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O templo, localizado na capital do Estado de Kerala, agora é o mais rico do país, superando o popular templo Balaji de Tirupati, no Estado de Andhra Pradesh, que entre outros bens possui três toneladas de ouro. Acredita-se que uma das abóbodas do templo de Padmanabhaswamy, que não foi aberto devido a um complicado mecanismo de fechaduras, contenha a maior parte dos tesouros depositados ali pelos governantes do ex-Estado principado de Travancore.
Ao ser conhecido o volume de riqueza ali guardado, abriu-se a controvérsia sobre quem são seus proprietários. Pertence à família real que governou o agora extinto reino de Travancore ou ao seu sucessor, o Estado de Kerala? Ou, por acaso a uma fundação criada pelos ex-governantes quando terminou o regime colonial britânico, em 1947, dando lugar à união de Estados que se converteu na república indiana?
Considerando que duas abóbadas foram abertas pela última vez há 140 anos, terá alguma influência a Vistoria Arqueológica da Índia, que pode argumentar que o tesouro em questão tem mais de um século? Seema Alavi, professora de história medieval na Universidade de Nova Délhi, disse à IPS que uma solução seria guardar os melhores objetos (coroas incrustadas com gemas e ídolos de ouro sólido, entre outros) em um museu.
“Kerala tem uma longa história de comércio marítimo com os países do Oriente Médio e com o Ocidente, e as moedas acumuladas são um sinal do alcance do comércio”, disse Alavi, referindo-se aos ducados venezianos do Século 7 e a outras raridades numismáticas guardadas nos cofres. Alavi afirmou que o tesouro é claramente parte do patrimônio do povo de Kerala e da Índia. “Seria prático que parte da riqueza fosse investida no bem-estar da população, mas isto é algo que deve ser decidido pela Suprema Corte, porque, obviamente, envolve questões constitucionais”, acrescentou Alavi, autora de “The Eighteenth Century in India” (O Século Dezoito na Índia) e outras publicações.
O assunto foi levado ao máximo tribunal pelo atual chefe da família real de Travancore, Uthradam Thirunal Marthanda Varma, depois que a Suprema Corte de Kerala pediu ao governo estadual que assumisse o controle do templo como sucessor político da família real após a independência. Embora constitucionalmente a Índia seja um país secular, mediante uma série de legislações, o Estado indiano assumiu o controle dos principais templos hindus e passou sua administração aos círculos oficiais.
O controle que várias famílias reais exerceram sobre os templos cessou depois de 1971, quando a Índia legislou para proibir os títulos hereditários e os privilégios principescos, entre eles direito a dinheiro para gastos pessoais do monarca como compensação pela perda de renda estadual ao passá-los à nova união indiana. Entretanto, muitos chefes de famílias reais e seus palácios ainda desempenham um papel em cerimônias e festivais religiosos, bem como em procissões realizadas para perpetuar a tradição.
Seja qual for a decisão da Suprema Corte quanto ao templo de Padmanabhaswamy, é provável que tenha influência nos tesouros que continuam aparecendo em milhares de templos hindus espalhados por todo o país e que sobreviveram a guerras e invasões. Em fevereiro, quando a polícia investigava um roubo no templo de Jagannath, do Século 7, localizado em Puri, no Estado de Orissa, encontrou 18 toneladas de lingotes de prata. Ainda está em disputa a quem pertencem esses lingotes, e uma parte desse tesouro parece ter sido roubada.
Como era de se prever, organizações pró-hinduístas pressionam o governo para garantir que a riqueza encontrada em templos como o de Padmanabhaswamy fique nas mãos de seus fieis. “Embora esteja claro que a riqueza pertence somente ao templo e aos hindus, há certos interesses criados que tentam gerar confusão entre o público com argumentos falsos”, afirma um comunicado divulgado por Bharat Jagran, uma organização hindu internacional. A administração do templo deveria ficar nas mãos de uma fundação integrada por líderes espirituais hindus, chefes da família real, sacerdotes e representantes dos devotos de Padmanabha, acrescenta o comunicado.
Essas cobranças pode ser problemáticas no Estado de Kerala, que entre seus 32 milhões de habitantes tem duas grandes minorias: a cristã (20%) e a muçulmana (25%). O atual governo estadual, liderado pelo ministro-chefe Oommen Chandy, tentou evitar assumir o controle do templo e de seus bens, mas ordenou à polícia que permaneça no complexo para proteger o tesouro.
O jurista V. R. Krishna Iyer disse por telefone à IPS, de Kerala, que “é de interesse público entregar o tesouro a uma fundação nacional e gastá-lo no bem-estar dos pobres”. Iyer, ex-juiz da Suprema Corte e conhecido por seus pontos de vista progressistas, disse ser necessário um enfoque secular, já que o tesouro “não é totalmente hindu, contando com elementos estrangeiros, incluindo doações de diamantes exóticos, ouro sólido, grandes ídolos de prata e outras pedras preciosas”. O melhor para o tesouro é ficar sob controle de “um fiduciário que esteja alheio à religião e a toda denominação particular”, acrescentou Iyer. Envolverde/IPS