A última semana foi marcada por alguns fatos da maior importância:

1º) A decidida aplicação (com amplo apoio da sociedade) de um aditivo anticorrupção no combustível do Ministério dos Transportes;

2º) A forte indução do governo para que a Petrobras e a Vale enfrentem com determinação o problema do potássio;

3º) E, não menos importante, a adequação do orçamento da Petrobras nos termos da sugestão do ministro da Fazenda, Guido Mantega, à presidente Dilma Rousseff. Isso reduzirá a pressão inflacionária no curto prazo e dará tempo para melhorar as condições de competição do equipamento nacional na exploração do pré-sal.

Os três fatos revelam a recuperação de uma visão de longo prazo absolutamente necessária para que o Brasil possa resolver o seu verdadeiro problema: construir uma estrutura produtiva eficiente, capaz de gerar bons empregos aos quase 150 milhões de brasileiros que, em 2030, terão entre 15 e 65 anos. Isto deve ser feito com equilíbrio interno e externo.

Não faremos isso com o modelo agromineral-exportador energizado pelo desenvolvimento da China. Para tal modelo fomos descuidadamente empurrados.

Sua justificativa é a míope construção teórica que afirma que caminhamos para a “harmonia universal” produzida pelo funcionamento de uma natural “divisão do trabalho” construída pela globalização.

Teremos a paz perpétua: para uns (Estados Unidos, Alemanha, China…), a indústria; para outros (Reino Unido, Índia…), os serviços; e para os demais (Brasil, Canadá, Austrália…), a agricultura e a mineração.

Para alguns países, isso talvez seja uma fatalidade. Não é, seguramente, o caso brasileiro. Sua aceitação não levará à estrutura produtiva que precisaremos até 2030. Para nós, só a ação de um Estado indutor inteligente (e eficiente!) estimulará a sua construção.

A regra de ouro da sua ação deve ser: forte estímulo à competição doméstica entre as empresas, com adequadas medidas microeconômicas que permitam-nas disputar com eficiência nosso crescente mercado interno. E mais: condições macroeconômicas que lhes deem isonomia para complementar na margem, com decrescente proteção, os ganhos de dimensão necessários para enfrentar a competição do mercado externo.

Atrair a montadora chinesa Chery, que começa a se instalar em Jacareí (SP) e vai ampliar a competição também no setor de autopeças e ajustar a velocidade dos investimentos da Petrobras de forma a criar a capacidade para atendê-los (com indústrias nacionais ou estrangeiras aqui instaladas), é um exemplo da política que temos de praticar: concorrência interna impiedosa e proteção externa inteligente.

* Delfim Netto é economista, formado pela Universidade de São Paulo e professor de Economia, e foi ministro de Estado e deputado federal.

** Publicado originalmente no site EcoD.