Uma pesquisa publicada na última edição da revista britânica Journal of Neurology Neurosurgery and Psychiatry aponta que pacientes que procuram um serviço médico de neurologia, e que não recebem um diagnóstico específico para seus sintomas, apresentam piores indicadores de saúde física e mental do que aqueles que têm o nome de uma doença para explicar sua condição clínica.
Quase quatro mil pacientes de diversas clínicas de neurologia da Escócia foram estudados. Questionários para identificação do estado de saúde física e mental revelaram que os pacientes sem diagnóstico tinham piores escores em todas as escalas aplicadas. Além disso, tinham maior chance de estarem desempregados por problemas de saúde e de receberem benefícios financeiros do estado por doença.
Os resultados apontam que pacientes com sintomas que não podem ser atribuídos a um diagnóstico preciso não estão tão bem de saúde, como muitos poderiam imaginar. Estes pacientes são vítimas de estigma e preconceito e frequentemente são interpretados como se estivessem simulando sintomas.
Freud abriu as portas para o entendimento dessa questão e eu fico muito inquieto quando vejo que, um século depois, os profissionais de saúde ainda têm dificuldades em entender que a mente é capaz de provocar sintomas no corpo, levando a condições de saúde nada desprezíveis. Vale lembrar que estes pacientes representam cerca de um terço dos clientes de uma clínica neurológica.
No material disponibilizado ao público leigo, o periódico recomenda aos pacientes com queixas, mas sem um diagnóstico específico, que coloquem em discussão os resultados da presente pesquisa se sentirem que o médico não está conseguindo abordar seus sintomas de uma forma adequada.
* Ricardo Teixeira é doutor em Neurologia e pesquisador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Dirige o Instituto do Cérebro de Brasília.
** Publicado originalmente no blog do autor ConsCiência no Dia-a-Dia.