembro de 2014, que a usina de energia geotérmica estará pronta entre o final de 2017 e o início de 2018. Em junho de 2015, um informe técnico ficará pronto e logo haverá a escolha do local, informou aos legisladores Gonsalves, também ministro da Energia. “Ainda estamos dentro do prazo. Salvo por dificuldades extraordinárias que possam surgir, deveremos alcançar uma produção de 10 MW no final de 2017”, acrescentou.
O “dinheiro a juros muito baixos” que, segundo o primeiro-ministro, o governo receberá em breve, pode ter sido uma referência para solicitar empréstimo de US$ 15 milhões ao fundo de Abu Dhabi para o Desenvolvimento e à Agência Internacional de Energia Renovável (Irena). Os beneficiários serão anunciados na quinta sessão da assembleia da Irena, prevista para os dias 17 e 18 deste mês, em Abu Dhabi, um dos Emirados Árabes Unidos, da qual Gonsalves participará. “São 80 solicitações, das quais oito serão escolhidas; a soma total é de US$ 60 milhões, que serão emprestados este ano”, disse o primeiro-ministro.
Apesar da queda no preço do petróleo, Gonsalves acredita que a energia renovável é a opção para São Vicente e Granadinas. Um quarto dos 20 MW de eletricidade gerados durante o pico da demanda, neste país de várias ilhas, procede de três centrais hidrelétricas. Os restantes 15 MW são gerados com óleo combustível, para os quais se importou o equivalente a US$ 70 milhões em 2013.
“Queremos que as usinas hidrelétricas sejam mais eficientes, e queremos fazer isso com energia solar e geotérmica”, destacou o primeiro-ministro à IPS. Esta última pode absorver 98% da carga-base das necessidades energéticas do país, enquanto com a primeira pode-se gerar 20%, ou mais, com uma tecnologia melhorada, acrescentou. “Mesmo havendo muita energia solar, serão necessárias a hidrelétrica e a geotérmica e o óleo combustível para cobrir a carga-base”, ressaltou.
Montgomery Dyer, um fabricante de móveis de 52 anos, está entre os que desejam que a usina geotérmica seja realidade o mais rápido possível. Dyer vive em Spring Village, uma comunidade de North Leeward, o distrito de São Vicente onde fica uma parte do vulcão em questão. Em especial, se entusiasma pela possibilidade de baixar a conta de eletricidade, cujo custo representa 10% da produção em sua empresa de 28 funcionários.
“O custo da energia em São Vicente é muito alto. Baixe o que baixar, a produção diminuirá”, apontou Dyer à IPS, acrescentando que a consequência disso será maior competitividade. Ele paga US$ 1 mil por mês, quantia substancial que seria maior se não tivesse tomado medidas para reduzir o consumo elétrico na fábrica.
Além das alternativas geotérmica e hidrelétrica, São Vicente e Granadinas já tomaram medidas para aproveitar o sol, que é abundante durante todo o ano nesta nação caribenha. Este país tem cerca de 750 quilowatts/hora de instalações fotovoltaicas, incluídos os dez quilowatts/hora instalados no Complexo Financeiro, onde está o escritório do primeiro-ministro, o que reduziu o custo de refrigeração em 20%.
A maioria das instalações solares é propriedade da estatal Saint Vincent Electricity Services Ltd. (Vinlec), que tem o monopólio em matéria de geração comercial e distribuição de eletricidade. A companhia tem 557 quilowatts/hora em painéis fotovoltaicos em suas plantas de energia em Cane Hall, leste da capital, Kingstown, e outra na baía de Lowmans, a oeste, onde também há outra planta a óleo combustível.
A estatal investiu US$ 1 milhão em painéis solares, mas se prevê que o impacto da fatura de consumo elétrico seja mínimo, uns poucos centavos ao ano. E espera-se que reduzam em 800 toneladas ao ano a quantidade de gases-estufa emitidos na atmosfera. “Não é uma quantidade significativa em termos globais, mas indica que estamos contribuindo como um pequeno país insular”, pontuou o primeiro-ministro.
Os gases-estufa são os principais responsáveis pela mudança climática, que gerou vários eventos climáticos severos, às vezes fora de estação, em São Vicente e Granadinas nos últimos anos. Por essa razão, Dyer perdeu US$ 445 mil e teve de solicitar empréstimo de “centenas de milhares de dólares” no banco para relançar seu negócio vários meses depois. Envolverde/IPS