A guerra à mudança climática deve se concentrar no Sul em desenvolvimento, porque é ali onde crescem a indústria, a população e a demanda por energia, afirma Christiana Figueres, máxima funcionária das Nações Unidas nessa área.
Barcelona, Espanha, 6 de junho de 2011 (Terramérica).- Os países em desenvolvimento, com seu grande potencial de crescimento e a maior porção da população mundial sem eletricidade, têm um papel fundamental na luta contra a mudança climática, alertam algumas vozes. “Os países em desenvolvimento precisam obter eletricidade limpa. O que não podemos permitir é que tenham acesso à eletricidade tradicional”, disse em entrevista ao Terramérica a secretária-executiva da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, Christiana Figueres.
É preciso concentrar esforços no Sul em desenvolvimento porque é ali onde crescem a indústria, a população e a demanda por energia, acredita Christiana, que participou em Barcelona da oitava edição da Carbon Expo, principal feira e conferência sobre finanças do clima, comércio de emissões e tecnologias baixas em carbono. “O desafio é lutar contra a mudança climática aproveitando o crescimento vigoroso que se espera tenham os países em desenvolvimento”, disse a costarriquenha Christiana. “O desenvolvimento nos países do Norte aconteceu na base de uma contaminação muito intensa”, recordou.
Na 16ª Conferência das Partes (COP 16) da Convenção sobre Mudança Climática, realizada em Cancún em 2010, foi aprovada a criação do Fundo Verde para o Clima, destinado a ajudar as nações pobres na mitigação e adaptação à mudança climática. O Norte industrial se comprometeu a dar US$ 30 bilhões em 2012 e US$ 100 bilhões anuais até 2020. Porém,“o sinal emitido por Cancún não é suficientemente forte para redirecionar para as tecnologias limpas a grande quantidade de capital necessária”, acrescentou Christiana.
Para avançar para uma “economia verde” é preciso um duplo esforço, o dos governos, que têm de se adaptar às normas, e o do setor privado, que conta com capital para investir em tecnologias menos contaminantes. “É necessário investir nos setores geradores de eletricidade, transporte, manejo de lixo, setor florestal e os de acesso a energia descentralizada em áreas rurais”, afirmou Figueres ao Terramérica. A especialista insistiu que caminhamos “para um futuro de tecnologia verde” e convocou governos e setor privado, porque “este é um trabalho de equipe”.
As emissões mundiais de dióxido de carbono no ano passado foram 5% maiores do que em 2008, afirma a Agência Internacional de Energia (AIE). Isto é “uma lembrança para todos os governos do mundo no sentido de que é urgente agir e não podemos oferecer soluções parciais ou de curto prazo”, disse Christiana. Segundo a AIE, as emissões do gás-estufa mais abundante alcançaram 30,6 mil megatoneladas no ano passado, muito perto do limite de 32 mil megatoneladas que não devem ser ultrapassadas depois de 2020 para manter em dois graus o aumento da temperatura mundial.
Se neste século a temperatura aumentar mais de dois graus, uma mudança climática desastrosa será inevitável, afirmam os cientistas. Os compromissos para reverter esta tendência devem ser alcançados na COP 17, que acontecerá no final do ano na África do Sul. Equipes técnicas e políticos se reúnem entre 6 e 16 deste mês, em Bonn, para acertar as diferenças entre os países negociadores
A Carbon Expo foi organizada entre 1º e 3 deste mês pelo Banco Mundial e pela Associação Internacional de Comércio de Emissões (Ieta), e reuniu mais de três mil participantes para debater as últimas novidades no financiamento climático e fazer negócios. A secretária de Estado para a Mudança Climática da Espanha, Teresa Ribera, também presente em Barcelona, concordou com Christiana em que “a economia da mudança climática tem de beneficiar os países em desenvolvimento, que são os mais vulneráveis, e também os que necessitam de maior aumento de seu capital e de sua capacidade para dar mais bem-estar à população”.
Teresa disse ao Terramérica que a Espanha fez uma aposta permanente para aproveitar os mercados de carbono como “ferramenta útil” a fim de facilitar um desenvolvimento distinto e a preservação das florestas na América Latina. “Fazemos com países amigos da América Central e América do Sul. Com eles aprendemos a contabilidade do carbono, o ciclo do carbono, o que permitiu construir pequenos projetos sustentáveis em gestão florestal”, explicou.
Segundo Teresa, por meio do Banco Interamericano de Desenvolvimento, da Corporação Andina de Fomento e do Banco Mundial, a Espanha exige que o dinheiro público que entrega vá para projetos, preferencialmente na América Latina, associados a energia limpa e gestão responsável do lixo. São “pequenos investimentos recebidos positivamente pela comunidade local para facilitar esta conexão de maior benefício social e proteção ambiental, o que é bom por si só, e também e rentável”, afirmou.
* A autora é correspondente da IPS.
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Carbon Expo, em inglês
Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, em espanhol, inglês e francês
Agência Internacional de Energia, em inglês
Banco Mundial, em espanhol, inglês e francês
Associação Internacional de Comércio de Emissões, em inglês
Banco Interamericano de Desenvolvimento, em português, espanhol e inglês
Corporação Andina de Fomento, em português, espanhol e inglês
Dia Mundial do Meio Ambiente, em português
Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.
As emissões mundiais de dióxido de carbono no ano passado foram 5% maiores do que em 2008, afirma a Agência Internacional de Energia (AIE). Isto é “uma lembrança para todos os governos do mundo no sentido de que é urgente agir e não podemos oferecer soluções parciais ou de curto prazo”, disse Christiana. Segundo a AIE, as emissões do gás-estufa mais abundante alcançaram 30,6 mil megatoneladas no ano passado, muito perto do limite de 32 mil megatoneladas que não devem ser ultrapassadas depois de 2020 para manter em dois graus o aumento da temperatura mundial.