Harare, Zimbábue, 10/9/2013 – Prosper Muripo é uma das muitas pessoas que ganham a vida no Zimbábue rural vendendo chamadas telefônicas e recarregando baterias de celulares com energia solar. Muripo trabalha em um pequeno espaço que aluga de um comerciante da região comercial de Gatora, na província de Mashonalandia Oriental, nordeste do país. “Cobro 50 centavos para recarregar uma bateria por 30 minutos e um dólar por uma hora. De quem não tem telefone, cobro 50 centavos por um minuto de ligação”, contou à IPS.
As zonas rurais do Zimbábue quase não têm infraestrutura, o fornecimento elétrico é deficiente e as estradas são ruins. Por isso as comunicações dessas e para essas áreas sempre foram limitadas. Contudo, há cinco anos, a telefonia móvel permite conectar a população rural com as cidades. A penetração dos telefones celulares neste país é de 97%, segundo a Autoridade de Regulação Postal e de Telecomunicações do Zimbábue (Potraz), encarregada de conceder licenças de operações.
“O aumento de investimentos em infraestrutura de comunicações em áreas urbanas e rurais permitiu que as populações marginalizadas agora possam usar telefones celulares”, indicou à IPS o diretor da Potraz, Alfred Marisa. Assim, os celulares se converteram no modo mais simples e barato de se comunicar.
O desemprego afeta 7,7% da população economicamente ativa, segundo uma pesquisa sobre gastos, consumo e renda, feita pela Agência de Estatísticas do Zimbábue entre 2011 e 2012, divulgada em junho. Esta é uma mudança drástica em relação a medições anteriores que situavam o desemprego entre 85% e 90%. Estima-se que vivam no campo 72% dos 12,7 milhões de habitantes do país. O estudo também indica que 8,2 milhões de residentes rurais são pobres e que 10,7% não têm trabalho.
Apesar da pobreza, o uso de telefonia móvel aumenta rapidamente nas zonas rurais. Segundo Frost and Sullivan – Growth Partnership Services, uma companhia que realiza pesquisa corporativa para acelerar o crescimento, “a quantidade de clientes de telefones móveis no Zimbábue aumentou de menos de dois milhões, no final de 2008, para mais de 10,9 milhões em 2013”. Se prevê que em 2015 haja 13,5 milhões de usuários e que em 2016 essa indústria vai gerar US$ 1,34 bilhão.
Grande parte deste crescimento é atribuída à queda do preço dos cartões SIM (Subscriber Identity Module, ou Módulo de Identificação do Assinante), usado para armazenar de forma segura a informação que permite ao cliente se identificar na rede. Em 2008, custavam cerca de US$ 90 e agora menos de um dólar. Desde 2009, quando o Zimbábue permitiu a circulação de várias divisas para combater a hiperinflação, os aparelhos chineses se tornaram muito acessíveis. Em média, custam em torno de US$ 21.
Os vendedores de celulares que oferecem produtos chineses em Harare asseguram que estão fazendo um grande negócio. “O negócio floresce, especialmente durante a temporada de colheita de tabaco, quando muitos agricultores vendem seus produtos na cidade. Desde que a medida de abertura estabilizou a economia, as pessoas têm renda regular e podem economizar para comprar aparelhos como celulares, antes apenas reservados aos ricos”, detalhou o vendedor Sylvester Mbirimani à IPS.
A Telecel Zimbabwe, segunda operadora de telefonia móvel do país, amplia e melhora sua rede há dois anos para atender mais clientes em zonas rurais. “Fomos os primeiros a baixar o preço dos cartões SIM e nosso objetivo é satisfazer nossos clientes e promover o crescimento em todas as áreas desconectadas”, disse à IPS o diretor de mercado da Telecel, Octivius Kahiya. São muitos os camponeses aos quais um telefone celular abriu possibilidades.
Miriam Chauke, de Mutare, na província de Manicalandia, está desempregada e faz trabalhos de meio período, mas pôde economizar para comprar um cartão SIM e um celular barato. “Parece que o uso de telefone móvel se tornou um direito humano básico porque permite superar as barreiras de comunicação”, afirmou. “Os anúncios de emprego podem ser enviados por este meio. Não tenho trabalho, e quando aparece uma oferta na capital ou em outras cidades, fico sabendo” graças a uma mensagem de texto, contou Chauke à IPS.
Os celulares também compensam a falta de serviços bancários nas zonas rurais graças ao banco móvel. Agora as pessoas podem driblar as rígidas normas do setor e fazer girar o dinheiro. Porém, este ainda é um setor novo, pois a maioria das pessoas usa os celulares para telefonar ou enviar mensagem de texto. O analista econômico Eric Shabangu acredita que o banco móvel tem possibilidades de se converter na maior plataforma bancária do Zimbábue.
“A rápida penetração do celular, ao contrário do que ocorre com os serviços bancários, criou um terreno fértil para o crescimento do dinheiro móvel”, disse Shabangu à IPS. “O banco móvel poderia ser a base de uma rápida inclusão econômica de pessoas que só precisariam de telefone celular para ter acesso a determinados tipo de serviços essenciais que antes lhes eram vetados”, destacou.
Johsham Gurira, economista da Universidade do Zimbábue, acredita que esta transformação continuará gerando mudanças nas áreas rurais do país. “O acesso às tecnologias da informação e da comunicação agora é considerado um direito humano básico, e os celulares oferecem a melhor oportunidade para reduzir a brecha digital”, pontuou.
Segundo Gurira, “o uso da tecnologia móvel empoderou muita gente e é uma ferramenta fundamental para ajudar a aliviar a pobreza. A adaptação da tecnologia móvel redefiniu a forma como as pessoas se comunicam e criou outras maneiras de participação e conexão. Os telefones celulares oferecem uma oportunidade de desenvolvimento para o Zimbábue”. Envolverde/IPS