TERRAMÉRICA - A pesca sustentável é um desafio possível

 

[media-credit name=”Fabricio Vanden Broeck/IPS” align=”alignright” width=”196″][/media-credit]Mais de 230 empresas de pesca, que exploram 12% do pescado e marisco capturados, estão em alguma fase de avaliação para obter certificados de pesca sustentável.

 

Londres, Inglaterra, 14 de março (Terramérica) – Em mais de um quarto das pescarias mundiais ocorre captura excessiva e mais da metade são pescadas plenamente, afirma a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). A pesca abusiva é um dos maiores desafios para a sustentabilidade no mundo de hoje. E está aumentando a pressão sobre este valioso recurso renovável. Há um bilhão de pessoas que dependem dos alimentos de origem marinha como única ou principal fonte de proteínas animais.

Até 2050, a população mundial passará de 6,2 bilhões de pessoas para nove bilhões. Mais gente, mais riqueza e maior demanda individual de alimentos aumentarão ainda mais essa pressão. Assim, a necessidade de manejar os pesqueiros de maneira sustentável é cada vez mais urgente. Apesar das catástrofes escritas sobre a indústria pesqueira internacional, também há algo a celebrar. Muitas frotas operam de modo sustentável. Outras realizam melhorias que podem levar a capturas mais estáveis, e talvez também a maiores taxas gerais de capturas, em algumas instâncias.

O Conselho Internacional para a Gestão Pesqueira Sustentável (Marine Stewardship Council, MSC) é uma entidade não governamental que busca soluções para a superexploração da pesca, dedica-se a identificar e premiar boas práticas e a criar incentivos para que a indústria melhore seu rendimento. Trata-se de aperfeiçoar a situação comercial mediante certificação e rotulagem confiáveis e, o que é mais importante, oferecer um crescente e provado exemplo em matéria ecológica.

O programa ampliou-se: mais de 230 empresas de pesca, que exploram mais de sete milhões de toneladas de pescados e mariscos (12% da captura mundial), estão comprometidas em alguma fase de avaliação. Há 103 companhias certificadas, e muitas usam o certificado MSC não só para manter seus mercados, como também para conquistar novos. Graças à liderança dos principais atores da indústria e aos esforços da comunidade ambientalista conseguiu-se a mais espetacular evolução no crescimento da demanda de alimentos marinhos sustentáveis, certificados e ecorrotulados pelo MSC.

São mais de oito mil tipos de produtos rotulados MSC em mais de 70 países que servem a um mercado de mais de US$ 2 bilhões ao ano. Muitos comerciantes, incluindo algumas das maiores empresas varejistas, como a norte-americana Walmart e a cadeia canadense de supermercados Loblaws, se comprometeram a obter 100% de seus pescados e mariscos de empresas certificadas pelo MSC. O aumento da demanda e o crescente apoio dos consumidores estimulam mais empresas a melhorarem seus rendimentos para garantir a obtenção de padrões do MSC.

Esta é a teoria da mudança executada pelo MSC para assegurar que haja suficientes alimentos marinhos para esta e as futuras gerações. Entretanto, não há soluções absolutas para a pesca excessiva. Uma sólida política pública e a erradicação da pesca ilegal, não denunciada e sem regulamentação, também são vitais no caminho para um futuro sustentado. Os certificadores independentes, acreditados por um órgão também independente, cumprem as avaliações do MSC: examinam as existências das espécies capturadas pelas frotas pesqueiras, o impacto ambiental dessa pesca e a qualidade de seu manejo.

Esses três princípios estão compostos por 31 minuciosos critérios para concretizar uma decisão cientificamente sólida com independência do MSC. Nenhum outro programa de avaliação da atividade pesqueira oferece o mesmo grau de transparência. Sabemos que algumas certificações recentes causaram controvérsias. Contudo, existe a evidência de que se obtém um verdadeiro beneficio ambiental, grande parte do qual responde ao desejo das empresas de obter certificados MSC.

A recuperação das existências de peixes da família gádidos do Alasca (como o bacalhau ou o badejo), a merluza Hoki ou neozelandesa, e os salmões de Colúmbia Britânica, no Canadá, são prova do adequado manejo dos pesqueiros. Em pesqueiros controversos, o processo do MSC ainda é necessário para permitir que os consumidores identifiquem as frotas que utilizam as melhores práticas. Embora tenhamos uma boa quantidade de coisas para comemorar, fica claro que muitas outras necessidades devem ser atendidas urgentemente, se quisermos garantir a saúde e a produtividade futuras de nossos oceanos. Isto só pode ocorrer com a ajuda de nossos sócios em todo o mundo.

* Rupert Howes é diretor-executivo do Conselho Internacional para a Gestão Pesqueira Sustentável (MSC, www.msc.org). Direitos exclusivos IPS.

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Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.