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Última chamada para a justiça climática

Mary Robinson. Foto: Cortesia da fundação que leva seu nome
Mary Robinson. Foto: Cortesia da fundação que leva seu nome

 

Nações Unidas, 7/10/2013 – A justiça climática, ligação entre os direitos humanos e a mudança climática, deve ser um pilar da agenda de desenvolvimento a partir de 2015, segundo Mary Robinson, ex-presidente da Irlanda (1990-1997).

As comunidades pobres sofrem de modo desproporcional com problemas de saúde, custos financeiros e alterações sociais e culturais desatados pelo aquecimento global, afirma a ex-alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos (1997-2002), que criou e dirige a Fundação Mary Robinson – Justiça Climática.

Em conversa com a IPS, Robinson se referiu aos desafios e às oportunidades que os países em desenvolvimento enfrentam, especialmente os pequenos Estados insulares, que podem sobreviver ou se extinguir nas próximas décadas.

IPS: Em 2009, durante a 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, em Copenhague, na Dinamarca, a senhora disse que não via jornalistas ou ministros de países industrializados expondo a urgência do aquecimento global. Acredita que a Assembleia Geral da ONU apresentou este ano alguma mudança?

MARY ROBINSON: Me surpreende haver mais chefes de Estado e ministros de países em desenvolvimento que não falam sobre suas realidades, apesar de sofrerem cada vez mais pelas alterações climáticas. Falam em particular, mas, por algum motivo, não querem demonstrar vulnerabilidade. Nisso se diferenciam os chefes de Estado dos pequenos países insulares, que talvez sucumbam aos efeitos da mudança climática. Não têm opção, por isso falam e pedem justiça climática. Conhecemos a realidade, e também entendemos que as comunidades que não contribuíram para o problema têm que se beneficiar da economia baixa em carbono que devemos adotar, em particular no acesso a energias baratas e renováveis.

IPS: Muitos países pobres se veem no dilema de escolher entre o desenvolvimento econômico e o custo de proteger o meio ambiente. O que fazer?

MR: Há custos injustos que pesam sobre os países pobres. Necessitamos muito mais apoio para a adaptação e para a resiliência climática, seja em áreas rurais ou em cidades. Estive conversando com a presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf. Em razão do clima, talvez ela precise trasladar parte da população da Monróvia, capital do país, e não tem orçamento para isso. Assim, necessitamos de muito mais apoio para a adaptação e também para as tecnologias que ajudem os países pobres a se beneficiarem do crescimento sem carbono. Há muitos exemplos de cooperação Sul-Sul, por exemplo, em matéria de energia, inclusive no âmbito local, e sinto um grande entusiasmo em promovê-los ao máximo. No entanto, devemos reconhecer que estamos chegando a um período muito difícil. Se não fizermos o certo em 2015 e não conseguirmos um acordo justo, consistente e equitativo, que nos mantenha abaixo dos dois graus de aquecimento, para os países com grande crescimento populacional será muito mais difícil enfrentar a segurança alimentar e se adaptar. Por isso, este é um momento precioso, e é por isso que a justiça climática se vincula a uma boa agenda de desenvolvimento sustentável para todos os países, para que assumam mais responsabilidade em reduzir as emissões (de gases-estufa) e um acordo climático justo.

IPS: A senhora se mantém em contato com o que acontece na Irlanda?

MR: Sim, e também diria que a Irlanda assume sua responsabilidade. Como ex-presidente, não participo de questões políticas internas, e isso é fácil de entender. Porém, a Irlanda é um bom país para, a partir dele, se trabalhar com segurança alimentar, porque temos uma reputação muito boa na luta contra a fome, e estou orgulhosa disso. Envolverde/IPS