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Sri Lanka entre vendavais e ciclones depois do tsunami

As águas da baía de Weligama, em Sri Lanka, podem ser enganosamente calmas para os pescadores. Foto: Indika Sriyan/IPS

Weligama, Sri Lanka, 14/3/2012 – As suaves ondas da baía de Weligama, ao sul do Sri Lanka, que banham a pequena aldeia pesqueira de Kaparratota, podem ser enganosas. No dia 25 de novembro do ano passado, a tragédia atingiu Kaparratota quando ventos de furacões procedentes do norte enfureceram o mar e causaram a morte de 14 pescadores desta aldeia. Onze corpos não foram recuperados. No total, 29 pessoas morreram na costa sul de Sri Lanka, e aproximadamente dez mil construções foram danificadas. Weligama foi a área mais afetada. Muitos dos que suportaram a tempestade ficaram assustados por sua ferocidade e por amainar tão repentinamente como surgiu.

“Nunca soubemos que viria uma tempestade, ninguém nos disse. De repente, o mar simplesmente se levantou”, contou à IPS o pescador Lamahevage Chandana, que sobreviveu flutuando por sete horas nas ondas, quando seu pequeno bote foi destroçado. Segundo especialistas, a tragédia poderia ter sido evitada se os moradores, como Chandana, e as autoridades tivessem prestado mais atenção aos variáveis padrões meteorológicos neste país insular.

Nos últimos tempos aumentou a frequência dos eventos meteorológicos extremos, disse à IPS o diretor do Departamento de Geografia da Universidade de Ruhuna, Mudalihamige Rathnayake. “Os ventos causados por furacões que afetam povoados e aldeias são registrados como ciclones ou miniciclones, e não o são”, afirmou. “São criados pelo ar mais frio que se precipita para preencher o vazio que deixa um aumento extremo da temperatura em uma área pequena”, explicou.

Esse tipo de vento atinge velocidade de até 117 quilômetros por hora na escala Beaufort, e, apesar de não ser tão forte como os ventos dos furacões, provocam ondas excepcionalmente altas e podem derrubar árvores pela raiz. As estatísticas mostram que agora há menos dias chuvosos, já que a monção causa precipitações por um período mais curto. Isto foi o que ocorreu entre janeiro e fevereiro de 2011, quando as chuvas que deveriam ter caído em um ano caíram em apenas um mês sobre partes da Província Oriental, inundando centenas de aldeias.

O regime variável de chuvas obrigou os técnicos a desenvolverem variedades de arroz de rápida maturação, informou à IPS o presidente do Instituto de Pesquisas sobre o Arroz de Sri Lanka, Nimal Dissanayake. “As desenvolvemos, mas precisamos de melhor compreensão dos padrões de chuvas para recomendá-las”, acrescentou. Rathnayake fez um estudo sobre o grau de consciência que existia entre a população do sul do país sobre as mudanças meteorológicas e se decepcionou com os resultados.

“Praticamente não há nenhum conhecimento da mudança climática ou sobre a variabilidade do tempo. A ninguém interessa realmente saber como enfrentar os desastres naturais”, lamentou Rathnayake, que se surpreendeu com a falta de conhecimento e o desinteresse, já que a costa sul de Sri Lanka foi devastada pelo tsunami asiático, de 26 de dezembro de 2004. Ao longo da costa há cartazes sinalizando terrenos mais altos e seguros para onde correr em caso de maremoto.

“Todos sabem que precisam correr se ocorre um tsunami, mas não sabem como agir se há um ciclone ou um vendaval que aparece em pouco tempo. ninguém nem mesmo pensa que uma seca prolongada possa ter sido causada pela mudança climática”, alertou Rathnayake. Apenas 20% dos 1.520 quilômetros de costa de Sri Lanka são propensos à erosão, mas a maior parte dessa área vulnerável está no sul e no oeste densamente povoados, que são os mais afetados pelas monções. Nas províncias do ocidente e do sul vivem cerca de 40% da população, economicamente, ambas contribuem com 47% do produto interno bruto, e o oeste é o centro financeiro e administrativo da ilha.

Boa parte da costa propensa à erosão está protegida por uma muralha de rochas, solução que agora o Departamento de Conservação Costeira considera contraproducente. As barreiras construídas com rochas limitam a atividade econômica e transferem a erosão de uma parte da costa para outra, disse à IPS o diretor-geral do Departamento, Anil Premarathne. Este escritório incentiva “soluções mais brandas”, como ampliar as praias, preenchê-las com areia, cultivar mangues e adotar regras rígidas de ordenamento territorial. Porém, como a costa está densamente povoada, Premarathne acredita que é difícil inclusive debater estas opções.

“Em Sri Lanka necessitamos de medidas rígidas para ordenar o território. Mas, a menos que existam praias sem casas nem empresas próximas – coisa que praticamente não ocorre no sul e no oeste – isto não é fácil de implantar”, ressaltou Premarathne. “Como a erosão se manifesta ao longo de muitos anos, inclusive décadas, não há muita preocupação. As pessoas não parecem notar que ela acontece, nem estão muito preocupadas”, acrescentou. Já há algumas áreas urbanas costeiras em risco pelo aumento do nível do mar.

Distritos à beira-mar, como Gampha, bem ao norte de Colombo, obtêm pelo menos 40% da água que consomem por meio de bombeamento do subsolo, o que aumenta o risco de salinização. “A salinidade aumentará nas áreas costeiras se o nível do mar subir. Também vimos que a altura das ondas tende a ser maior durante as monções”, advertiu Premarathne. A Estratégia Nacional de Adaptação à Mudança Climática em Sri Lanka prioriza as medidas de adaptação, a criação de assentamentos humanos mais saudáveis e a minimização dos impactos sobre a segurança alimentar para o período compreendido entre 2011 e 2016.

Como não é realista pensar em deter a mudança climática, a Estratégia Nacional se centra em entender o que há para ser feito e se preparar com medidas econômicas e ambientais. Contudo, a maioria da população não leva a sério a mudança climática. “Estes incidentes ocorrem… Simplesmente temos que viver com eles”, disse Chandana, muito tranquilo, inclusive depois de sua quase mortal experiência. Rathnayake se preocupa com essa indiferença. “Estas coisas estão além de nosso controle, mas podemos estar melhor preparados para enfrentá-las e salvar vidas”, afirmou. Envolverde/IPS