Será que os arquitetos estão com síndrome de Narsico?

Observando os novos edifícios comerciais, principalmente as “Business Towers” localizadas nas regiões nobres da cidade de São Paulo, me dá a impressão de que os arquitetos estão sofrendo de síndrome de pastel. Quase todos os espigões, sem considerar as características das localizações ou a diversidade do bairro, tem a fachada espelhada.

Atualizado em 18/12/2013 às 11:12, por Ana Maria.

Observando os novos edifícios comerciais, principalmente as “Business Towers” localizadas nas regiões nobres da cidade de São Paulo, me dá a impressão de que os arquitetos estão sofrendo de síndrome de pastel. Quase todos os espigões, sem considerar as características das localizações ou a diversidade do bairro, tem a fachada espelhada.

Como essa iguaria tão popular nas feiras-livres, muda apenas os recheios desses empreendimentos, mas o lado de fora, a embalagem, é quase igual. Houve um tempo em que os projetos arquitetônicos eram desenvolvidos por profissionais que pensavam e concebiam os seus projetos para além de uma tendência mercadológica.

Ao circular pelas principais avenidas de Sampa o que se vê é a repetição de um modelo ou de um padrão de arquitetura pouco dialogo com as características da vida urbana. Não importa se o prédio será erguido na Av. Paulista ou na Av. Luís Carlos Berrini. O acabamento com espelhos verdes, cinza o fumê, será o mesmo.

Não sou arquiteto e talvez esteja escrevendo uma grande bobagem. Talvez a utilização de vidros espelhados na fachada desses prédios “Up to date” seja mais “sustentável”, por permitir que a luz natural incida no ambiente interno durante um tempo maior, economizando energia. Mas não muda a minha percepção de que existe uma preguiça criativa ou pressão das incorporadoras para baratear a construção. Sei lá.

Olhando esses “prediões”, todos iguais, um ao lado do outro, fico com a sensação de que estamos usando mal a nossa capacidade de ousar e de instigar diferentes soluções para os nossos desafios arquitetônicos. Vai ver que esses profissionais estão com síndrome de Narciso. Por aqui, fico. Até a próxima.

Leno F. Silva escreve semanalmente para Envolverde. É sócio-diretor da LENOorb – Negócios para um mundo em transformação e conselheiro do Museu Afro Brasil. É diretor do IBD – Instituto Brasileiro da Diversidade, membro-fundador da Abraps – Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade, e da Kultafro – rede de empreendedores, artistas e produtores de cultura negra. Foi diretor executivo de sustentabilidade da ANEFAC – Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. Editou 60 Impressões da Terça, 2003, Editora Porto Calendário e 93 Impressões da Terça, 2005, Editora Peirópolis, livros de crônicas.


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