“A educação ambiental é um processo permanente no qual os indivíduos e a sociedade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, habilidades, experiências, valores e a determinação que os tornam capazes de agir individual ou coletivamente, na busca de soluções para os problemas ambientais presentes e futuros.” — Resolução da Unesco — 1987.
Vinte e quatro anos depois, podemos afirmar que pouca coisa mudou em relação ao que recomenda esta resolução tão importante para a consciência das pessoas e a sustentabilidade.
Educação ambiental é obrigatória em todos os níveis escolares na maioria dos países desenvolvidos e em desenvolvimento e, no Brasil o é pela Lei 9.795, votada e aprovada pelo Congresso em 1999 como matéria transversal , pluralista e permanente. Apesar disto, o que se vê na hora de aplicar os princípios de conservação da vida nos bancos escolares, é diametralmente oposto ao que ocorre na realidade dos frenéticos mercados de bens de consumo e serviços.
A sociedade na sua busca pelo desenvolvimento, “sabe” dividir muito bem suas linhas de interesse: a produção dos bens de consumo e a oferta de serviços ocorrem em progressão geométrica, enquanto a consciência e o fundamento da preservação de recursos, do uso da água e da energia — que deveriam ser conhecimentos permanentes e sustentáveis — ocorrem em progressão aritmética, comprometendo a vida no planeta de forma definitiva e inexorável.
Tudo que produzimos, consumimos e usamos, explorando os recursos naturais, tem origem no próprio planeta — a Terra é uma imensa nave, uma joia única e rara no universo, mas é um sistema fechado —, com exceção da energia solar que é abundante e vem de fora, todo o resto, significa degradação e perdas para o frágil sistema de vida aqui existente. Este princípio básico e elementar deveria ser o ponto de partida para mudarmos o pensamento das futuras gerações por meio da escola.
No entanto, o sistema de passagem de conhecimentos socioambientais praticado na grande maioria das escolas é incipiente, fraco e permissivo a ponto de nos levar a compará-lo aos períodos negros da história do homem em que a falta de conhecimento e discernimento eram garantia de longos e tranquilos reinados e impérios. Hoje, temos a nos dominar o império da ganância, do conforto e do desperdício para poucos, o império da miséria, da fome e da sede para a grande maioria e, o aquecimento global e o desequilíbrio ambiental para todos.
Só mesmo a formação permanente de cidadãos, com conhecimento e discernimento suficientes para colocar suas novas consciências a serviço da vida, pode dar nova cara à preservação e proteção ambientais e ao desenvolvimento sustentável. Isto (a consciência) será, na verdade, o divisor de águas na hora de recusar ações, da própria sociedade ou dos governos, que não contemplem uma gestão socioambiental correta.
Sabemos que esta mudança pode não ser uma tarefa fácil, nem rápida, porém — já que a escola é o espelho da sociedade —, é preciso começá-la de forma prioritária e definitiva o mais breve possível para que os seus reflexos não sejam tardios.
Os planos curriculares contemplam a educação ambiental ainda de maneira acanhada, inserindo em cada disciplina pequenos trechos, como se a matéria fosse de menor importância. Estimulam em excesso o estudo de flora e fauna, como se fossem os únicos elementos do planeta e esquecem das relações do principal agente no meio ambiente, o homem, que degrada e também pode preservar e proteger recursos.
Assim, estas mazelas vão se somando e se perpetuando no sistema de ensino, refletindo mais tarde no pensamento enviesado da sociedade sobre preservação e conservação da vida e dos recursos naturais.
É imprescindível abrir mais espaços nas disciplinas já obrigatórias, para o tema Educação Ambiental cujo objetivo final — a preservação e manutenção da vida para todos — é maior que todos os outros, ou até mesmo, criar na grade curricular uma disciplina específica e transversal com carga horária semelhante às outras e apropriada para formar cidadãos com consciência suficiente para reverter o quadro degradante da atualidade.
Em conjunto com estas medidas, é preciso melhorar e ampliar a produção intelectual de livros, publicações, pesquisas e experiências práticas, cuja finalidade seria não só resolver problemas socioambientais, mas também repassar as ações como conhecimento por meio da escola.
Educação ambiental é um tema amplo, vasto e importantíssimo, cujos conteúdos podem transitar desde noções elementares para os primeiros anos do ensino, até conceitos avançados de alta tecnologia para o ensino superior.
Não podemos esperar, temos de agir decisivamente para que novos conhecimentos e novos valores, aliados à vontade individual e à vontade política, tragam-nos soluções permanentes para os problemas ambientais de hoje e do futuro.
* Francisco Pincerato é ambientalista e autor de livros, gibis didáticos e jogos pedagógicos sobre educação ambiental. Tem obras adotadas por várias prefeituras, pelo Instituto Ayrton Senna, e empresas em campanhas de educação e saneamento ambientais.