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Teste do HIV causa terror entre adolescentes do Zimbábue

No Zimbábue, quatro em cada 20 jovens sexualmente ativas, entre 25 e 19 anos, diz ter feito o teste do HIV nos últimos 12 meses. Foto: Jeffrey Moyo/IPS
No Zimbábue, quatro em cada 20 jovens sexualmente ativas, entre 25 e 19 anos, diz ter feito o teste do HIV nos últimos 12 meses. Foto: Jeffrey Moyo/IPS

 

Harare, Zimbábue, 25/11/2013 – Natalie Mlambo, de 17 anos, tem duas boas razões para fazer o teste do HIV, já que mantém relações sexuais sem proteção com seus dois namorados. Um é companheiro da escola secundária e o outro, mais velho, trabalha em um banco e lhe dá pequenos presentes e dinheiro em troca de sexo. “Deito com os dois”, disse Mlambo à IPS. E contou que, como mantém relações sexuais exclusivamente com eles, deixou de usar preservativos.

Contudo, Mlambo (nome fictício a pedido da fonte) tem horror ao teste do HIV. “É melhor ficar na escuridão do que saber que estou diante da morte. O tratamento não elimina a doença”, afirmou se referindo à aids, causada por esse vírus. Ela cursa o último ano da escola secundária no subúrbio densamente povoado de Kuwadzana, em Harare, e não é a única a ter múltiplos parceiros sexuais, nem o seu horror pelo HIV.

Essa resistência adolescente ao teste do HIV é um assunto cotidiano para Felicia Chingundu, ativista do grupo de apoio em HIV/aids em Shingai Batanai de Masvingo, cidade que fica 300 quilômetros a sudeste de Harare. Por que os adolescentes não fazem o teste? “Os adolescentes praticam condutas sexuais de risco mas pouco são vistos nos centros de exames”, garantiu Chingundu à IPS.

Na vizinha Zâmbia, as jovens entre 15 e 19 anos mencionaram o medo pelo resultado entre os motivos para não fazer o teste do HIV, ao responder a pesquisa Comportamento Sexual, de 2010, que apresentava opções múltiplas. As entrevistadas selecionaram o medo de conhecer o resultado (58%), medo da depressão e do suicídio (27%), medo do estigma (24%), medo de morrer mais rapidamente (24%), e não estar em risco de HIV (12%), como razões para não fazer o exame.

O Zimbábue aplicou sólidos programas de prevenção na década de 1990, aos quais se atribui ter baixado a incidência do HIV/aids de 24% em 2001 – uma das maiores do mundo – para menos de 15% em 2012, segundo o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/aids (Onusida). A população está sensibilizada com a pandemia, mas uma cascata de crises políticas e econômicas posteriores a 2000 reduziu numerosos planos antiaids nesse país de 12,5 milhões de pessoas, no sul da África.

Mais da metade dos jovens entre 15 e 24 anos têm conhecimento amplo sobre a aids, segundo a Pesquisa de Saúde Demográfica de 2011. A cifra é superior à média na região, mas o conhecimento não se traduz necessariamente em ação. O Ministério de Saúde Pública implantou centros móveis que visitam escolas e clínicas para realizar os testes. Mas os jovens dizem que os centros não estão desenhados para eles.

“A maioria dos adolescentes não vai a esses lugares porque dizem que estão cheios de adultos”, afirmou Mavis Chigara, coordenadora da Rede de Jovens Contra a Aids no distrito de Mwenezi, na província de Masvingo. Em 2012, sua organização pesquisou 12.500 jovens da área e apenas 5% haviam feito o teste de HIV. “Os testes equivalem a uma sentença de morte e tomar antirretrovirais é um peso para toda a vida”, afirmou Terrence Ghangara, um jovem de 19 anos de Highfield, um bairro de baixa renda de Harare.

O estigma desempenha um papel importante. Os nichos de discriminação persistem apesar dos programas de tratamento e das campanhas de informação maciça contra a pandemia. “Meus namorados fazem piada das pessoas com HIV/aids”, ressaltou Mlambo. Em sua opinião, essa atitude indicaria que não estão afetados pela aids, porque do contrário seriam mais benévolos.

A Pesquisa de Saúde Demográfica de 2011 encontrou taxas de incidência próximas de 4% para os homens jovens e de pouco mais de 6% para as mulheres jovens. Os dados do censo nacional estimam em 3,1 milhões a população de 15 a 24 anos. Os testes podem dar medo, e contar a um conselheiro que manteve relações sexuais de risco pode causar vergonha, mas as vantagens são muitas.

“É importante que os jovens conheçam seu estado quanto ao HIV, já que lhes permite iniciar um tratamento precoce e melhorar sua saúde”, enfatizou Judith Sherman, especialista em HIV/aids do Fundo das Nações Unidas para a Infância no Zimbábue. “Nos adolescentes mais velhos, reduzirá o risco de transmitir a doença para outra pessoa. Por fim, ajuda os jovens que não têm HIV a se manterem livres da infecção”, acrescentou.

Apesar do medo, quatro em cada dez mulheres sexualmente ativas de 15 a 19 anos disse ter feito o teste de HIV nos últimos 12 meses, segundo a Pesquisa de Saúde Demográfica. Uma razão frequente para fazê-lo é que as jovens ficaram grávidas e fazem exames pré-natal. “Os adolescentes raramente fazem o teste do HIV. Precisam de muito apoio para fazer isso”, afirmou Mandy Chiwawa, conselheira em aids de Harare.

Entretanto, mais pessoas de 15 a 24 anos fazem o teste, em comparação com a Pesquisa de Saúde Demográfica de 2006. A porcentagem de homens jovens sexualmente ativos que o fizerem triplicou até 23%, enquanto o número de mulheres quintuplicou até 45%. A média na África cai para 22% entre as mulheres e 14% entre os homens. Resta um longo caminho a percorrer e muitas Mlambo que precisam de ajuda para superar o medo, mas a tendência é animadora. Envolverde/IPS