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Três anos de paz não trazem prosperidade ao norte do Sri Lanka

A estação de trem de Jaffna, destruída durante a guerra. Foto: Amantha Perera/IPS

 

Vavuniya, Sri Lanka, 8/11/2012 – Mamaduwa, uma isolada aldeia do distrito de Vavuniya, norte do Sri Lanka, ainda luta para esquecer o passado. Habitada por 130 famílias, fica na fronteira sul da antiga zona de guerra cingalesa, popularmente conhecida como Vanni. Praticamente todos os aldeões são cingaleses, a maior etnia deste país insular da Ásia meridional. Quando as tensões étnicas derivaram em uma guerra civil aberta, em 1983, a pequena aldeia se viu no meio do fogo cruzado entre as forças do governo e os rebeldes Tigres para a Libertação da Pátria Tamil (LTE), que exigiam um Estado independente no norte para essa minoria.

Em 1985, uma mulher e seu filho morreram por suposto fogo rebelde perto de Mamaduwa, o que provocou um êxodo em massa que esvaziou a aldeia em questão de poucos anos. As armas se calaram em maio de 2009, com a derrota dos rebeldes, mas os aldeões ainda não viram melhora em suas vidas. “Estamos contentes por regressarmos para nossa aldeia, mas não há nada mais que me faça feliz por estar aqui”, disse Sagara Sampath, de 25 anos, à IPS. Sampath, que viveu como refugiada durante duas décadas, ao menos tem trabalho na Força de Defesa Civil, o que lhe garante um dinheiro mensal.

Entretanto, outros aldeões não têm a mesma sorte, sobretudo porque os grandes projetos de desenvolvimento, que se estendem pela antiga zona de guerra, não chegam a Mamaduwa. A maioria dos aldeões vive da agricultura, embora uma forte seca em todo o país tenha praticamente paralisado os cultivos nos últimos meses. “Esta terra é fértil. Nada foi plantado aqui nos últimos 20 anos. Por isso, mesmo sem fertilizantes, uma boa colheita está garantida”, disse Sampath. Porém, isto não necessariamente significa mais renda e, mesmo com colheitas abundantes, os agricultores têm dificuldades para sobreviver.

Devido à defeituosa rede viária, que dificulta o acesso de seus produtos aos mercados, os agricultores não podem negociar preços maiores com os intermediários e vendedores da localidade de Vavuniya, a 30 quilômetros de distância. “Se as estradas estivessem melhores poderíamos economizar algum dinheiro”, pontuou Sampath. A antiga zona de guerra não carece apenas de boas estradas. Também falta eletricidade, escolas e centros de saúde, e os empregos também são escassos. O Banco Central disse que o norte foi uma das regiões do país de mais rápido crescimento entre 2011 e 2012, chegando a uma expansão de 27% depois da guerra.

Entretanto, uma pesquisa conjunta do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), do Programa Mundial de Alimentos e do Ministério da Saúde mostrava, no começo deste ano, que mais de 37% da população na Província do Norte vivia de trabalhos ocasionais. Economistas dizem que a principal razão das altas taxas de crescimento da província é a introdução de grandes projetos de infraestrutura, como estradas e eletrificação. Esta tendência, segundo o economista Muttukrishna Sarvananthan, pesquisador principal do Point Pedro Development Institute, com sede na cidade de Jaffna, não se traduz na criação de empregos.

Sarvananthan disse à IPS que a maioria dos projetos de desenvolvimento depende de alta tecnologia e de máquinas pesadas em lugar de mão de obra, abundante no norte. “Em uma área geográfica de pós-guerra, onde os níveis de educação e capacitação da população local, sobretudo dos jovens, são baixos, seria prudente aplicar métodos de construção que exijam mão de obra”, enfatizou. Para agravar as coisas, grandes empresas e firmas de investimento se mostram reticentes em se instalarem na antiga zona de combate. A única exceção é a MAS Holdings, uma grande empresa internacional do vestuário, que instalou três fábricas em Vanni.

Anush Wijesinha, economista do Instituto de Estudos Políticos, disse que a carência de empregos também se deve à falta de incentivo às pequenas e médias empresas. Funcionários públicos na região disseram à IPS que o governo reconhece a situação e que já tomou medidas a respeito. Roopavathi Ketheeswaran, funcionário do distrito de Kilinochchi, disse à IPS que estão sendo instalados na região centros de capacitação profissional para jovens, com vistas a fornecer mão de obra aos esforços de reconstrução. “Estão sendo dados passos especiais para envolver a juventude no processo de desenvolvimento”, indicou.

Roberto Peiris, secretário adjunto do Programa para o Renascer do Nordeste, vinculado ao Ministério de Desenvolvimento Econômico, concorda que uma das formas de gerar empregos é os projetos trabalharem com a mão de obra disponível. “Por isso, precisamos de tempo para desenvolver as habilidades dos trabalhadores”, ressaltou. Envolverde/IPS