“O problema da Copa do Mundo não são os estádios, é a mobilidade urbana. O resto é picaretagem para demolir e construir estádios”, afirmou o urbanista Jaime Lerner, para deleite da plateia que assistia à sua palestra de abertura da Conferência Internacional de Cidades Inovadoras (CICI2011), em Curitiba, capital paranaense onde Lerner fez história como prefeito. Lerner, que trabalha num projeto para promover a conexão entre metrôs e ônibus para as Olimpíadas de 2016, criticou os gastos com estádios e fez alusão à fracassada demolição do estádio Mané Garrincha, esta semana, em Brasília. Seu talento como palestrante e o didatismo bem-humorado com que transmite seu olhar de arquiteto e planejador urbano arrebatou a plateia da CICI. “É muito difícil ter uma cidade inovadora sem sociodiversidade. Não é com condomínios e guetos de gente rica de um lado e gente pobre de outro que teremos uma cidade inovadora. Para ser inovadora, tem que fomentar a diversidade e a tolerância”, argumenta.
Pelo segundo ano consecutivo, Curitiba sedia a CICI, uma iniciativa do Sistema Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná) que traz especialistas de todo o mundo para debater novas tecnologias, relatar inovações e articular redes onde as experiências de diferentes regiões do planeta possam ser compartilhadas. Entre os palestrantes internacionais, o que mais vem sendo aguardado é o físico austríaco Fritjof Capra, autor de “Ponto de Mutação”, cuja apresentação está prevista para a noite de quinta-feira.
Prosperidades locais
Neste ano a conferência tem público estimado de 3 mil pessoas, entre eles cerca de 800 gestores de cidades. “A busca pela inovação tem que ser um fenômeno endêmico, que esteja em toda parte. Assim teremos competência instalada para identificar caminhos de acordo com a peculiaridade de cada localidade”, afirmou Rodrigo da Rocha Loures, presidente do sistema Fiep, resumindo o objetivo do evento que até sexta-feira vai discutir modelos sustentáveis de desenvolvimento urbano. Loures ressaltou a importância de cada município buscar soluções para seu crescimento. “O progresso passa a ser a soma das prosperidades locais, mais do que a ilusão de que o governo central vai proporcionar meios e caminhos para a resolução dos problemas”. Ele conclamou os interessados no tema, a não apenas assistir às palestras, mas a participar da revitalização de suas cidades e a organizar suas redes sociais. “Temos de ser agentes propagadores e atuar pensando numa nova dimensão, que leve a sociedade a uma mudança cultural. A humanidade como um todo precisa ser inovadora”, argumentou.
Dentro do movimento cidades inovadoras há duas iniciativas em curso sendo articuladas pelo Sistema Fiep. Uma é o programa Cidades 2030, que busca definir estratégias e caminhos para as cidades tornarem-se inovadoras até 2030. O projeto Curitiba 2030 já tem estudo concluído e as etapas de implantação das medidas serão tratadas durante a CICI 2011. Também está pronto o estudo Londrina 2030, que será lançado durante a conferência. A outra iniciativa, o programa do Sesi Paraná de formação de agentes de desenvolvimento local, capacita universitários para atuarem em suas localidades. Lá, eles implantam a metodologia que permite aos moradores sonharem, definirem e participarem das ações de melhoria e sustentabilidade local.
Sonho coletivo
E sonho, segundo Jaime Lerner, é ingrediente primordial na receita da inovação. “Sem sonho, uma cidade não pode ser inovadora. O que faz acontecer um sonho coletivo? Como se muda uma realidade?”, pergunta. Para o arquiteto, é preciso propor um cenário, uma idéia e, principalmente, começar. “A proposta inicial pode nascer da comunidade, dos responsáveis políticos, não importa, uma proposta complementa a outra”, assinala.
Para Rocha Loures, se cada um, ao final da CICI, levar para sua localidade elementos que a tornem melhor, o evento terá contribuído para a construção de um mundo melhor. O sonho de todos nós. (Envolverde)