Yaunde, Camarões, 9/8/2012 – Há quase dois anos que não nasce um bebê com o vírus da deficiência imunológica humana (HIV), causador da aids, no hospital público do distrito de Cité-Verte, na capital de Camarões. O diretor da instituição, Emilien Fouda, disse que isto é o resultado do esforço combinado do pessoal sanitário e de organizações comunitárias. Philomène Manga fez um exame para saber se era portadora de HIV em 2005, já com quatro meses de gestação. “Quando disse ao meu marido que o resultado era positivo, ele me pediu para abortar, para não dar à luz uma criança enferma”, contou à IPS.
No entanto, graças à ajuda da organização No Limit for Women Project (Nolfowop), decidiu prosseguir com a gravidez. “Recebi tratamento para que meu filho não contraísse o vírus. Agora tenho dois filhos sadios, um de seis anos e outro de dois anos e meio. E penso em ter um terceiro”, comemorou Manga. Os passos para prevenir a transmissão de mãe para filho são muito conhecidos. “O programa para evitar a transmissão vertical inclui conscientização, exames voluntários e confidenciais de HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis, e práticas de partos que minimizem os riscos de transmissão do vírus”, explicou Fouda à IPS.
“Também fornecemos antirretrovirais e apoio psicológico às mulheres e às crianças soropositivas, bem como assessoria alimentar”, acrescentou Fouda. O médico contou que o pessoal do hospital de Cité-Verte explica às mães como evitar o contágio do vírus para o filho durante a gravidez. E é aí que aparece a primeira complicação. Segundo um informe do governamental Comitê Nacional de Luta Contra a Aids, divulgado em março de 2012, cerca de uma em cada cinco mulheres que recebem atenção pré-natal se negam a fazer o exame. O governo foi obrigado a tomar medidas para evitar que as mães que não fizessem o exame transmitissem o vírus aos filhos.
“Temos orientações firmes. Na sala de parto, sistematicamente fazemos o exame das mulheres cuja situação é desconhecida e, se necessário, iniciamos o tratamento”, detalhou Fouda. Segundo estatísticas publicadas pelo escritório em Camarões do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), 20% dos casos de transmissão vertical ocorrem durante a gravidez, 65% no parto e 15% na amamentação. A taxa de HIV em mulheres é de 7,6% entre as grávidas.
A intervenção na sala de trabalho de parto é crucial, mas ainda assim resta um grande tema sem resposta. Segundo cálculos do Unicef, cerca de um milhão de mulheres deveriam ter feito consultas pré-natais em 2011, mas apenas 364 mil o fizeram. Para dar à luz, muitas vão a clínicas particulares ou pequenas maternidades de áreas pobres. Os esforços das organizações comunitárias para evitar a transmissão de mãe para filho ficam mais importantes porque quase dois terços das grávidas são atendidas em centros de saúde públicos.
É nesse contexto que o trabalho de organizações como a No Limit for Women é vital. Esta organização, uma associação de mulheres com HIV, foi criada em 2000, e suas integrantes se reúnem com trabalhadores da saúde no hospital Cité-Verte duas vezes por semana, e depois levam informação sobre transmissão vertical às mulheres das aldeias. “Procuramos atingir a maior quantidade possível de mulheres participando de reuniões de várias organizações femininas. Pedimos que busquem hospitais públicos para serem atendidas e mantemos contato com elas mediante visitas domiciliares”, contou Odette Etamè, presidente da Nolfowop.
A ativa campanha de conscientização comunitária também ajuda a chegar às que sabem ser portadoras do HIV e querem ter filhos, mas têm seus medos a respeito. A Nolfowop recebe apoio de várias instituições, incluindo o Ministério da Saúde, Unicef e Care International. A ajuda econômica permite paliar os custos de transporte das pessoas que fazem as visitas familiares.
Entretanto, em nível nacional as coisas não funcionam tão bem como em Cité-Verte. Organizações de apoio comunitário como a Nolfowop só estão presentes em alguns hospitais do país e não em todos os centros de saúde pública que fazem exames de HIV nas parturientes de forma sistemática. Etamè considera que o modelo de Citè-Verte deve ser ampliado para todo o país. “A ideia é criar pelo menos um grupo de apoio comunitário em cada um dos 179 distritos de saúde de Camarões. A iniciativa já está implementada em alguns deles”, ressaltou. Envolverde/IPS