Nações Unidas, 3/7/2012 – Três dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), referentes a pobreza extrema, habitação e água, serão alcançados antes do prazo fixado de 2015, afirma um informe apresentado ontem. Entretanto, persistem importantes brechas na área crucial da saúde materna. O informe dos ODM 2012, realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU), também indica que a crise financeira afetou fortemente o progresso de muitas das outras metas.
“Alguns dos maiores desafios continuam sendo difíceis. Isto não significa que nos daremos por vencidos”, disse à IPS o ex-subsecretário-geral da ONU para o desenvolvimento econômico, Jomo Kwame Sundaram. Baseando-se em dados compilados por mais de 25 agências da ONU e organizações internacionais, o informe apresenta um panorama complexo e às vezes contraditório.
“Sou um pouco cético sobre o quanto é confiável a informação. Por exemplo, como entendemos uma situação na qual a pobreza parece diminuir e a fome aumentar?”, questionou Sundaram. A linha oficial de pobreza, fixada pelo Banco Mundial, é de US$ 1 por dia como renda por pessoa. Esta decisão foi “cômoda” e “arbitrária”, afirmou. “Um dólar pode ser suficiente para comprar comida na Índia, mas não no Brasil”, observou.
No entanto, Francesca Perucci, chefe da seção de planejamento e desenvolvimento da ONU, declarou à IPS que “algumas nações em desenvolvimento, devido aos seus escassos recursos, ainda enfrentam alguns desafios para assegurar que os programas destinados a reunir informação sejam realizados de forma regular. Portanto, dependem em grande parte de estudos patrocinados ou realizados por organizações internacionais”.
A Ásia oriental é a região com maiores progressos médios. A China registrou destacado avanço na redução da pobreza. Esse flagelo, que atingiu cerca de 60% dos habitantes desse país em 1990, afetava 13% em 2008. “Apesar de a desigualdade ter aumentado na China, o crescimento foi tão rápido que todos estavam melhores”, explicou Sundaram à IPS. Porém, a China aumentou suas emissões de dióxido de carbono de três bilhões de toneladas em 1990 para 8,3 bilhões de toneladas em 2009.
O Norte da África (Saara ocidental, Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia e Egito) também teve bom desempenho. Por exemplo, registrou-se uma queda na proporção de população urbana que vive em assentamentos precários, passando de 20% em 2000 para 13% em 2012. A África subsaariana apresentou uma grande melhora quanto à mortalidade materna, passando de 850 falecimentos para cem mil nascidos vivos em 1990 para 500 em 2010. Porém, estes resultados ainda estão longe da meta de 2015. Além disso, a região continua com a maior taxa de natalidade entre mães adolescentes (entre 15 e 19 anos).
A região da América Latina e do Caribe reduziu pela metade a proporção de pessoas pobres, isto é, que ganham menos de US$ 1,25 por dia, atingindo, assim, a meta antes de 2015. Passou de ter 12% de sua população nesta situação em 1990 para apenas 6% em 2008. O indicador relacionado com a fome se vê afetado pelos preços dos alimentos, entre outros fatores, indicou Perucci. “É preciso fazer mais, sem dúvida, para entender melhor todas as dimensões da pobreza. E a pobreza medida apenas pela renda não oferece uma imagem cabal das privações que sofrem os que não têm atendidas suas dietas básicas”, afirmou.
Segundo o informe, a quantidade de pessoas que vive com menos de US$ 1,25 ao dia no mundo caiu de 47% da humanidade em 1990 para 24% em 2008 (a informação disponível mais recente). Se continuar nesse ritmo, a taxa de pobreza extrema em nível mundial será menor que 16% até 2015. A água é outro campo no qual houve resultados positivos. A soma de pessoas com acesso a este recurso equivalia a 76% da humanidade em 1990, enquanto em 2010 o índice subiu para 89%. Estimativas indicam que até 2015 a cobertura chegará a 92% da população mundial, o que significa que a meta deverá ser alcançada.
Finalmente, o objetivo de conseguir “uma significativa melhoria na vida de pelo menos cem milhões de pessoas que moram em assentamentos precários” teve resultados diversos. Segundo o informe, a proporção de pessoas em favelas caiu de 39% em 2000 para 33% em 2010, o que significa que mais de 200 milhões de pessoas obtiveram acesso a melhores fontes de água, instalações sanitárias e moradia.
No entanto, o número absoluto de habitantes nesse tipo de assentamento precário continuou crescendo, devido fundamentalmente à intensa urbanização. As estimativas indicam que, atualmente, 863 milhões de pessoas no mundo vivem nesses assentamentos, contra 760 milhões em 2000. “Ainda que as metas sejam alcançadas até 2015, o trabalho não estará terminado”, considerou Perucci. “Os ODM demonstraram ser um importante marco para o desenvolvimento, e serão a base sobre a qual se construirá a agenda a partir de 2015”, acrescentou.
Por outro lado, a saúde materna é a meta que teve menos progresso. Reduzir as mortes maternas e melhorar a saúde reprodutiva exige diferentes intervenções, incluindo assegurar transporte para os hospitais, oferecer profissionais capacitados e garantir um mínimo de quatro visitas ao médico como parte do cuidado pré-natal (recomendadas pela Organização Mundial da Saúde). “Houve progressos visíveis no fornecimento de alguns serviços de saúde reprodutiva, embora não tão rápidos como em outras áreas dos ODM”, ressaltou Perucci.
Cada um dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio tem diferentes metas. No total, são 21, verificadas por meio de 60 indicadores. Envolverde/IPS