O câncer de pulmão é um dos tumores mais comuns, principalmente em fumantes. Seu impacto na sociedade é devastador. A maioria dos pacientes, quando chega à atenção dos especialistas, se encontra na faixa mais avançada da doença. Estima-se que mais de 72% dos doentes com câncer de pulmão são diagnosticados com tumores grandes, invasivos, com metástases, tumores que se espalharam para gânglios linfáticos próximos ao pulmão ou a órgãos distantes como fígado, ossos ou cérebro.
São 72% de 200 mil casos novos nos Estados Unidos todos os anos. Mais de 20 mil brasileiros, segundo os dados oficiais mais recentes, receberão, nos próximos 12 meses, a confirmação de câncer de pulmão avançado, disseminado. Até poucos anos atrás, essa informação seria quase sinônima a um prognóstico péssimo, sofrimento prolongado, e morte precoce. Felizmente, isso mudou muito. Recentemente, a introdução de tratamentos mais eficazes e mais bem tolerados pelos pacientes está modificando, drasticamente, a evolução dos pacientes portadores de tumores malignos de pulmão.
Hoje, não é raro encontrar indivíduos com a doença disseminada, vivos por vários anos. E não há nenhuma mágica nisso. Os patologistas conseguem oferecer detalhes importantes observados nas biópsias dos tumores pulmonares. Separam subtipos de câncer e permitem que os oncologistas clínicos estabeleçam esquemas de tratamento mais adequados para cada tipo de tumor. Individualizar o tratamento de câncer tornou-se a norma. Um estudo publicado dois anos atrás conseguiu provar a eficiência de selecionar medicamentos de quimioterapia diferentes para cada um dos variados tipos de câncer de pulmão. O papel do patologista não poderia ter ficado mais fundamental no manejo desses doentes.
Outro estudo realizado por um grande grupo de cientistas, que atuam em institutos médicos ao redor do mundo, liderados pelo doutor José Rodrigues Pereira, pneumologista clínico do Centro de Oncologia do Hospital São José, da Beneficência Portuguesa de São Paulo, confirmou a vantagem dessa estratégia. A pesquisa foi publicada na prestigiosa revista especializada Journal of Thoracic Oncology. Os cientistas sortearam 260 pacientes diagnosticados com câncer de pulmão avançado, separados pelos patologistas especializados em subtipos de tumor. Baseados nessa classificação, eles sortearam os pacientes para receber dois tipos de quimioterapia. Administraram um esquema ao seguir a rotina convencional utilizada em todo o mundo, comparado com o esquema novo empregado nos últimos dois anos, considerado adequado para esse tipo de câncer de pulmão. Após o término do estudo, os pesquisadores observaram que mais da metade dos pacientes viveu períodos superiores a 14 meses.
Mais importante: o uso dos esquemas mais modernos, com medicamentos apropriados, foi significativamente mais bem tolerado pelos doentes. Houve uma redução drástica, superior a 55%, na incidência de complicações e de efeitos colaterais graves durante o tratamento quimioterápico. Esse estudo reafirmou as vantagens já descritas dois anos atrás. Para os pacientes com câncer de pulmão, brasileiros inclusive, essa estratégia está disponível, e poderá ser facilmente utilizada, com eficiência maior e menores efeitos colaterais. Uma esperança nova nessa luta contra um tumor frequente e devastador.
Mas o melhor modo de evitar a morte por câncer de pulmão é evitá-lo. Não fumar é o caminho mais fácil. E se fuma, pare. Quanto antes, melhor.
* Publicado originalmente no site da revista Carta Capital.