Sem as micros e pequenas empresas, não há sustentabilidade

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Carlos Alberto dos Santos, diretor técnico do Sebrae Nacional.
Recentemente o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) inaugurou o seu Centro de Sustentabilidade em sua unidade de Mato Grosso. O objetivo é que a unidade seja o ponto focal da gestão do conhecimento sobre essa temática em todo o sistema Sebrae.

Com essa iniciativa, espera-se que as micro e pequenas empresas, a exemplo do movimento que se inicia nas grandes corporações, também adotem boas práticas do ponto de vista socioambiental. Conheça um pouco mais sobre o movimento nesta entrevista exclusiva (feita por email) com o diretor-técnico do Sebrae, Carlos Alberto dos Santos.

Mercado Ético – Quando se fala em responsabilidade socioambiental empresarial logo se pensa nas grandes companhias, cujas emissões e/ou ações são as que mais causam impacto ao meio ambiente e à sociedade. Por outro lado, pouco ou quase nada se fala a respeito das MPE, que representam mais do que 80% dos CNPJ do país. Existe uma estimativa do impacto desse grupo formado por micros e pequenas ao meio ambiente? Como esse universo de empresas pode contribuir para um mundo mais sustentável?

Carlos Alberto dos Santos – As micro e pequenas empresas contribuem ao implementar ações simples de gestão ambiental, como o 5 Menos que são Mais, que orienta a empresa na redução de desperdício de matéria prima, na racionalização do uso de água, energia, entre outros recursos. Consequentemente, vão gerar menos lixo, menos poluição, além de serem mais produtivas, obtendo mais lucro e contribuindo para um ambiente melhor.

ME – Se é verdade que as grandes corporações são as que causam maior impacto socioambiental, também é fato de que é mais fácil para o governo e para a sociedade manterem o olho aberto com relação às suas práticas (não que o façam). Já não se pode dizer o mesmo das MPE, cujas práticas ruins podem passar desapercebidas por, aparentemente, não representarem um risco. O Sebrae vai traçar uma estratégia de conscientização para esse público?

CAS – O Sebrae já dispõe de instrumentos de conscientização, de responsabilidade social; e já desenvolveu e distribuiu cartilhas de responsabilidade social em parceira com o Instituto Ethos. Além disso, ao inserir a MPE na cadeia produtiva de grandes empresas ou como fornecedoras do governo, esses são requisitos impostos por esses mercados que devem ser atendidos. São fatores de indução para a implementação de posturas socioambientais mais corretas pelas MPE.

ME – Seria correto dizer que sem o engajamento das MPE não dá para falar em sociedade sustentável?

CAS – Sim,uma vez que representam 99% de todas as unidades produtivas no País.

ME – Uma empresa de pequeno porte tem fôlego para ser sustentável? Aliás, quanto isso custa para uma pequena empresa?

CAS – Sim, as pequenas empresas têm fôlego para ser sustentável. Elas também podem contar com apoio financeiro em projetos de inovação por meio do Sebraetec – programa que oferece soluções para se desenvolver tecnologias mais limpas. O custo para implementação desses processos vai depender do setor em que atua. Ou seja, tratar de efluentes líquidos é diferente de dispor adequadamente de resíduos sólidos, por exemplo.

ME – As MPE estão realmente abertas à sustentabilidade?

CAS – O Sebrae está fazendo uma pesquisa para conhecer a percepção da MPE em relação ao tema da sustentabilidade. Mas como toda nova temática a ser introduzida no segmento das MPE, deve requerer um esforço do Sebrae no sentido de promover a  conscientização, o que será feito por meio de seminários, workshops, publicações etc. Essa certamente, será uma das agendas do Centro Sebrae de Sustentabilidade.

ME – O termo de referência que vai orientar a atuação do Sistema Sebrae focando na sustentabilidade dos pequenos negócios no Brasil deverá ser concluído até setembro. Quais tipos de orientações constarão nesse documento?

CAS – O termo de referência deve balizar a atuação do sistema na disseminação de temas voltados à sustentabilidade, desde os momentos de sensibilização e mobilização a instrumentos de capacitação e destinação de recursos para implementação de projetos. Inicialmente, esses projetos vão priorizar a eficiência energética, tratamento de resíduos sólidos e adequação das empresas para atender aos marcos regulatórios vigentes. Por outro lado, deverá sinalizar a identificação de oportunidades de negócios verdes, as quais podem ser captadas pelas MPE.

ME – No mês passado, o Sebrae lançou seu Centro de Sustentabilidade. Qual a proposta dessa inciativa?

CAS – O Centro deve ser o ponto focal da gestão do conhecimento sobre essa temática para todo o Sistema Sebrae. Esse centro deverá levantar, armazenar e disseminar as iniciativas desenvolvidas pelo Sebrae nos estados,  realizar benchmarking com  outras instituições e países, identificando as melhores práticas e fazendo sua disseminação para as unidades do Sistema Sebrae, que, por sua vez, irão aplicá-las no atendimento às MPE.

ME – Por que o estado de MT foi o escolhido para receber esse Centro?

CAS – É uma política do Sebrae criar centro de referência localizado em algum estado para, a partir desse ponto focal,irradiar conhecimento sobre determinados temas. Exemplo disso são o Crab – Centro de Referência do Artesanato Brasileiro, no Rio de Janeiro, e o Sebrae CDT/AL – Centro de Desenvolvimento de Tecnologias para Integração Transfronteiriça de Micro e Pequenas Empresas do Mercosul e América Latina, instalado em Foz do Iguaçu (PR), que atende as iniciativas de integração produtiva de MPE brasileiras com entidades congêneres ao Sebrae nos dez países limítrofes. No tema da sustentabilidade, o Sebrae em MT tem alto grau de consciência ambiental e teve a iniciativa de provocar a ampliação desse debate junto ao Sistema Sebrae.

ME – Do ponto de vista dos envolvidos na iniciativa, sustentabilidade ambiental é mais do que reflorestar ou reciclar, e não o fim do consumo em si. O Como o senhor vê isso?

CAS – Do ponto de vista da sustentabilidade ambiental,  a mudança de cultura e de postura de toda a sociedade em todos os níveis é uma necessidade premente, não apenas no ambiente empresarial. Os desastres climáticos que temos testemunhado, de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, por exemplo, são conseqüências diretas de atitudes ambientais que necessitam revisão. Questões como essas, além de avanços na Agenda 21, na redução do aquecimento global, dentre outros, são temas que estarão em debate na Rio +20, em 2012.

* Publicado originalmente no site Mercado Ético.