[media-credit name=”Claudius/IPS” align=”alignright” width=”125″][/media-credit]Se as companhias de seguro se negam a arriscar seu dinheiro assegurando a indústria nuclear, por que se deve obrigar as pessoas a arriscarem suas vidas?, questiona neste artigo Dietrich Fischer, diretor acadêmico da World Peace Academy.
Basiléia, Suíça, 28 de março de 2011 (Terramérica).- Alguns defensores da energia nuclear afirmam há tempos que um acidente grave em uma central atômica é tão provável quanto um meteorito se chocar com o planeta. Em 1975, a indústria nuclear pediu ao físico norte-americano Norman Rasmussen que fizesse um relatório para tranquilizar o público. Segundo o estudo, a probabilidade de ocorrer uma fusão completa do núcleo de um reator era de uma em 20 mil por reator por ano.
A realidade mostrou que essa é uma flagrante subestimação. Os três acidentes nucleares mais conhecidos e graves foram, em 1979, em Three Mile Island, nos Estados Unidos; em 1986, em Chernobyl, na Ucrânia, e agora em Fukushima, no Japão. Entretanto, houve muitos outros acidentes e fusões parciais de núcleos de reatores que liberaram radioatividade.
Um estudo encomendando pelo Greenpeace concluiu que o acidente de Chernobyl pode ter causado 200 mil mortes apenas na Bielorússia, Rússia e Ucrânia, entre 1990 e 2004. Os reatores de Fukushima I têm cerca de 30 vezes mais material radioativo do que o de Chernobyl e, além disso, o Japão tem uma densidade populacional maior do que a Ucrânia.
Ainda que não houvesse acidentes, não existe até agora solução para armazenar com segurança os dejetos radioativos. Um dos subprodutos, o Plutônio 239, tem vida média de 24.100 anos. Isso significa que passados 24.100 anos a intensidade da radioatividade que emite diminui apenas 50%. Serão necessários 241.100 anos para a radiação cair para um fator de mil, considerado um nível seguro.
Como podemos garantir que nossos descendentes não serão expostos aos perigos desses dejetos durante dez mil gerações? O princípio da precaução prescreve evitar o pior resultado possível de qualquer decisão. Isso implica que deveríamos desmantelar todas as centrais nucleares.
Existem alternativas para esta fonte de energia? Naturalmente que há meios seguros de produzir eletricidade com vento, Sol, ondas e a força do mar, que não contribuem para o efeito estufa, como ocorre quando se queima combustíveis de origem fóssil. O projeto Desertec tem por objetivo gerar eletricidade nos desertos mediante reatores solares e eólicos, para transmiti-las aos centros de consumo.
A primeira região onde será aplica é Oriente Médio, África do Norte (Mena) e Europa. Paineis solares e parques eólicos espalhados por 17 mil quilômetros quadrados (0,2% do Deserto do Saara) poderiam abastecer uma parte considerável da demanda elétrica do Mena e 15% da europeia.
Por que se utiliza a energia nuclear apesar de todos os perigos que apresenta? Porque é muito lucrativa para uns poucos a custa da segurança das demais pessoas. O serviço elétrico fornecido por uma central atômica pode ser cortado se os usuários não pagarem suas contas, mas a energia do Sol, coletada nos telhados das casas, não se corta e dá mais independência às pessoas. O lobby nuclear não quer que isto aconteça.
A democracia exige que os afetados possam tomar decisões e que os eleitores sejam completa e verdadeiramente informados. Ao público se mente sobre a segurança da energia nuclear e em muitos casos não é permitido que participe da tomada de decisões. Isto deve mudar. Todas as companhias de seguro se recusam, até agora, a cobrir acidentes nucleares porque não querem investir com base em alguns cálculos de certos cientistas que asseguram que o risco é baixo, e insistem em basear seus cálculos de risco na experiência real.
Como as seguradoras se negam a cobrir os acidentes nucleares, uma lei norte-americana, a Price-Anderson, de 1957, atribuiu essa cobertura ao governo federal. Outros países têm leis semelhantes. Isto constitui um enorme subsídio dos contribuintes para a indústria nuclear. Se o setor fosse obrigado por lei a proporcionar cobertura contra acidentes e custear a eliminação segura de seus dejetos, não teríamos mais reatores elétricos nucleares.
É verdade que a energia solar hoje é mais cara do que a nuclear. Mas isso se deve, em parte, ao subsídio que se dá à eletricidade nuclear e à escassa pesquisa de fontes alternativas. Se uma fração dos fundos de pesquisa em energia nuclear fosse dedicada a fontes seguras, como o vento e o Sol, provavelmente, já teríamos alternativas mais baratas.
Se as companhias de seguro, especialistas em estimar os perigos de acidentes, não desejam arriscar seu dinheiro, por que se deve obrigar as pessoas a arriscarem suas vidas?
*Dietrich Fischer é diretor acadêmico da World Peace Academy, diretor da Transcend University Press e autor de Nonmilitary Aspects of Security (Aspectos não Militares da Segurança) e Preventing War in the Nuclear Age (Prevenção da Guerra na Era Nuclear). Direitos exclusivos IPS.
Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.?