Manila, Filipinas, 30/8/2012 – As inundações deste ano, das piores na história das Filipinas, destruíram plantações no valor de US$ 57 milhões, levando este país tão vulnerável à mudança climática a implantar medidas de redução de risco de desastres. “Costumávamos programar nossa temporada de colheita em torno dos meses úmidos e secos. Agora, nunca se sabe”, disse Teresita Duque, produtora de arroz da província de Nova Écija, na região de Luzon Central, “o celeiro de arroz” do arquipélago. “O céu escurece de repente e as chuvas simplesmente caem”, contou à IPS esta mulher, que em seu estabelecimento usa variedades nativas de arroz e fertilizante ecológico, em entrevista feita em Manila.
As chuvas de monção, potencializadas pelo tufão Haikui perto da China, já haviam inundado por vários dias Luzon, a principal ilha das Filipinas, quando, a partir dos dias 6 e 7 deste mês, caíram as chuvas que deveriam cair durante quase dois meses sobre a região metropolitana de Manila e em várias províncias de Luzon. Pelo menos 95 pessoas morreram nas inundações posteriores e nos deslizamentos de terra, e quase um milhão foram obrigadas a abandonar suas casas.
Enquanto o país tenta superar anos de atraso agrícola e conseguir autossuficiência alimentar, agricultores, organizações da sociedade civil e agências do governo tentam traçar estratégias que possam mitigar os efeitos de padrões meteorológicos enlouquecidos. Cientistas do Instituto Internacional de Pesquisa do Arroz (Irri), com sede em Los Baños, Laguna, acreditam que uma variedade de arroz resistente às inundações e conhecida como “submarino”, por sua capacidade de suportar duas semanas debaixo de água, pode ser uma resposta.
No ano passado, quando os tufões Nessat e Nalgae devastaram Luzon Central, os agricultores que haviam plantado “submarino” conseguiram colher mesmo depois de terem suas plantações submersas durante quase uma semana. Glenn Gregorio, cientista do Irri, disse à IPS, por telefone, que nesse instituto são desenvolvidas numerosas variedades de arroz “prontas para a mudança climática”, e que incluem as resistentes às secas. “Quando se fala de inundações no país é comum se ver imagens de áreas urbanas com carros boiando e pessoas desesperadas nos terraços, mas os agricultores são, realmente, os mais prejudicados”, declarou.
A organização de agricultores de Sarilaya concorda que, apesar de nas Filipinas ser necessário que a agricultura se adapte à mudança climática, é melhor empregar variedades nativas naturalmente resistentes, em lugar de buscar híbridos desenvolvidos em laboratórios. Os trabalhadores de Sarilaya disseram que as variedades híbridas dependem de fertilizantes químicos caros, que no longo prazo arruínam solo e prejudicam a saúde de agricultores e comunidades.
“Os padrões meteorológicos extremos estão deixando o setor agrícola mais vulnerável do que nunca”, advertiu Pangging Santos, encarregado de lobby em Sarilaya. “O que antes se considerava normal, já não é”, acrescentou. “Há muitas variedades nativas diferentes que ainda devem ser testadas, mas a experiência de nossos agricultores mostra que, no longo prazo, as variedades nativas são mais sustentáveis do que as híbridas”, afirmou Santos à IPS.
Sarilaya administra uma escola e estabelecimentos ecológicos modelo em Luzon do Norte, onde os produtores aprendem a preparar seu próprio fertilizante orgânico. Ali se ensina aos agricultores a elaborar pesticidas a partir de ingredientes disponíveis no lugar, em vez de comprar caros inseticidas baseados em substâncias químicas. Teresita Duque afirmou que gastava pelo menos US$ 223 em insumos agrícolas para uma colheita, e agora gasta menos de US$ 16, principalmente em fertilizantes e pesticidas orgânicos. “Precisamos mudar nossa mentalidade em relação às estratégias sobre a mudança climática, e nos fixarmos na sustentabilidade de longo prazo”, opinou.
A estratégia de Sarilaya em promover a agricultura orgânica segue a visão de uma “agricultura climaticamente inteligente” e que é promovida pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Hideki Kanamaru, da FAO, observou que a agricultura climaticamente inteligente tem a ver com uma sustentabilidade que aumente a produtividade. E também com a adaptação e mitigação da mudança climática, ao reduzir os gases-estufa derivados da produção agrícola sem comprometer a segurança alimentar.
Kanamaru apresentou a visão da FAO durante um simpósio realizado em fevereiro pelo Departamento de Agricultura das Filipinas, do qual participaram políticos, cientistas e profissionais das nações do Fórum de Cooperação Econômica na Ásia-Pacífico (Apec) e de algumas organizações. A essência da proposta da FAO é um cuidadoso uso dos recursos naturais, como os solos, a água e o material genético, bem como boas práticas que incluem agricultura para a conservação, manejo integrado das pestes, agrossilvicultura e dietas sustentáveis.
Embora o governo dê sementes de arroz gratuitamente e seguro de cultivos aos agricultores de Luzon, onde as fortes chuvas e inundações prejudicaram duramente as colheitas, a comissão de mudança climática do país admite que pode ser muito tarde para cumprir os objetivos deste ano em matéria de rendimento do grão. Em 2010, as Filipinas lideraram a lista de importadores de arroz, quando comprou até 2,5 milhões de toneladas. Embora os esforços para conseguir a autossuficiência tenham reduzido esse número para 860 mil toneladas em 2011, os planos para diminuir ainda mais as importações fracassaram.
O plano nacional de ação contra a mudança climática sustenta que a sensibilidade às variações meteorológicas “afetará muito a produção do país e terá um efeito dominó sobre nosso objetivo de autossuficiência até 2013”. Segundo o plano, o fato de este país ser um arquipélago, e por sua localização, “o torna um dos mais vulneráveis aos impactos da mudança climática”, ocupando o primeiro lugar mundial “em termos de vulnerabilidade à ocorrência de ciclones tropicais”. Quando, no dia 17, o presidente Benigno S. Aquino III aprovou a lei que cria o Fundo de Sobrevivência do Povo, ao emendar a Lei de mudança climática de 2009, não se tratou de uma decisão prematura.
“Como vimos claramente nas últimas semanas, há uma urgente necessidade de apoiar financeiramente os esforços de prevenção de desastres das unidades de governos locais”, disse a senadora Loren Legarda, uma das principais incentivadoras da lei de 2009, no lançamento do Fundo. No valor de US$ 23 milhões anuais, o Fundo financiará programas e projetos de adaptação baseados no Contexto Estratégico Nacional sobre Mudança Climática. O Fundo também poderá alimentar-se de doações e outros tipos de contribuições.
“A assinatura da lei significa que o presidente está comprometido em preparar melhor o país para os variáveis padrões meteorológicos e para a mudança climática”, disse Elpidio Peria, representante da Aksyon Klima, uma coalizão de 40 organizações da sociedade civil dedicadas a este fenômeno. A Klima divulgou este mês um manual eletrônico para incluir nas políticas as técnicas de redução de riscos e adaptação à mudança climática, para ajudar os governos locais a traçarem planos para casos extremos. Envolverde/IPS
* Com a colaboração de Art Fuentes.