Ao falar de tensão pré-menstrual, a famosa TPM, lembro-me de uma lenda da mitologia grega. A deusa Prosérpina, filha da deusa Ceres, foi raptada por Plutão, o deus das trevas, que foi alvejado por uma flecha de Cupido e caiu de amores por ela. Foi levada para o mundo subterrâneo e impedida de voltar à superfície, tornando-se esposa de Plutão. Ceres, ao descobrir o rapto da filha, ficou furiosa e exigiu que a mesma fosse devolvida a ela. Plutão, por sua vez, não queria abrir mão de sua amada, porém concordou que Prosérpina retornasse à superfície com a condição de que passasse a metade do tempo com ele. Assim, a deusa foi libertada, mas durante 15 dias do mês descia ao mundo das trevas para rever seu marido.
Como Prosérpina, muitas mulheres passam metade do mês submergidas nas trevas, dominadas por sensações de tristeza, fadiga e irritabilidade. É a TPM que surge trazendo uma avalanche de sentimentos e reações negativas. Já na Antiguidade, Hipócrates descreveu um quadro no qual determinadas mulheres, antes das regras, apresentavam pensamentos suicidas dentre outras manifestações graves.
Por definição, a TPM é caracterizada por um conjunto de sintomas que se iniciam na segunda fase do ciclo menstrual, isto é, 15 a 10 dias antes da menstruação, e que cessam completamente após o início desta. Acomete cerca de 80% das mulheres, porém apenas 8% sentem os sintomas de forma intensa, caracterizando o transtorno disfórico pré-menstrual.
Várias queixas são referidas, sendo as principais: tristeza, choro fácil, irritabilidade, compulsão por doces, diminuição do desejo sexual, distúrbios do sono, dor nas mamas e retenção hídrica. Esta fase torna-se um verdadeiro “inferno” na vida de muitas mulheres, gerando conflitos no trabalho e na vida pessoal.
Não se sabe ao certo a causa da TPM, a principal hipótese é a de que a queda dos níveis hormonais que ocorrem no final da segunda fase do ciclo menstrual levaria a um desequilíbrio no metabolismo da serotonina no cérebro. Este neurotransmissor é um dos responsáveis pela sensação de bem-estar e sua diminuição explicaria as alterações de humor.
Existem várias formas de amenizar a TPM. A prática de atividades físicas neste período é recomendada, pois gera a liberação das endorfinas que aliviam a tensão. Na alimentação devem ser evitados alimentos gordurosos e excitantes como café, chocolate e álcool. O sal também deve ser diminuído já que piora o inchaço.
Na terapêutica, alguns compostos à base de vitamina B6, cálcio e magnésio podem ajudar, bem como a prescrição de alguns tipos de antidepressivos, que surgem como a grande novidade da medicina para o tratamento da TPM.
Saiba, no entanto, que o simples conhecimento do seu corpo e de suas reações é a principal arma contra esta fase difícil que muitas de nós vivenciamos todos os meses. Ao reconhecer os primeiros sintomas da TPM, procure se conscientizar que é só uma fase, vai passar. Comunique as pessoas mais íntimas e peça compreensão, converse. Busque formas de aliviar a tensão, faça uma massagem, tome um banho de banheira, deixe as crianças com sua mãe, vá ao cinema, ouça uma música suave… Permita-se relaxar.
Descer ao inferno todos os meses pode ser penoso, difícil… Mas nos deixa mais fortes, versáteis e nos permite desenvolver a habilidade de conviver e superar as adversidades que a vida inevitavelmente traz.
* Carolina Carvalho Ambrogini é médica ginecologista, obstetra e sexóloga.
** Publicado originalmente no site Saúde em Pauta Online.