Buenos Aires, Argentina, 27/6/2011 – O turismo excessivo e a mudança climática são os principais motivos que tiram o sono de organizações ambientalistas e dos governos dos países signatários do Tratado Antártico, que completou 50 anos de entrada em vigor. Reunidos em Buenos Aires por duas semanas, desde o dia 20, na XXXIV Reunião Consultiva do Tratado, cerca de 300 representantes dos países vinculados ao acordo, especialistas e ativistas analisam os novos desafios que enfrenta o continente gelado.
Verônica Cirelli, da Fundação Vida Silvestre Argentina (FVSA), que participa do encontro como representante da sociedade civil, afirmou em conversa com a IPS que existe preocupação pelos “graves impactos” do aumento global da temperatura na região. “As emissões de gases-estufa, que provocam a mudança climática, não são geradas na Antártica, mas seus efeitos são sentidos ali, a Oeste da península”, disse Cirelli, que também coordena o programa Coalizão Antártica e do Oceano Austral da FVSA.
O IPCC (Painel Intergovernamental de Especialistas em Mudança Climática) diz que a Oeste da península a temperatura média aumentou quatro vezes mais do que no resto do planeta. Embora seja mais conhecido o impacto do aquecimento no Ártico, os especialistas firmam que o gelo marinho da Antártica cobre hoje uma superfície 40% menor do que há 26 anos nessa parte de península.
Esta alteração tem um alto impacto em espécies emblemáticas como os pinguins Adélia e imperador, e também sobre o krill, os crustáceos que estão na base da cadeia alimentar e são, em si mesmos, alimentos de espécies como a baleia. Cirelli disse, ainda, que os Estados-partes do Tratado Antártico observam um “alarmante crescimento do turismo” na região, uma atividade que, embora não deva ser proibida, precisa ser regulada de maneira a manter esta frágil região como um continente prístino.
A Secretaria do Tratado Antártico, criada em 2004 e tem sede permanente em Buenos Aires, informa que aproximadamente 46 mil pessoas visitam o continente a cada ano, uma influência que deixa marcas. Por sua vez, a Coalizão Antártica e do Oceano Austral, integrada por 150 organizações ambientalistas de diversos países, assegura que esses passeios, que acontecem desde 1950, cresceram “dramaticamente” na década de 1990.
No verão austral de 1990-1991 foram 4.698 os turistas que chegaram à Antártica em barcos e aviões, e este número saltou para 36.875 na temporada 2009-2010, segundo a Coalizão, da qual a FVSA faz parte. “Esta atividade deve ser regulada de maneira exaustiva a fim de evitar qualquer impacto”, afirmou Cirelli.
Atualmente, só existem guias e diretrizes para o turismo, mas não regras adequadas para um bem como o que se busca preservar. Os amantes do turismo de aventura, dispostos a pagar preços muito elevados pela excursão, podem viver uma experiência única ao passear por esses mares gelados entre icebergs. Porém, também devem saber dos riscos que correm e como sua simples presença – ainda que transitória – afeta a rica biodiversidade, explicou Cirelli, que recordou os frequentes acidentes com navios no gelo e eventuais vazamentos de petróleo.
O Tratado Antártico foi assinado em 1º de dezembro de 1959, em Washington, em uma época em que se acreditava que as ameaças principais sobre esta região passavam pela eventual mineração ou por uma incursão militar, incluindo testes de armas atômicas nesta região vulnerável. Ao assiná-lo, os países com reclamações territoriais as suspenderam e declararam a Antártica zona de paz, onde só é possível ter assentamentos para pesquisa científica em um ambiente de cooperação internacional.
Inicialmente, foram 12 os governos signatários. Os mesmos que realizavam atividades científicas na Antártica: Argentina, Austrália, Bélgica, Chile, Estados Unidos, França, Japão, Noruega, Nova Zelândia, Grã-Bretanha, África do Sul e Rússia. Depois chegaram 16 membros plenos e 20 aderentes. Todos avançaram em um conjunto de protocolos e acordos de proteção ambiental que hoje fazem parte do sistema de regulações do Tratado. Periodicamente, os membros se reúnem em uma reunião consultiva que é precedida pelo encontro mais técnico do Comitê para a Proteção do Meio Ambiente na Antártica. A deste ano terminará no dia 1º. Envolverde/IPS