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Soldados chadianos se unem à batalha pelo norte de Mali

Soldados de Mali aprendem logística com as Forças Especiais do exército dos Estados Unidos. Foto: US Army Africa/CC-BY-2.0

Niamey, Níger, 28/1/2013 – Um contingente militar do Chade partiu da capital de Níger para se unir às forças de outros países africanos e francesas, que lutam contra grupos islâmicos armados que dominam o norte de Mali. Na área operam grupos armados da Al-Qaeda no Magreb Islâmico (AQIM), do Movimento pela Unidade, da Jihade na África Ocidental e Ansar Dine. “Neste momento o exército do Chade é o melhor da África”, disse um entusiasta Boubacar Tidjani, jovem do Níger estudante de relações internacionais, ao anunciar a chegada, no dia 18, das tropas desse país a Niamey, capital de Níger. “É simples: eles sempre conheceram a guerra, e mais, estão orgulhosos. Admiro-os por isso”, afirmou.

O governo do Chade enviará um total de dois mil soldados para apoiar as tropas francesas e do Mali que lutam contra grupos insurgentes no norte deste país, e se prevê que mais soldados da Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental se unirão à operação. A participação de soldados chadianos, que partiram no dia 22 de Niamey, despertou esperanças de que a crise no Mali chegue rapidamente ao fim. “Se os islâmicos do norte de Mali são fanáticos, em poucos dias encontrarão no deserto outros ainda mais loucos do que eles”, disse um dos soldados do contingente do Chade à Rádio France Internacional.

O exército chadiano tem experiência em combates em clima desértico, sufocando numerosas rebeliões internas em um entorno árido idêntico ao do norte do Mali. O Chade também travou e ganhou uma guerra de fronteira com a Líbia entre 1983 e 1987. Suas forças, de um total de 30 mil homens, participam regularmente na luta contra insurgência nos países vizinhos. A última intervenção foi em dezembro de 2012, em apoio ao governo da República Centro-Africana contra os rebeldes de uma coalizão conhecida como Seleka. As forças armadas do Chade também poderiam fornecer poderio aéreo, com seis caça-bombardeiros Sukhoi e vários helicópteros Mi-17 e Mi-24.

Durante uma entrevista coletiva, no dia 19, em Niamey, dada pela organização não governamental Alternativa Níger para falar sobre as consequências regionais da intervenção militar no norte de Mali, seu secretário-geral, Moussa Tchangari, lembrou a possibilidade de ser aberta uma segunda frente no norte de Níger, para cercar os grupos extremistas com os exércitos de França e Mali. Ao se dirigir aos presentes durante a coletiva, o pesquisador Olivier de Sardan, do Laboratório para os Estudos e a Pesquisa sobre Dinâmica Social e Desenvolvimento Local, com sede em Niamey, explicou que o norte de Mali e o norte de Níger são contíguos, o que gera o temor de que o próximo objetivo desses grupos seja este último país.

Especialistas afirmam que o exército de Níger não tem a mesma efetividade que o do Chade, apesar de sua frequente participação em operações contra insurgentes em sua fronteira com o Mali. Níger espera fornecer apenas 500 soldados à Missão Internacional em Mali. Segundo analistas, o reforço dado pelo Chade é bem-vindo. Contudo, duas preocupações pairam sobre a participação desse país. A primeira se vincula às acusações de abusos contra civis por parte dos soldados. A organização Human Rights Watch colheu depoimentos sobre esses ataques cometidos durante a intervenção do Chade na República Centro-africana em 2008.

A segunda tem a ver com as possíveis repercussões para o próprio Chade. Em diálogo com a Deutsche Welle Radio, da Alemanha, a especialista em política Helga Dickow, do Instituto Arnold Bergstraesser, de Friburgo, disse que o “Boko Haram já ameaçou diretamente o presidente Idriss Déby com a desestabilização do Chade caso enviasse tropas ao Mali”. Boko Haram é o grupo extremista islâmico atualmente ativo no norte da Nigéria e que tem vínculos com a AQIM. Envolverde/IPS