Todo mundo conhece um pouco sobre as diferentes mudanças físicas, mentais e psicossociais que as mulheres passam quando se tornam mães, e seus potenciais reflexos sobre a saúde. Até mesmo o cérebro passa a ser diferente com a maternidade (cérebro de mãe é turbinado mesmo). Já o efeito da paternidade sobre a saúde dos homens é um tema ainda pouco explorado pela ciência.
A paternidade no mundo contemporâneo extrapola o modelo estereotipado do pai provedor trabalhando fora e a mãe em casa cuidando dos filhos. Hoje em dia não são raros os pais que moram sozinhos com os filhos, pais que cuidam da casa enquanto a mãe que é provedora e trabalha fora, pais que moram longe dos filhos, pais numa relação homossexual, e outras variações de paternidade que pareceriam exceções à regra algumas décadas atrás.
E será que a paternidade exerce alguma influência sobre a saúde dos homens? Os filhos podem ser um fator positivo na vida dos homens como fonte de satisfação e realização, e até de atividade física, já que muitos homens retornam à atividade esportiva incentivados pela chance de fazê-la junto aos filhos. Inclusive, atividade física junto ao filho é mais comum com o pai do que com a mãe. Por outro lado, a paternidade pode trazer efeitos negativos se, por exemplo, o homem encará-la com culpa por não viver junto ao filho ou se o homem tiver que trabalhar além dos seus limites desejáveis depois que a conta com os filhos passou a ficar mais cara, deixando de cuidar de sua própria saúde e às vezes até se sentindo penalizado. A forma como o homem vive a paternidade, além de poder influenciar seus hábitos de vida, e consequentemente sua saúde, pode influenciar também o desenvolvimento psíquico de seus filhos e a própria saúde do relacionamento conjugal. Pesquisas ainda revelam que pais com filhos que apresentam doenças crônicas apresentam mais chance de estresse na relação conjugal e separação e também maior chance de desemprego.
Mas os estudos sobre o efeito da paternidade sobre a saúde dos homens ainda estão no começo. O conhecimento, até o momento, foi muito focado no impacto psicossocial nos primeiros anos após o nascimento do filho, e estudos têm sido desenvolvidos para avaliar essa questão mais no longo prazo. O fator paternidade deve começar a ser levado em conta no cuidado da saúde do homem, com recomendações de equilíbrio entre trabalho e família integradas às habituais orientações de hábitos saudáveis de vida. Uma pesquisa recente envolvendo milhares de americanos revelou que o consumo de gordura total e saturada por adultos é maior nos lares com crianças.
Uma maior atenção ao lado pai do homem tem o potencial de promover sua saúde, e certamente promoverá mais saúde aos seus filhos também. Recentemente, a academia americana de pediatria passou a recomendar aos pediatras que estimulem os pais a participarem mais do dia a dia dos filhos, já que são inúmeras as evidências da forte influência do pai sobre o desenvolvimento dos filhos, do ponto de vista social, psíquico e cognitivo.
* Ricardo Teixeira é doutor em Neurologia e pesquisador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Dirige o Instituto do Cérebro de Brasília.
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*** Publicado originalmente no blog do autor ConsCiência no Dia-a-Dia.