Representantes da União Européia e dos Estados Unidos praticamente acabaram com as esperanças de sucesso da próxima Conferência do Clima (COP17) na África do Sul ao afirmar que um tratado internacional é impossível.
Faltando ainda mais de seis meses para a Conferência do Clima de Durban (COP17), na África do Sul, a impressão que se tem é que o encontro está fadado ao fracasso antes mesmo de começar.
Nesta quarta-feira (27), após o Major Economies Forum on Energy and Climate (MEF), reunião de dois dias da qual participaram representantes das 17 maiores economias no mundo, Todd Stern, enviado norte-americano para mudanças climáticas, e Connie Hedegaard, comissária de ação climática da União Européia, declaram que a criação de um acordo climático global com força de lei ainda em 2011 é praticamente impossível.
“Pelo que ouvi nos últimos dois dias, é altamente improvável que um acordo seja estabelecido em Durban. Apesar de todos concordarem que ele é importante para o futuro do planeta, não será possível resolver todas as divergências ainda este ano”, explicou Hedegaard.
Para Todd Stern, o problema está em quem deveria ser obrigado a adotar metas de emissões. “Nossa visão é de que todos os grandes países devem ser incluídos no acordo. Assim, China, Índia, Brasil e África do Sul não podem ficar de fora. O modelo do Protocolo de Quioto não é mais viável”, afirmou Stern.
Segundo Quioto, apenas os países ricos possuem metas obrigatórias e devem comprar créditos para não ultrapassá-las. Essa é uma das razões pelas quais os Estados Unidos nunca assinaram o Protocolo.
Durante o MEF, foram discutidos temas como redução das emissões, incentivos para energias renováveis e ações de mitigação às mudanças climáticas.
Também foram debatidos os acontecimentos das últimas rodadas de negociações climáticas, como a criação do Fundo Verde do Clima, que promete US$ 100 bilhões por ano para os países mais vulneráveis.
O último fato importante relacionado ao Fundo foi o anúncio, no dia 18 de abril, dos 40 membros do comitê que terá a obrigação de detalhar o funcionamento da ferramenta. Entre eles está o brasileiro Sergio Barbosa Serra, embaixador especial para mudanças climáticas.
Durban
Se não for criar o acordo climático global, que utilidade terá a COP 17?
O futuro do Protocolo de Quito deverá assumir o papel de grande debate da Conferência. Muitas nações estão preocupadas com o fim do tratado em 2012, pois isso acabaria com qualquer meta obrigatória sobre os países industrializados. Além disso, todo o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e os mercados de carbono dependem de Quioto e precisam saber o quanto antes o que acontecerá nos próximos anos até para garantir a presença de investidores.
Para Hedegaard, a reunião poderia ainda se focar nas emissões dos setores de transportes, colocando pressão na Organização Marítima Internacional e em outras entidades para que adotem metas.
“Desde 1997 a OMI foge dessa obrigação. Está na hora dos países demonstrarem que estão ficando sem paciência”, disse a comissária.
Outros assuntos também deverão ganhar importância, como ações para frear o desmatamento e a criação de esquemas de transferência de tecnologia e recursos.
Mesmo com a posição da União Européia e dos Estados Unidos, dificilmente as nações mais vulneráveis, como as insulares, deixarão de cobrar a discussão do acordo global.
Esse impasse, se não for trabalhado até novembro, promete paralisar a COP17 já no primeiro dia de negociações.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.