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Se é quarta-feira, proteste

Praga, República Checa, 28/7/2011 – Às sete horas da noite de cada quarta-feira, centenas de habitantes da Bielorússia batem palmas ou fazem soar seus telefones celulares simultaneamente nas principais praças de todo o país. Trata-se do movimento Revolução Mediante as Redes Sociais, criado há nove semanas por cinco estudantes. O fenômeno cresce hospedado no equivalente russo do Facebook, o Vkontakte, supondo uma nova ameaça ao regime do presidente Alexander Lukashenko.

“Este não é o primeiro movimento da tradicional oposição do país. Os participantes são pessoas que jamais se envolveram em ações da oposição e que nunca protestaram antes”, explicou à IPS um de seus fundadores, Mikita Krasnou. “Os habitantes da Bielorússia buscavam novos organizadores, novos representantes. À oposição tradicional também interessa desempenhar um papel neste movimento, e isto a uniu ainda mais”, acrescentou.

A estratégia do grupo confunde as autoridades. No dia 3, por ocasião do desfile do Dia da Independência, a polícia anunciou rígidas restrições aos aplausos: somente poderiam se manifestar desta forma quem fosse veterano ou ex-soldado. Quem descumprisse a medida seria preso. As autoridades também impõem limitações ao uso da internet. Mais de 40% da população tem acesso à rede de computadores, mas os que a usam no local de trabalho, se for uma empresa pública, não podem ter acesso a sites independentes.

Desde o ano passado, os que usam cibercafé precisam apresentar seus passaportes. E desde junho deste ano, todos os sites do país são obrigados a utilizar o domínio local “by”, o que torna mais fácil controlá-los. Todos os serviços da internet dependem do provedor estatal, e a conexão é cara e de má qualidade. Nos últimos tempos, o acesso ao Vkontakte é bloqueado todas as quartas-feiras.

Mas a KGB (serviço de segurança) emprega táticas repressivas mais brutais contra os ciberativistas. No dia 3 deste mês houve muitas prisões. Outras pessoas, cujos celulares foram rastreados para averiguar se foram usados nas principais praças na hora das ações, foram interrogados. Desde que começaram os protestos, cerca de 1.500 pessoas foram detidas, algumas por uns dias e outras condenadas a um ano de prisão.

“Há 15 anos, se alguém pertencia à oposição, ou era político ou combatente, mas agora simplesmente tem de ser um combatente”, disse à IPS Aliaksey Shydlovski, um dos primeiros prisioneiros da fase posterior à independência e cofundador dos movimentos Frente Juvenil e Bizon. Exilado em Praga há dois anos, acredita que “as pessoas que hoje saem às ruas na Bielorússia são mais valentes do que nós, especialmente as mulheres. O regime se tornou mais inseguro e, portanto, mais duro”, afirmou.

A insegurança do regime tem origem, em boa parte, na crise econômica que domina o país desde o ano passado, depois que a Rússia fez disparar o preço do gás no final de 2009. Este ano, a moeda nacional se desvalorizou cerca de 50%, os preços dos produtos básicos aumentaram e a população acumulou vários deles, principalmente alimentos. Sem o apoio do Fundo Monetário Internacional, a Bielorússia recebeu empréstimo de estabilização de US$ 3 bilhões, concedido pela Comunidade Econômica Eurasiática, controlada por Moscou.

As condições para este empréstimo implicam privatizar bens do Estado. Metade da Beltransgaz, empresa nacional de gás natural e infraestrutura, já pertence à russa Gazprom, e o restante de suas ações também pode ser vendido aos russos. Cerca de um quinto do gás russo usado na Europa chega através da Bielorússia. “O que Moscou está fazendo agora é usar as sanções econômicas para enfraquecer Lukashenko e obter o controle da economia da Bielorússia para os oligarcas russos”, disse Raman Kavalchuk, outro líder da oposição da geração da Frente Juvenil.

“Lukashenko cairá com o tempo. Definitivamente, isto exigirá mais que uma mobilização pela internet. Será preciso que sindicatos e iniciativas independentes coloquem milhares de pessoas nas ruas. Mas isto pode acontecer lentamente: a maioria da população não aceitará não voltar a comer carne por conta dos preços proibitivos’, afirmou Kavalchuk à IPS. Vender os bens do Estado à Rússia enfraquecerá o poder do presidente. Porém, sem essa medida não terá como sair da crise econômica que está se voltando contra ele até nos setores da população mais ligados ao presidente, que apreciam a estabilidade econômica que no passado era oferecida pelo regime.

“Os três fatos políticos mais importantes deste ano foram a revelação de que a KGB torturava prisioneiros políticos, os protestos de motoristas contra a alta no preço do combustível e a Revolução Mediante as Redes Sociais”, disse Ales Michalevic, político atualmente exilado na República Checa, após passar dois meses na prisão por se apresentar como candidato nas eleições presidenciais de dezembro.

Krasnou disse que “há diferentes meios para derrubar Lukashenko”. Segundo ele, “primeiro tentamos pela via legal, a fim de não dar ao regime nenhuma desculpa para nos prender e torturar. Agora que temos muitos partidários e pessoas que nos comunicam por meio das redes sociais que estão prontas para se unir e solucionar problemas, tentaremos ir além do apoio maciço a grupos organizados que estejam prontos para trabalhar o tempo todo”. Envolverde/IPS