Arquivo

Sri Lanka emerge como plataforma de tráfico humano

Desesperados cidadãos cingaleses e de outros países utilizam embarcações precárias para buscar um futuro no estrangeiro. Foto: Amantha Perera/IPS

Colombo, Sri Lanka, 11/7/2012 – Os viajantes com passaporte paquistanês ou afegão devem enfrentar um procedimento de imigração extremamente longo quando chegam ao Sri Lanka. É que as autoridades ficaram bastante cuidadosas após confirmar que este país serve de escala para o tráfico de pessoas com destino à Austrália. “Temos medidas de segurança específicas para interrogar afegãos e paquistaneses”, disse à IPS o diretor da divisão contra o tráfico de pessoas do Departamento de Imigração, Prabath Aluthge.

Em uma reunião sobre tráfico humano, o Instituto de Imprensa do Sri Lanka revelou que 25 pessoas com passaporte afegão foram deportadas nos últimos tempos, e que 250 infringiram nos últimos cinco meses os direitos de visto de entrada. São raros os casos de estrangeiros com passaporte cingalês falso para entrar e solicitar asilo, mas existem. Várias das 970 pessoas deportadas da Grã-Bretanha para o Sri Lanka desde 2009 eram cidadãos indianos que, depois, foram enviados ao seu país.

No entanto, a atual tendência de centenas de pessoas fazendo escala no Sri Lanka é nova, disseram à IPS membros das forças de segurança locais. Uma embarcação com 200 afegãos e iranianos, que virou no dia 21 de junho na altura da Ilha de Navidad, a 2.600 quilômetros da costa australiana, deixou 90 mortos. Suspeita-se que o barco procedia do Sri Lanka, embora sejam raras as travessias deste país para a Austrália, de mais de oito mil quilômetros. Antes, os solicitantes de asilo iam para a Tailândia e Indonésia como lugar de trânsito.

Isso parece ter mudado. Agora, “o Sri Lanka foi identificado como lugar de trânsito por traficantes de pessoas”, alertou Aluthge. O aumento de incidentes com estrangeiros que chegam ao Sri Lanka para embarcar rumo a outro país coincide com a identificação das autoridades de segurança nacional de cidadãos cingaleses que seguem pelo mesmo caminho perigoso. A polícia fez uma série de detenções nos últimos meses.

No dia 12 de maio, 113 pessoas foram detidas em Colombo quando eram levadas a um porto para embarcarem. Um mês depois, a Marinha deteve 53 pessoas em um barco a 60 milhas da costa deste país. Grupos menores também foram pegos. Na última semana de junho, cinco pessoas acabaram detidas perto da cidade de Kataragama. “Estamos registrando muitos casos de tráfico humano”, disse à IPS o porta-voz da polícia, Ajith Rohana. “Dos solicitantes de asilo do Sri Lanka, 90% pertencem à minoria tamil e às comunidades muçulmanas”, acrescentou.

As autoridades de migração australianas negaram-se a fornecer dados sobre a quantidade de embarcações que chegaram este ano do Sri Lanka, por razões de segurança, segundo disseram. Contudo, fontes não oficiais indicam que no final de junho 72 barcos foram detectados ou chegaram à Austrália. Houve 5.242 chegadas. Estatísticas do Departamento de Imigração e Cidadania da Austrália revelam que no final de maio havia 682 cingaleses em centros de detenção desse país, 14% do total de 4.906 pessoas.

No entanto, o maior grupo de pessoas nessa situação é de origem afegã, e representa 41% do total, seguido dos cingaleses. A informação australiana também revela um incomum aumento dos solicitantes de asilo que chegam por mar a partir de janeiro de 2010. De menos de 500 pessoas que havia em janeiro de 2009, subiu para 6.500 no mesmo mês de 2011. A prolongada guerra civil no Sri Lanka terminou em maio de 2009.

Segundo Rohana, a maneira de operar é que os que estão para embarcar esperem os demais perto da costa em grupos pequenos de cinco ou seis pessoas. Depois são transferidos em turnos para um porto pesqueiro, embora o mais provável seja que os levem até um barco ancorado em alto mar. Rohana explicou que os cidadãos detidos por organizarem esses barcos parecem ser intermediários entre os que desejam embarcar e os que controlam as redes de tráfico humano. “Os suspeitos operam a partir de países europeus e da Austrália”, afirmou.

A polícia citou o caso de mais de 200 cingaleses que ficaram perdidos em Togo, em outubro de 2011, abandonados nesse país por traficantes que prometeram levá-los ao Canadá. “Os quatro principais suspeitos do caso estão na França”, contou Rohana. As vítimas foram levadas a esse país da África ocidental em avião através de Mumbai e da capital da Etiópia com vistos verdadeiros. Os detalhes de como as pessoas são embarcadas são pouquíssimos. A maioria dos que esperam uma oportunidade ou fracassaram em sua tentativa permanecem calados.

É o caso de Akilan (nome fictício), de 20 anos, da costa oriental que agora está preso por fracassar em sua tentativa de embarcar rumo à Austrália. “Não sabíamos nada até ser detido”, declarou sua mãe à IPS. Segundo ela, o rapaz previa fazer pela terceira vez o exame para entrar na universidade, mas trabalhava em segredo para sua viagem clandestina.

Foi detectado que os barcos saem de Puttalam, na província Noroeste, até portos pesqueiros do Leste, como Valechchennei. Na maioria, estas embarcações são rebocadores com casco de madeira. Os que embarcam devem pagar o equivalente a US$ 9 mil em moeda local, em dois pagamentos. Segundo a polícia, pagam US$ 2.500 antes de embarcar e familiares e amigos pagam o restante quando, e se, chegam ao seu destino.

A mãe de Akilan não acredita que o rapaz possa resistir à tentação de voltar a tentar emigrar. “Queria ir porque somos pobres e estávamos desesperados, e continuamos da mesma maneira”, afirmou. Envolverde/IPS