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Segurança hídrica e alimentar seguem lado a lado

Per Bertilsson, do Instituto Internacional da Água de Estocolmo. Foto: Cortesia do entrevistado

Nações Unidas, 22/8/2012 – “O uso diário da água será essencial para facilitar o crescimento na maior parte do mundo”, disse à IPS o diretor-executivo em funções do Instituto Internacional da Água de Estocolmo, Per Bertilsson, acrescentando que não é possível conseguir a segurança alimentar sem a hídrica. Este será o tema central da Semana Mundial da Água, que acontecerá junto com a conferência mundial anual do Instituto, entre 26 e 31 deste mês, com participações de funcionários da Organização das Nações Unidas (ONU), ativistas, acadêmicos, cientistas, empresários e jornalistas.

“É preciso muito mais trabalho para garantir que comunidades e governos de todo o mundo estejam equipados e capacitados para tomar medidas em tempo, para protegerem seus povos dos impactos de inundações e secas”, disse Bertilsson em entrevista à IPS, concedida em Nova York.

IPS: Qual o significado da segurança hídrica e alimentar como tema principal da Semana Mundial da Água?

Per Bertilsson: Embora existam cultivos mais que suficientes para alimentar os sete bilhões de habitantes do mundo, mais de um terço destes são perdidos ou jogados fora. Só o fato de aumentar a produção de alimentos, não bastará para conseguir a segurança alimentar, e exige grande quantidade de água, que em alguns lugares pode ser mais valiosa se for destinada a outros usos. A segurança hídrica e alimentar está este ano na mira porque não podemos conseguir uma sem a outra. Nos centraremos nas enormes oportunidades de manter uma população mundial sã, sem prejudicar excessivamente os recursos hídricos. Devemos fazer grandes investimentos para aumentar a eficiência agrícola, especialmente no Sul em desenvolvimento, e aproveitar as oportunidades empresariais que existem para reduzir as perdas na cadeia de fornecimento de alimentos. Ajudar as pessoas a desperdiçar menos os alimentos que compra, e a comer de maneira mais saudável, é outra maneira direta de aliviar a pressão sobre os recursos que acarreta importantes benefícios para todas as partes. Durante a Semana Mundial da Água discutiremos os enfoques mais inteligentes para fazer isto, trocaremos experiências e criaremos associações para atuar de modo efetivo nestas frentes. Também debateremos alguns assuntos muito difíceis e polêmicos, como subsídios agrícolas, comércio e aquisições de terras, que claramente têm impacto na segurança hídrica e alimentar, mas há pouco acordo quanto a isto ser para melhor ou para pior. Analisaremos a maneira mais inteligente de regulá-las.

IPS: Se a comunidade internacional não cumprir seus compromissos, quais serão as consequências negativas de uma potencial escassez de água o mundo?

PB: A escassez de água pode restringir a produção de energia e alimentos, e causar alterações importantes nas economias locais e nacionais. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) divulgou, no ano passado, uma pesquisa segundo a qual, se continuarem as tendências atuais, a demanda por água poderá exceder em 40% o fornecimento no prazo de 20 anos. Como a água é essencial para toda atividade econômica e todo sistema ecológico, isto significará importantes retrocessos no produto interno bruto mundial, muitos indivíduos perderão seus meios de sustento, e é possível que aumentem as tensões sociopolíticas. As empresas enfrentarão riscos importantes para seus operários, e por isso estão claramente se tornando muito conscientes e que debaterão em vários encontros na conferência deste ano. Um quinto da população mundial vive em áreas que experimentam escassez de água, e 90% do crescimento da população mundial acontecerá em áreas que já sofrem tensão hídrica. Isto significa que o uso sábio da água será essencial para facilitar o crescimento na maior parte do mundo. Nas regiões em desenvolvimento, as consequências podem ser, inclusive, mais severas. A fome de 2011 no Chifre da África deixou clara a devastação que as secas podem causar, e a função muito importante que a comunidade internacional pode ter na criação de sistemas efetivos de alerta para responder a desastres naturais e a mudanças repentinas ou prolongadas na disponibilidade da água. É preciso muito mais trabalho para garantir que comunidades e governos de todo o mundo estejam equipados e capacitados para tomar medidas com antecedência, para proteger seus povos dos impactos de inundações e secas.

IPS: Existe um papel para a ONU quanto a cumprir o desafio mundial da água? E está à altura das circunstâncias?

PB: A ONU tem um papel importante no confronto de desafios mundiais de todo tipo, o que inclui a água e os alimentos. Várias organizações das Nações Unidas realizam uma grande quantidade de trabalho verdadeiramente incrível no terreno, para dar à população acesso a água limpa e a saneamento seguro, e para gerar e divulgar conhecimentos para melhorar o manejo dos recursos hídricos em todo o mundo. As agências da ONU terão que ampliar seus esforços para garantir que continuem melhorando a coordenação e a colaboração entre suas entidades, bem como com organizações da sociedade civil e governos. O desafio principal de boa parte do trabalho que se faz em matéria de água e desenvolvimento é amplamente reconhecido, e as organizações devem deixar de trabalhar com base em projetos para encontrar ações que possam ser reproduzidas em grande escala. Ainda que a ONU, as organizações da sociedade civil e a comunidade possam contribuir, e o fizerem com um mundo mais sábio em matéria hídrica, mesmo assim será preciso fazer mais, enquanto o desafio continuar tendo esta magnitude. Todas elas dão um apoio crucial e exercem uma poderosa influência sobre governos locais e nacionais quanto a priorizar a governança hídrica. Mas, de todo modo, são os líderes governamentais e empresariais que deveriam liderar o caminho para cumprir o desafio da água. Envolverde/IPS