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Turismo ameaçado pela mudança climática

A praia de Fort Clarence, em Portland Bight, uma das mais visitadas pelos turistas. Foto: Zadie Neufville/IPS

Kingston, Jamaica, 12/6/2012 – Especialistas temem que o impacto da mudança climática nos frágeis ecossistemas da Jamaica exacerbe os estragos causados pela atividade humana e destrua por completo a indústria turística local. O turismo é um dos poucos setores deste país caribenho que cresce apesar da queda da economia. Essa indústria aumentou 4,2% entre 2002 e 2007, arrecadando aproximadamente US$ 2 bilhões por ano, cerca da metade das divisas que entram na ilha, e representa um quarto de todos os empregos.

O setor está consciente dos desafios que enfrenta, disse à IPS a responsável por políticas sobre mudança climática do Ministério do Turismo, Tina Williams. As projeções indicam que o nível do mar crescerá ao ponto de inundar grande parte das áreas costeiras, afetando a infraestrutura, os hotéis e as atrações, explicou a ministra. Também se prevê que chuvas mais intensas e furacões, alternados com dias mais secos e quentes, aumentem a pressão sobre os ecossistemas e a indústria do turismo.

Porém, Williams observou que, embora o setor não esteja trabalhando especificamente contra a mudança climática, diversos atores implantam estratégias de redução de desastres e programas para tornar esta indústria mais resistente. “A mudança climática exacerbará todas as vulnerabilidades do setor, que sofrerá com deslizamentos e inundações. Sem dúvida, o turismo sentirá o impacto, considerando que há muitos pequenos empresários dependentes da agricultura local”, destacou.

O turismo jamaicano é especialmente vulnerável por sua dependência dos ecossistemas naturais, e já sofreu danos irreversíveis em várias áreas. Informes indicam que pelo menos 30% da vegetação costeira original da ilha foi perdida. A maior parte dos 1.240 quilômetros quadrados de arrecifes de coral, com 111 espécies, morreu pela combinação de doenças e atividades humanas.

Do restante dos arrecifes, cerca de 60% estão em risco, segundo o World Resources Institute informou em 2010. A enxurrada agrícola e o lançamento de águas residuais na costa também afetaram os arrecifes. Segundo dados do governo, os balneários de Negril, Montego Bay e Ocho Ríos, bem como várias partes da costa sul, na área protegida de Portland Bight, sentiram o maior impacto.

O biólogo marinho Andrew Ross disse que a atual descoloração dos corais, a sobrepesca, o desmonte de terras e a contaminação, particularmente por esgoto, são os principais fatores da perda de arrecifes. “Vários locais onde há visitas turísticas regulares sofreram muitos danos acidentais e causados pelas âncoras” dos barcos, e também pela coleta de objetos marinhos para decoração, explicou Ross.

No entanto, a situação preocupa mais na costa de Negril. Ali as dunas de areia há algum tempo deram lugar a casas de concreto, hotéis e estações depuradoras de água. A propagada destruição da vegetação costeira, das florestas e dos mangues dá uma ideia na região dos estragos que a mudança climática provocará em nível geral. A infraestrutura turística de Negril foi construída às custas de seus mangues costeiros. As florestas de mangue na costa e as pradarias de ervas marinhas foram eliminadas para permitir a criação das brancas praias que os turistas adoram.

No entanto, agora, essa reluzente areia que gera a metade das divisas que entram no país está desaparecendo a um ritmo que varia entre 50 centímetros e um metro ao ano. Algumas áreas perderam até 55 metros de praia nos últimos 40 anos. A erosão, segundo cientistas da Universidade das Índias Ocidentais, é resultado direto do desenvolvimento. Com a remoção dos mangues, foram destruídos organismos que habitavam o leito marinho e ajudavam a produzir pelo menos metade da areia.

“As atividades humanas também tiveram um importante papel” na degradação dos arrecifes, afirma um relatório do Projeto para o Desenvolvimento de Metodologias Frente a Riscos e Vulnerabilidades, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). O estudo também reconhece que fenômenos externos não são menos importantes. O documento diz que o tradicional uso de ervas marinhas para compostagem destinado à agricultura também afetou o leito do mar. Além disso, muitos jamaicanos usam os mangues como combustível e material para construir suas casas.

As previsões indicam que o número de turistas que visitam a Jamaica totalizará 3,1 milhões até 2050, mas a mudança climática poderá fazer esse número cair para 2,7 milhões, afirmam especialistas. Para reduzir o impacto e reparar parte do dano, a ilha realiza um amplo programa de adaptação ao aquecimento global e de redução de riscos, replantando árvores e mangues, além de ervas marinhas. Uma organização não governamental local, com ajuda do setor privado jamaicano, está criando um arrecife de coral artificial na área de Portland Bight e outro em Negril.

Williams afirmou que o Ministério do Turismo também trabalha com outras agências para sensibilizar todos os atores. Algo central para o plano de adaptação é o processo de Valorização dos Recursos Naturais, que atribui valor monetário aos bens da natureza, explicou à IPS o economista ambiental Maurice Mason. “Estamos construindo uma fórmula que nos ajudará a determinar o valor de nossos recursos naturais, pois queremos desenvolvê-los, preservá-los para o futuro ou somente tê-los pela satisfação de tê-los”, ressaltou. Envolverde/IPS