Governo decretou estado de emergência em três províncias com forte aparato policial
Três civis foram mortos durante um protesto contra o projeto de mineração Conga, da estadunidense Newmont, no inicio da noite de terça-feira (03), na província de Celendín, no departamento de Cajamarca, no Peru.
Como parte das atividades de protestos que integram a greve geral – que já dura 33 dias – contra o megaempreendimento, os manifestantes se reuniram em frente à prefeitura da cidade para cobrar do prefeito, Mauro Arteaga García, uma posição contrária ao projeto.
Segundo Idelson Hernándes Llamo, um dos dirigentes do Comando Unitário de Luta da Região de Cajamarca, a Polícia Nacional Peruana (PNP) chegou avançando violentamente contra o grupo. “Era uma manifestação pacífica e a PNP simplesmente nos atacou com tiros e bombas de efeito moral”, acusa.
Conforme informa o setor regional de Saúde de Cajamarca, 15 pessoas ficaram feridas alvejadas por arma de fogo em supostos disparos realizados pela PNP, como também por causa do efeito das bombas de gás lacrimogêneo. Reynaldo Núñez, chefe do setor regional de Saúde de Cajamarca, confirmou a morte de Eleuterio García Rojas, de 40 anos, e de César Medina Aguilar, estudante de 17 anos. O terceiro nome ainda não foi divulgado.
O governo peruano decretou estado de emergência e a militarização das cidades de Celendín, Hualgayoc e Cajamarca. O estado de emergência é uma medida prevista pela lei peruana, que autoriza as forças armadas a apoiar a polícia na vigilância e controle da ordem pública, suspendendo direitos civis.
Mortes e desaprovação
Agora, o presidente Ollanta Humala Tarso já soma 15 mortes em seu governo na repressão contra as manifestações sociais. Só em protestos contra a mineração no Peru, chega a sete o número de mortos, incluindo as mortes de quatro civis em Espinar, ao sul do Peru, em maio passado. O governo de seu antecessor, Alan Garcia, contabilizou 191 mortes.
Apesar de ter sido o presidente mais votado nas províncias em toda a história peruana, Humala vê sua popularidade cair diante desses eleitores. Na última pesquisa realizada no final de junho, solicitada pelo jornal La República, Humala caiu de 53% de aprovação para 35% nessas localidades.
Para o gerente da GFK, empresa que organizou a pesquisa, Hernán Chaparro, “Lima é a que ainda sustenta o nível de popularidade do governante, justamente onde se concentra o maior poder aquisitivo no país”.
Os fatores de sua desaprovação apontados pelos entrevistados são a falta de cumprimento das promessas (71%) e a corrupção em seu governo (46%).
Para 75% dos entrevistados, o presidente deve viajar às zonas onde existem conflitos socioambientais pelo desenvolvimento de atividades mineradoras para negociar uma solução, como é o caso da província de Espinar e da própria região de Cajamarca.
O sociólogo Aldo Panfichi aponta que o resultado da pesquisa evidência a mudança de rumo do governo Humala. “Esta claro que quem votou por Humala não está satisfeito, enquanto a classe mais favorecida o respalda”, afirma.
Para Panfichi, “ 60% dos entrevistados dizem que o Peru está igual e isso, para um Governo que ganhou encarnando as aspirações de mudança, é bastante preocupante”, enfatizou.
* Publicado originalmente no site Brasil de Fato.