No fim de semana escrevi para a Kirsty Lou, uma inglesa de 24 anos que escreve o blog Fatty Unbound, título que pode ser traduzido por algo como “Gordinha Descolada” ou “Gordinha sem Amarras”. Encontrei um texto dela sobre pedalar e ser gordinha, de agosto de 2010, linkado no Daily Bike na semana passada, por dica do LostArt no twitter. Pedi autorização para traduzir e publicar no Outras Vias, ela se disse feliz e contou que anda surpreendida com o tanto de gente que tem reproduzido o que escreveu. Em um mundo baseado em padrões de beleza rígidos e em que as atividades físicas são cada vez mais vistas como algo exclusivo para atletas, as palavras desta elegante garota fazem diferença.
E, sim, isto tem tudo a ver com mobilidade urbana. Arrasa, Kirsty!
Pedalando gordinha
“Conheça Gertrude. Gertrude é uma Raleigh Urban 2, herdada recentemente de um dos meus pais, que achou que ela não era a bicicleta mais adequada para ele. Ela é simplesmente a pior bicicleta para alguém do meu tamanho, e para dizer o mínimo, a gente se estranha (eu ficaria bem feliz em trocá-la por uma dessas ‘Dutch/town bike‘*)
Entretanto, como eu realmente adoro pedalar, a gente tem se entendido. Esta é minha primeira bicicleta depois de uns oito anos (!) (tive uma faz pouco tempo, mas ela foi roubada na primeira volta que dei, FDP) e estou me costumando ao ciclismo urbano. Onde cresci, a maioria dos lugares para os quais eu precisava ir poderiam ser alcançados sem passar por ruas movimentadas ou avenidas mesmo, então, na verdade, sou uma ciclista urbana tensa ainda. Yorkshire é cheia de subidas, particularmente se comparada com Surrey, então é bem mais difícil pedalar por aí! Mas, definitivamente, estou me divertindo até agora.
Uma coisa que notei pedalando é que, por ser gordinha, parece que inspiro um monte de comentários bem horríveis. Hoje à tarde mesmo, ao dar uma volta lá pelo bairro de Headlingley, fui vaiada e também alguém gritou que tinha pena da minha bicicleta. Estou tentando não ficar com raiva/triste/me afetar por esses comentários, mas alguma coisa desta vez me baqueou. Eu sou feliz com meu corpo, e estou feliz por estar me exercitando de novo. Quando alguém faz esse tipo de comentário, tenho a impressão de que querem que eu me tranque em algum lugar – o que não é visto, não é lembrado. Por acaso o meu peso me proíbe de ter o direito de ser ativa, de sair de casa, de aparecer na frente dos outros? Às vezes me pergunto isso, especialmente por que é difícil achar shorts de ciclismo e outras roupas para praticar esportes por um preço razoável num tamanho maior.
Seja como for, não vou parar de andar de bicicleta, nem vou fazer meu corpo ficar invisível para aqueles que se ofendem com ele.”
* Difícil traduzir (sugestões são bem-vindas), já que ela está falando de um modelo específico.
PS1 – A ajuda da querida Josi Paz na tradução foi decisiva para esse post sair. A versão final e, portanto, a responsabilidade por qualquer incorreção ou imprecisão é minha.
PS2 – A versão na íntegra do texto, com informações sobre as roupas da foto, pode ser lida em inglês aqui.
** Publicado originalmente no blog Outras Vias.