Muita gente ainda não compreende o que é sustentabilidade e porque deveria mudar seu modo de vida. A sociedade certamente não vai empreender as transformações necessárias se não estiver convencida da urgência das mudanças.
Dias atrás estava conversando com um bom amigo, que não trabalha nem com comunicação e nem com meio ambiente e sustentabilidade, sobre carros, trânsito e modelo de desenvolvimento. Ele vive em Santos, uma cidade que eu adoro por ser, ainda, uma boa referência em estrutura urbana. Depois de 15 minutos de conversa percebi que estamos em lados completamente opostos em relação ao que seja uma vida confortável e sustentável. Comentei que se Santos continuasse a receber automóveis no ritmo atual, em muito pouco tempo estaria completamente engarrafada, com os mesmo problemas de mobilidade que São Paulo já enfrenta.
Santos é uma cidade plana, pequena sob o ponto de vista territorial, concentrada em temos de ocupação. Ou seja, ideal para trajetos a pé, de ônibus e de bicicleta, sem falar de um tal VCL (Veículo Leve Sobre Trilhos) dos qual se fala desde que o Mário Covas era governador (ele também um santista). Minha surpresa veio quando meu amigo simplesmente respondeu que esse era um preço a ser pago pelo conforto. De pronto perguntei, “mas que conforto?”
Em minha visão de jornalista especializado em temas ligados à sustentabilidade, conforto é uma cidade onde a mobilidade é garantida através de meios que não imponham mais poluição e nem ocupação desordenada das ruas. Transporte público, espaços abertos, bicicletas e uns poucos carros que são usados apenas por necessidade absoluta. Argumentei que andar de táxi, por exemplo, pode ser muito mais barato do que andar de carro. Não se corre o risco de levar multas, não é preciso pagar estacionamento e nem sequer é preciso se preocupar com tomar um chopp a mais.
Por mais que eu tentasse explicar as vantagens individuais e coletivas em ter uma cidade com menos carros e mais espaço para as pessoas, meu amigo não conseguia entender. Para ele eu devo ter parecido uma espécie qualquer de idiota que não entende o quanto um carro oferece de conforto. Claro que compreendo isso, eu mesmo tenho um carro. No entanto, a questão é como usamos o carro e para que. Por exemplo, se locomover para um escritório, pagar um estacionamento e retornar no final do dia é uma atividade que pode muito bem ser feita de outra forma, principalmente em Santos.
Outra coisa que constatei, pela enésima vez, é o quanto as questões relacionadas ao meio ambiente, à sustentabilidade, aquecimento global etc estão longe das pessoas que não estão diretamente envolvidas com este tema. Certamente a culpa não é destas pessoas, mas sim das outras, aquelas que compreendem a importância de ser sustentável, mas que não estão conseguindo mostrar o quanto isso é importante para todo mundo.
Não se trata apenas de economizar água, energia, separar lixo para a reciclagem ou outras tantas atividades que são preconizadas nas cartilhas de educação ambiental. É preciso estimular o pensamento sustentável, que favorece um olhar mais sistêmico sobre a realidade. Mas como fazer isso?
Nos últimos anos temos trabalhado na Envolverde para informar e formar uma parte da sociedade sobre a transversalidade necessária na abordagem dos temas socioambientais e econômicos. Não estamos mais na fase dos diagnósticos. A maior parte dos problemas socioambientais graves que devem ser enfrentados com urgência pela sociedade já está devidamente identificada, catalogada, estudada e diagnosticada, com suas causas e consequências exaustivamente conhecidas.
A questão agora é saber como convencer as pessoas a mudar. As milhões ou bilhões de pessoas mais afetadas pelos problemas sociais e ambientais não têm a capacidade de reação necessária para alterar a realidade de seu entorno. E as milhões ou bilhões de pessoas que precisariam mudar o modo de vida, ou simplesmente não sabem disso, ou não acham necessário, ou estão se lixando para os problemas.
A questão que se coloca é como conseguir que a sociedade entenda o sentido de urgência dos problemas ambientais, em especial do aquecimento global, do desmatamento e da degradação de ecossistemas, como fazer a atual geração de seres humanos no planeta compreender que deve existir uma “solidariedade intergeracional”, ou seja, que precisamos preservar recursos para as pessoas que ainda não nasceram (como prevê o triple bottom line).
Aqueles que compreendem esta urgência devem superar o sentimento de frustração que está se sobrepondo à necessidade de continuar falando, escrevendo, ensinando e pregando. Mas, principalmente, é preciso compreender que a grande maioria das pessoas ainda não está convencida, por muitos motivos, de que precisam mudar. (Envolverde)
* Dal Marcondes é jornalista especializado em jornalismo econômico, diretor e editor responsável da Envolverde – Revista Digital e presidente do Instituto Envolverde.