Cidade do Cabo, África do Sul, 8/7/2011 – Cientistas sul-africanos desenvolveram um método para potabilizar água altamente tóxica sem prejudicar o meio ambiente, que, asseguram, poderá reduzir drasticamente o impacto da contaminação industrial. A engenheira química Alison Lewis explicou que 99,9% do líquido contaminado pode ser reutilizado com a nova técnica. Ao contrário de outras técnicas, a chamada cristalização eutética por congelamento quase não produz desperdícios tóxicos.
Lewis, professora na Universidade da Cidade do Cabo, começou as pesquisas em 2007 para chegar a esse método, que consiste em congelar a água ácida a fim de produzir água potável e sais úteis, como sódio e sulfato de cálcio. “É uma tecnologia que não prejudica o meio ambiente e é rentável, podendo ser usada em quase todos os setores industriais que contaminam água e produzir sais, entre eles mineração, gás e petróleo, química, processamento de papel, ou saneamento”, destacou a engenheira.
O método de separação e purificação simultânea consiste em baixar a temperatura da água contaminada até o ponto eutético, a temperatura mais baixa de solidificação dos elementos. As toxinas se cristalizam e formam sais que se assentam na base do recipiente, enquanto a água potável se congela e flutua na superfície.
“Por natureza, o gelo é o estado mais puro da água porque repele as impurezas. De fato, é muito simples”, explicou Lewis. “É um método ecologicamente significativo porque transforma desperdícios tóxicos em um produto útil”, afirmou. Companhias sul-africanas já demonstraram interesse, bem como outras alemãs, holandesas, canadenses e australianas, disse a engenheira.
O método de purificação de água contou com apoio da Comissão de Pesquisa de Água da África do Sul. “A cristalização eutética congelada é uma brilhante técnica para reciclar a água, muito melhor do que outros”, disse o responsável pela Comissão, Jo Burgess. Atualmente, a água contaminada pela indústria é purificada de duas formas, os sais são armazenados em grandes tanques de evaporação, com o perigo de contaminar lençóis freáticos, ou por meio da cristalização por evaporação, que exige grande quantidade de eletricidade.
A cristalização eutética utiliza seis vezes menos eletricidade do que o método de evaporação convencional, afirmou Lewis. “Além disso, os dois métodos deixam dejetos sólidos e não são ecologicamente sustentáveis”, acrescentou Burgess. As técnicas convencionais produzem sólidos perigosos, o acúmulo das toxinas nos sais, que depois devem ser processados de forma correta.
Na cristalização eutética por congelamento se obtém 99% de produtos utilizáveis, água potável e sais puros. “É totalmente ecológica”, insistiu Lewis. Além disso, as empresas podem vender os sais, o que para a engenheira pode ser um incentivo para utilizar o novo método.
Reciclar água tem um valor econômico. Para cada dólar investido para deixar a água potável é gerada uma “renda” em saúde, social e ecológica entre US$ 3 e US$ 34, diz um estudo da Iniciativa Econômica Verde, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), que ajuda os governos na realização de políticas, investimentos em diversos setores verdes.
“Investir em água potável traz múltiplos dividendos”, afirmou Achim Steiner, diretor-executivo do Pnuma. “Não é um luxo, mas uma ação prudente, prática e transformadora capaz de melhorar a saúde pública, garantir a sustentabilidade dos recursos naturais e incentivar o emprego de forma mais inteligente na gestão da água”, acrescentou.
A cristalização eutética por congelamento também pode ser usada na mineração da África do Sul, que há décadas produz mais sais do que as empresas podem reciclar. É a atividade econômica mais importante do país que produz ouro, platina, diamantes e carvão. Durante anos a água contaminada foi armazenada em grandes tanques de evaporação em todo o país.
“O problema é que produzimos muito mais sais do que pode evaporar. E ainda mesmo se conseguimos que evapore toda, os dejetos tóxicos não recicláveis permanecem. Os tanques de evaporação não são uma solução ecológica sustentável”, alertou Burgess.
A nova técnica pode ajudar o governo a economizar muito dinheiro. O Ministério de Assuntos Ambientais anunciou que precisa de pelo menos US$ 30 milhões para limpar os sais das áreas de mineração maiores, fora da cidade de Johannesburgo. A água ácida permanece em canais de Gauteng, a província onde fica Johannesburgo, a apenas 500 metros da superfície. Seu processamento deveria ser de alta prioridade, alertou a ministra do Meio Ambiente, Edna Molewa.
Contudo, ainda faltam entre quatro e seis anos para que o método de cristalização eutética por congelamento esteja disponível para uso industrial. A equipe de pesquisa de Lewis construirá uma unidade-piloto este ano. O projeto, de US$ 1,3 milhão estará operacional dentro de dois ou três anos e poderá purificar um metro cúbico de sais por hora. Depois dessa etapa, serão necessários outros dois ou três anos para desenvolver a tecnologia para uso industrial. Envolverde/IPS