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No sul dos Estados Unidos, segunda-feira tem protesto, terça-feira também

Manifestantes da Segunda-Feira Moral na Geórgia chegam ao Capitólio, no dia 28 de janeiro, para falar com o governador Nathan Deal.
Manifestantes da Segunda-Feira Moral na Geórgia chegam ao Capitólio, no dia 28 de janeiro, para falar com o governador Nathan Deal.

 

Spokane, Estados Unidos, 6/2/2014 – A Segunda-feira Moral (Moral Monday), movimento popular da Carolina do Norte que atraiu milhares de ativistas progressistas de diversas origens para pressionar o governo desse Estado, está se multiplicando pelo sul dos Estados Unidos.

“É um sinal de que o corpo político do país está saudável. Uma das vantagens de ser cidadão é o direito de apresentar petições ao seu governo e de protestar contra leis injustas. Creio que é um sinal de saúde e espero que se propague”, disse à IPS a vice-presidente do grupo Citizenship Education Fund, Janice Mathis.

A Segunda-feira Moral começou na Carolina do Norte em abril de 2013. Mais de 800 pessoas foram presas nessas manifestações, que incluem a entrada no Capitólio estadual, sede do governo. A participação semanal nessas mobilizações é estimada em cerca de 2.500 pessoas.

Os protestos na Carolina do Norte são contra mudanças nos distritos eleitorais e em outras normas referentes ao voto – promovidas pelo Partido Republicano –, cortes em programas sociais e de educação pública, propostas para elevar o imposto sobre as vendas, e tentativas de limitar o direito ao aborto, entre outros assuntos.

Este ano, a Segunda-feira Moral começou também na Geórgia, e nasceu a Terça-feira Verdadeira (Truthful Tuesday) na Carolina do Sul.

No segundo protesto da Segunda-Feira Moral na Geórgia, dia 28 de janeiro, dez ativistas foram presos quando tentavam falar com o governador, o republicano Nathan Deal, sobre a ampliação do serviço de saúde pública Medicaid nesse Estado.

Como o governador Deal não apareceu para receber a carta que os manifestantes pretendiam lhe entregar, estes se sentaram no Capitólio para esperá-lo. A polícia apareceu para advertir que deveriam se retirar ou seriam detidos. Eles se negaram. Então, foram algemados e presos. Foto: Cortesia de Gloria Tatum/Atlanta Progressive News
Como o governador Deal não apareceu para receber a carta que os manifestantes pretendiam lhe entregar, estes se sentaram no Capitólio para esperá-lo. A polícia apareceu para advertir que deveriam se retirar ou seriam detidos. Eles se negaram. Então, foram algemados e presos. Foto: Cortesia de Gloria Tatum/Atlanta Progressive News

 

Em cumprimento à lei de atendimento acessível de saúde, conhecida nos Estados Unidos como “Obamacare”, por ser a grande bandeira política do presidente democrata Barack Obama, o governo federal oferece milhões de dólares aos Estados para ampliar a cobertura do Medicaid para um grupo maior de famílias de baixa renda.

Em 2012, no entanto, a Suprema Corte de Justiça decidiu que os governos estaduais não são obrigados a aceitar esse dinheiro e que Washington não pode puni-los por isso, retendo outros fundos.

Quase metade dos Estados, na maioria governados por republicanos, se nega a aceitar esses recursos. E por isso milhões de pessoas continuam sem atendimento em saúde que não seja de emergência. Milhares de mortes anuais podem ser atribuídas à falta desse serviço médico, segundo o não governamental Georgia Budget and Policy Institute.

Muitos dos Estados que se negam a aceitar os dólares federais do Medicaid estão no sul. “É muito animador que dez pessoas tenham sido presas na Geórgia”, afirmou Mathis. “Estamos em uma encruzilhada. Avançaremos como uma nação comprometida com um nível de vida geral e básico ou nos contentaremos com a pior desigualdade social de nossa história?”, questionou.

Um estudo feito em 2011 pelo Escritório Orçamentário do Congresso indica que, entre 1979 e 2007, o 1% de famílias mais ricas do país aumentou sua renda em 275% depois dos impostos, enquanto esse aumento foi inferior a 40% para 60% das famílias que formam a classe média, segundo a distribuição nacional de renda. Em 2012, a distância entre esse 1% mais rico e os demais 99% foi a maior desde a década de 1920. A renda desta elite cresceu 20% esse ano, e a dos demais apenas 1%.

“É justo que esse movimento nasça no sul”, destacou Mathis. “Os Estados do sul ainda têm visões peculiares sobre certos problemas. Não é coincidência que nos Estados do Sul tenha que começar desde o zero na questão do padrão eleitoral, da expansão do Medicaid e do abuso de prisão”, acrescentou. As políticas repressivas “se expandiram à Pensilvânia (nordeste) e Wisconsin (centro-norte), o que é lamentável, mas têm suas raízes no sul”, enfatizou.

Na Carolina do Sul, os ativistas da Terça-Feira Verdadeira realizaram seu primeiro protesto no Capitólio estadual e esperam começar em breve manifestações semanais. “No dia 14 de janeiro, fizemos um protesto que abriu a sessão, algo difícil de conseguir: era meio de semana, um dia útil e chovia. Reunimos mil pessoas”, disse à IPS o diretor-executivo da organização South Carolina Progressive Network, Burt Bursey. “Realizamos várias reuniões desde então. E voltamos ao escritório do governador no dia 4”, acrescentou.

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A polícia leva detidos o senador estadual Vincent Fort, do Partido Democrata, o reverendo Alan Jenkins e Keveni Moran, Kathy Acker, Megan Harrison, Brittany Gray, Marguerite S. Casey, Karen Reagle, Michael Sehumam e Daniel Hanley. Foto: Cortesia de Gloria Tatum/Atlanta Progressive News

 

A presença maior nas manifestações da Carolina do Sul, comparada com a da capital da Geórgia, Atlanta, acontece porque “é fácil organizá-las em um Estado pequeno e não tão relevante”, pontuou Bursey. Uma das vantagens de organizar esses protestos sempre no mesmo dia da semana é que todos sabem quando será o seguinte. Além disso, em lugar de fazer manifestações nos dias em que os legisladores preveem votar uma lei – o que lhes permite marcar passo – nesse caso “nós estabelecemos a agenda”, ressaltou.

Mathis não se manifestou preocupada com a pouca participação conseguida em Atlanta até agora, pois a Segunda-Feira Moral da Carolina do Norte também começou com pouca gente. “Estamos no começo. Continuaremos crescendo e nos ampliando, atraindo outros grupos, além dos ‘suspeitos de sempre’. Isso deve crescer além do círculo de ativistas, e geograficamente pelos 159 condados da Geórgia”, acrescentou. Envolverde/IPS