Washington, Estados Unidos, 18/7/2011 – Representantes do governo dos Estados Unidos insistiram que há muito trabalho a ser feito no Sudão do Sul, convertido em membro 193 da Organização das Nações Unidas (ONU), pois sua situação continua sendo delicada. “Os Estados Unidos apoiaram o povo do Sudão do Sul em sua luta e devemos continuar envolvidos até que haja uma paz duradoura na região”, afirmou o senador John Kerry em uma sessão especial do Comitê de Relações Exteriores do Senado, no dia 14, quando o Sudão do Sul entrou nas Nações Unidas.
“Temos de reconhecer que, embora seja apenas um país que se une à comunidade de nações, na realidade, após o referendo de 9 de janeiro, foram criados dois, o novo Sul independente e o alterado Norte”, acrescentou o senador. “Ambos são frágeis e continuarão assim até que cheguem a um acordo que lhes permita viver separados, mas trabalhando juntos”, ressaltou. Os Estados Unidos estão dispostos a ajudar o novo país a enfrentar seu futuro, pois se verá afetado por uma significativa perda de divisas com petróleo e necessitará de alívio da dívida para ter acesso a recursos e melhorar o clima para os investimentos”, disse o enviado especial dos Estados Unidos ao Sudão, Princeton Lyman.
Contudo, isso ocorrerá somente se o Sudão do Sul cumprir suas obrigações sob o Acordo Geral de Paz (CPA), de 2005. “Dependerá de seu comportamento e do que ocorrer nas próximas semanas e nos próximos meses em termos de seu compromisso”, destacou Lyman, acrescentando que os Estados Unidos já deram os primeiros passos para normalizar as relações bilaterais, mas que não se avançará sem a comprovada responsabilidade do Norte. “Trata-se de viver sob os padrões internacionais e a promessa feita pelo Sudão, um elemento crítico de sua própria capacidade para consegui-lo”, acrescentou.
O presidente do Sudão, Omar al-Bashir, transmitiu esperança sobre a possibilidade de forjar esse acordo no começo desta semana, indicando que seu país ajudará a estabilizar a desenvolver os conflituosos Estados Nilo Azul e Kordofan do Sul. Entretanto, algumas organizações de direitos humanos afirmam que a realidade no terreno não é tão esperançosa. O Comitê do Senado, que exortou no sentido de serem atendidos os problemas mais graves do Sudão do Sul, se reuniu no mesmo dia em que um informe do Satellite Sentinel Project (SSP) anunciou ter imagens que provam a existência de fossas comuns em Kordofan do Sul.
A iniciativa humanitária afirma que as fotografias de três locais de exumação são consistentes com fossas comuns e provam uma matança sistemática, o que apoia as acusações de organizações não governamentais de que o exército do norte ataca o povo nuba na região de fronteira. “As três áreas escavadas foram identificadas por análises de imagens que corroboram as acusações de duas testemunhas sobre a existência de possíveis fossas comuns ao sul da escola Tilo, em Kadugli”, capital de Kordofan do Sul, diz o informe.
A preocupação de organizações internacionais de direitos humanos sobre uma crise humanitária na região, onde cem mil civis tiveram que abandonar suas casas, segundo a ONU, atrasou as negociações sobre o controvertido status de Abyei, o centro de conflito. A comunidade internacional observa a região como o lugar onde se concentram as violações de direitos humanos depois que as forças armadas sudanesas, do Norte, anexaram a zona rica em petróleo, em maio. A violência se intensificou quando o Exército de Libertação do Povo do Sudão (ELPS), do Sul, em junho enviou seus soldados em represália.
“Nosso cronograma foi prejudicado pela tomada de poder de Abyei”, lamentou Lyman. “Agora temos de garantir a desmilitarização e a segurança dos civis para depois cuidar do problema” na região, acrescentou. “Temos de ter um cronograma muito rígido para atender a questão do status de Abyei porque, do contrário, é uma fonte de conflito”, ressaltou. Os enfrentamentos na zona de fronteira continuam. A ONU informou, na semana passada, sobre bombardeios aéreos contra zonas do ELPS pelas forças armadas do Sudão do Norte, que ameaçam qualquer coisa que se pareça com a paz acordada pelo CPA.
Após as comemorações pela vitória no referendo de janeiro e pela transição para a independência do Sudão do Sul, o governo norte-americano pediu urgência a al-Bashir e ao presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, no sentido de voltarem imediatamente à mesa de negociações para concluir o CPA.
Além do status de Abyei, restam muitos assuntos importantes para resolver, como um acordo benéfico para os dois lados referente ao dinheiro do petróleo, o status da população e uma forma de garantir a paz na fronteira compartilhada, tudo o que, segundo o CPA, deveria ser sido resolvido antes da independência do Sudão do Sul, em 9 de julho, mas não se conseguiu. “A forma que forem resolvidos esses assuntos em um futuro próximo determinará as relações entre os dois países”, afirmou Lyman. “Permitir que continuem por muito tempo sem chegarem a um acordo pode desestabilizá-los”, alertou. Envolverde/IPS