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Sarampo mata dezenas de milhares de crianças por ano

A maioria das 145.700 pessoas que morreram de sarampo em 2013 era de meninos e meninas com menos de cinco anos, segundo a Organização Mundial da Saúde. Foto: Adil Siddiqi/IPS
A maioria das 145.700 pessoas que morreram de sarampo em 2013 era de meninos e meninas com menos de cinco anos, segundo a Organização Mundial da Saúde. Foto: Adil Siddiqi/IPS

 

Nações Unidas, 9/2/2015 – O sarampo continua sendo uma das principais causas de mortalidade de crianças de pouca idade em todo o mundo, apesar de existir vacina contra a doença. A maioria das 145.700 pessoas que morreram de sarampo em 2013 era de menores de cinco anos, segundo a Organização Mundial da Saúde. Mas a imunização salvou muitos da morte. A OMS calcula que a vacinação impediu 15,6 milhões de mortes entre 2000 e 2013.

As crianças com maior risco de não serem vacinadas estão entre os mais vulneráveis e desfavorecidos do mundo, como os pertencentes a minorias e os refugiados ou abrigados em alojamentos provisórios, detalhou à IPS Jos Vandelaer, o assessor principal sobre imunizações do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

“São as mesmas crianças que tampouco têm acesso a serviços de saúde, água potável, higiene, escola e assim sucessivamente. Se não são vacinados e adoecem, suas possibilidades de receber tratamento também são inferiores às de uma criança média”, afirmou Vandelaer.

Diante dos recentes focos de sarampo nos Estados Unidos, Vandelaer falou à IPS sobre algumas diferenças na hora de comunicar a importância da vacinação nos países do Norte industrializado e do Sul em desenvolvimento. “Em situações onde há maior mortalidade e morbidade, as pessoas muito frequentemente experimentam, dia a dia, o impacto que tem a vacinação. Se ainda temos muito sarampo, então as pessoas compreenderão que a vacinação protegerá as crianças”, destacou.

As vantagens da vacinação “provavelmente sejam menos visíveis em situações onde há maior cobertura e as enfermidades são menos comuns. As pessoas começam a ver menos os benefícios da imunização, porque já não veem a doença”, acrescentou o representante do Unicef. “O que começamos a ver, como ocorre com a imprensa aqui nos Estados Unidos ou em alguns países europeus, é que com frequência as pessoas com mais educação são as que têm objeções às vacinas. Não é uma questão de não ter sido informado, mas de estar mal informado”, assegurou.

Em toda sociedade sempre há poucas pessoas que não podem ser imunizadas, como as crianças muito pequenas e com sistemas imunológicos comprometidos pelo câncer ou outras enfermidades. Essas crianças dependem do que se chama imunidade grupal como proteção para as doenças que podem ser prevenidas com vacinação. “Um vírus passa de uma pessoa para outra, mas se uma delas está protegida o vírus não pode ir além”, explicou Vandelaer.

“Quando há poucas crianças não imunizadas, na realidade estão protegidas por crianças à sua volta. Por isso a vacinação é importante, não só para proteção individual, mas também para proteger o grupo”, recomendou o assessor do Unicef, maior comprador mundial de vacinas e comprometido com a transparência, por meio da divulgação dos preços que paga por elas em sua página na internet.

Kate Elder, assessora da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), falou à IPS sobre o custo das vacinas e a necessidade de maior transparência nesse mercado, em particular dos governos de renda média que compram diretamente das empresas fornecedoras. Elder explicou que os governos demonstram preocupação sobre os elevados preços das vacinas na Assembleia Mundial da Saúde, máximo órgão de decisão da ONU, que se reúne uma vez por ano.

Os países mais pobres do mundo podem conseguir vacinas mediante a Aliança da Vacina Gavi, da qual o Unicef faz parte. Esses Estados têm apenas que fazer um pequeno pagamento e o organismo cobre o restante dos custos com os fundos doados. Mas grande parte da população mais pobre do mundo vive em países de renda média, e seus governos costumam adquirir as vacinas diretamente das empresas que as vendem, em um mercado regido pelo segredo.

Para a pesquisa de seu último informe, a MSF se comunicou com governos e empresas produtoras de vacinas para solicitar informação sobre o custo das mesmas. Nenhuma das transnacionais que a organização contatou forneceu informação sobre o preço que cobram pelas vacinas e, na verdade, “fizeram o possível para ocultá-lo”, contou Elder. As empresas disseram à MSF que utilizam uma estrutura de preços diferenciada, o que, em teoria, deveria significar que os países mais pobres pagam menos do que os mais ricos.

A MSF acredita que os preços das vacinas devem estar disponíveis ao público porque os dados que a organização recebeu dos governos não refletem necessariamente a estrutura de preços diferenciados que as companhias asseguram utilizar, destacou Elder.

Outro elemento em questão é a existência de um mercado saudável, preferivelmente sem monopólios ou duopólios. A MSF informou que atualmente existe um fabricante, o Instituto Serum, da Índia, que produz 80% das vacinas contra o sarampo e que também é a única empresa pré-qualificada pela OMS para elaborar a vacina SR, de sarampo combinado com rubéola. Nos fatos, isso aumentou o preço da vacina SR, que a OMS recomenda como parte do pacote básico de vacinação.

Embora o Unicef e o governo dos Estados Unidos publiquem o que pagam pelas vacinas, a norma são as exceções. Elder ressaltou que falta maior transparência em todos os âmbitos para que os contribuintes dos países doadores que apoiam a Aliança Gavi e os países de renda média que compram diretamente suas vacinas saibam quanto as vacinas custam para seus governos. Envolverde/IPS