Uma organização não governamental está encarregada de dirigir um governo integrado de todas as áreas protegidas marinho-costeiras da Argentina.
Buenos Aires, Argentina, 28 de março de 2011 (Terramérica).- Governantes, ecologistas e empresários têm pouco menos de quatro anos para estabelecer a gestão conjunta de 43 áreas protegidas da costa atlântica argentina, um dos biomas mais produtivos e melhor conservados do mundo. De Punta Rasa, na oriental província de Buenos Aires, até o austral Canal de Beagle, estas áreas somam 1,6 milhão de hectares, metade mar e metade terra, em quase cinco mil quilômetros de costas no Oceano Atlântico.
Algumas são mundialmente vitais, porque protegem espécies únicas, como 50% das colônias de pinguins de Magalhães (Spheniscus magellanicus) ou o único local costeiro de reprodução da ave petrel gigante do Sul (Macronectes giganteus). Entretanto, são insuficientes. Menos de 1% do mar está protegido, e as porções sob proteção se distribuem de forma desigual entre diferentes regiões biológicas.
Com a finalidade de superar esta e outras debilidades, desde outubro de 2010 está sendo executado um programa para criar o Sistema Interjurisdicional de Áreas Protegidas Costeiro-Marinhas da Argentina. A direção do programa não está com o governo, mas com uma organização não governamental, a Fundação Patagônia Natural, com financiamento do Fundo para o Meio Ambiente Mundial (GEF) e administração do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).
“As áreas protegidas estão divididas, mas a ideia é colocá-las em rede e desenvolver uma estratégia de gestão que possa ser ampliada para todo o espaço costeiro marinho”, explicou ao Terramérica o coordenador do projeto, José María Musmeci. Durante quatro anos, se reunirão governadores das províncias de Buenos Aires, Chubut, Rio Negro, Santa Cruz e Terra do Fogo, e prefeitos dos municípios ribeirinhos. Também participarão os ministérios de Meio Ambiente, Pesca, Turismo e Relações Exteriores do governo argentino.
Na faixa costeira, são 25 cidades com mais de dez mil habitantes, com terminais portuários importantes, como Mar del Plata ou Bahía Blanca, em Buenos Aires, Puerto Madryn, em Chubut, e Ushuaia, na Terra do Fogo. Trata-se de fortalecer os acordos institucionais e sociais da governabilidade das reservas naturais, melhorar as formas de financiamento de longo prazo, e selecionar áreas protegidas para fortalecê-las, redesenhá-las ou ampliá-las. Também é preciso convencer as empresas do valor que tem a biodiversidade.
O cenário atrai pela cor sempre azul de suas águas e suas costas variadas, com pontas rochosas e abruptas. Pinguins, baleias, orcas, cormorões, lobos e elefantes marinhos são exemplos de espécies das costas patagônias. Mar adentro, podem ser encontradas enormes existências de espécies comerciais, como merluzas (Merluccius hubbsi), lulas (Illex argentinus) ou lagostins.
Esta riqueza está ameaçada por exploração de petróleo, pesca, turismo e contaminação urbana e industrial, disse ao Terramérica o oceanógrafo Guillermo Caille, coordenador técnico do projeto. A extração de petróleo produz renda anual de US$ 2 bilhões e responde por 70% da atividade econômica baseada nos recursos naturais da área costeira. A pesca, que contribui com 20% da economia costeira e exporta US$ 500 milhões ao ano, vê diminuir as existências ano a ano por descontrole na captura.
O turismo gera US$ 100 milhões por ano e 10% da atividade econômica. Todos estes setores vivem dos recursos que se busca proteger. Só o avistamento de fauna atrai um milhão de visitantes por ano. Os cruzeiros, cerca de “50 barcos que levam anualmente entre mil e cinco mil passageiros”, atracam em Buenos Aires, Puerto Madryn e Ushuaia, informou Guillermo. Algumas empresas deste ramo realizam boas práticas para conscientizar o pessoal e os turistas.
Outra ameaça são os resíduos sólidos e líquidos das cidades e indústrias. Para Guillermo, no setor público houve “avanços significativos” nos últimos 20 anos, mas no setor privado “faltam maiores progressos”, por isto, esta iniciativa busca um vigoroso intercâmbio com as empresas. Os vazamentos e a contaminação crônica de petróleo são os problemas mais graves da exploração petrolífera. “Os que se beneficiam dos serviços de um ecossistema devem contribuir também para sua conservação”, ressaltou Guillermo.
A empresa de capital argentino e chinês Pan American Energy – segunda produtora de hidrocarbonos deste país e primeira operadora na costa – baixou a guarda. Há dois anos, a Fundação Patagônia Natural capacitou especialistas da companhia e navios de exploração levaram a bordo dois observadores da entidade para que estudassem o impacto da atividade nos mamíferos marinhos, disse ao Terramérica a encarregada de Meio Ambiente da empresa, Elena Vicente.
Agora é preparada nova atividade conjunta: especialistas da Fundação vão monitorar um projeto de exploração a partir de uma plataforma petroleira em alto mar, para prevenir “qualquer contingência”, explicou Elena. O empresário da pesca Gerardo Dietrich, da Alpesca, filial do grupo sul-africano Irvin & Johnson, disse ao Terramérica que sua companhia também acompanhará o esforço.
“Estes projetos sempre são proveitosos porque permitem um conhecimento mais profundo da área”, ressaltou Gerardo. Além disso, a gestão integrada ajudará os governos a tomarem medidas que “disciplinem” todos igualmente, de maneira que o compromisso de conservação não se limite a uns poucos.
* A autora é correspondente da IPS.
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Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.