Desde criança eu tenho alguma dificuldade em lidar com processos altamente sofisticados. De raciocínio simplista, o menino cresceu sempre procurando um botão verde pra ligar e um vermelho pra desligar. Objetividade nos propósitos + simplicidade na ação geravam bons resultados até então.
Em avançada fase da adolescência – quando passamos a “descobrir o mundo” – tive uma sensação de ser ridículo ao viver e expressar com tanta simplicidade sentimentos, gestos e ações, enquanto o mundo parecia demasiadamente sofisticado. Já na fase adulta, ouvi uma frase que me chocou profundamente e fez com que eu parasse e refletisse. A frase é de um daqueles colegas que ´somem do mapa´ e deles não se tem mais notícia. “No Brasil costuma-se criar dificuldades para se vender facilidades”. Como ele era mais velho que eu, parei, ouvi e fiquei processando a informação nova p´ra ver o que dela eu aprenderia.
A vida seguiu e vi que esta frase cabe bem em diversas situações da vida. Não só no Brasil, diga-se, mas especialmente aqui no país em que vivemos.
Pois, volto à simplificação. Jornalista, eu me encontrei na profissão. Cada vez que tenho de passar uma mensagem simples, clara e direta eu me regozijo. Quando brinco com uma criança menor de seis anos fico extasiado com a simplicidade de raciocínio e ação dela. Simplificando, a vida flui mais fácil. Pessoas tornam-se mais transparentes.
E se a gente estender a simplificação para outros campos vai ver que a coisa funciona. Já ouvi de juristas que a Lei Áurea, ou a Lei da Abolição, é a peça jurídica mais perfeita que se produziu em terras tupiniquins. Ela traz apenas um Artigo. Um único artigo. E logo abaixo “revogam-se as disposições em contrário”. Apenas isso. E funcionou!
Nas modernas organizações estão sendo suprimidos escalões intermediários, economizando-se processos e gente à toa. Pede-se mais formação e envolvimento do colaborador, com atitudes mais simples e objetivas. A explosão da mídia social também pode ser parâmetro nesta abordagem. O twitter, com seus revolucionários 140 caracteres, ganhou corações e mentes no mundo todo.
E se tudo pode ficar tão mais simples, por que então complicar o nível de informações das empresas com seus stakeholders? Atualmente as companhias abertas têm uma área de Relações com Investidores, uma outra de Comunicação Corporativa, o RH e por aí vai. Cada uma delas processa um tipo de informação para seus públicos específicos.
A companhia aberta produz o Relatório de Administração, o Relatório Social, o Relatório Anual, o Relatório de Sustentabilidade e (UFA!), o moderno Formulário de Referência. Isso para se dizer o mínimo. E se tudo isso tem como objetivo explicar como a empresa se relaciona com a sociedade (incluso aqui governo e órgão fiscalizador) e atender aos interesses do investidor, por que não se partir para a SIMPLIFICAÇÃO DOS RELATÓRIOS também?
Em outras palavras, o que falta para caminharmos rumo ao modelo do Relatório único? Em recente palestra na cidade de São Paulo, Ernst Ligteringen, executivo-chefe da GRI, organização que trata de parametrizar os relatórios enfocados na sustentabilidade, defendeu a consolidação do Annual Report com o GRI, endossando o que chamou de tendência no mundo corporativo internacional. Mais que isso, Ligteringen declarou: “Ideia nossa é simplificar o modelo, trabalhando a sua essência, mas este terá de ser amigável com a linguagem dos outros relatórios, a fim de consolidarmos tudo em única peça”.
Eu não o conhecia pessoalmente ainda, mas saí de lá afirmando: “O Ernst é dos meus!”. Na minha visão de mundo, quanto mais simplificarmos as coisas, maior transparência existirá. Isso vale para tudo, a fim de que a vida flua da maneira mais natural possível. Revogam-se as disposições em contrário.
* Nelson Tucci é jornalista, sócio diretor da Virtual Comunicação e Colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre Sustentabilidade.
** publicadeo originalmente no site Plurale.