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Um ano depois, vazamento da BP ainda causa doenças

Washington, Estados Unidos, 2/8/2011 – Quando os moradores de Jean Lafitte, no Estado da Louisiana, nos Estados Unidos, ficaram sabendo da explosão da plataforma da British Petroleum (BP), o prefeito Tim Kerner incentivou todos a unirem-se para limpar as águas do Golfo do México. Foi a única coisa que lhe ocorreu fazer para impedir que o óleo destruísse sua comunidade, cujos integrantes trabalharam dia e noite com esse objetivo. Agora, um ano depois de a BP ter conseguido fechar o poço que acabou espalhando o equivalente a cinco milhões de barris de petróleo no Golfo do México, a maioria dessas pessoas está doente.

“Temo que meus vizinhos venham e digam: não teria te escutado e continuado com o trabalho se soubesse que isso me mataria”, disse Kerner. Sua história foi uma das muitas compartilhadas por Kerry Kennedy, presidente do Robert F. Kennedy Center for Justice and Human Rights (RFK – Centro Robert F. Kennedy para a Justiça e os Direitos Humanos), em uma conferência realizada no dia 27 de julho, um dia após ter enviado uma delegação à costa do Golfo do México para avaliar o alcance da crise sanitária causada pelo vazamento.

“Os moradores da área estão doentes. Desconhecem a causa exata da enfermidade, mas, como nunca sofreram desta maneira antes do vazamento e todos participaram da limpeza em seus barcos de pesca, suspeitam que tenha algo a ver com as toxinas”, disse Kennedy à IPS. O óleo começou a se espalhar no dia 20 de abril de 2010, quando a plataforma de exploração Deepwater Horizon, que a BP arrendara da firma suíça Transocean, explodiu e dois dias depois afundou. Somente em junho daquele ano foi possível conter o vazamento.

Segundo Anne Rolfes, diretora-fundadora da organização ambientalista Lousiana Bucket Brigade, quase 75%, dos que estiveram em contato com o petróleo ou o dispersante nele despejado, disseram ter apresentado sintomas que correspondem aos da exposição química. A organização de Rolfes associou-se à Academia de Liderança em Resiliência a Desastres, da Universidade de Tulane, para realizar uma pesquisa com a população que vive nas comunidades afetadas.

“Tosse, irritação respiratória e ocular foram os sintomas mais comuns”, disse Rolfes à IPS. Os consultados “descreveram que os sintomas apareceram e desapareceram repentinamente, e isto seria consistente com uma espécie de onda de exposição química, mesmo quando se considera aspectos como as alergias”, acrescentou. Contudo, Kennedy disse à IPS que os médicos da área não estão certos de vincular os sintomas de seus pacientes ao petróleo. “Não têm a perícia necessária para fazer um diagnóstico em toxicologia, não sabem como tratar esse diagnóstico, e se tentarem tratá-lo correm o risco de perderem suas licenças médicas”, afirmou.

“E em uma região predominantemente rural onde a maioria dos pacientes é de trabalhadores independentes e sem nenhum seguro, os centros médicos ficam muito longe e o acesso a especialistas em toxicologia é quase impossível”, acrescentou Kennedy. Mesmo se os conhecimentos estiverem disponíveis, “poucos podem pagar os caros exames e remédios necessários para tratar um envenenamento”, continuou. Nessa ocasião, os colegas de Kennedy expressaram esperança de que o Congresso norte-americano preserve o financiamento de uma rede de “centros de excelência” em matéria de saúde.

Esta cobrança é oportuna, quando o debate sobre o orçamento sacode os parlamentares com pedidos de redução de fundos para programas cruciais para as vítimas pobres do vazamento de petróleo, que agora têm novas preocupações relacionadas à saúde. “Pensamos que é uma crise séria, e o governo federal tem de aferrar-se a isso de um modo mais agressivo e dar os meios para garantir que as centenas de milhares de pessoas afetadas pelo vazamento tenham cobertura de saúde”, enfatizou Philip Johnston, presidente da diretoria do RFK Center.

Houve pouca menção à BP e aos seus sócios, os quais, enfrentando as possíveis ramificações legais do desastre, se comprometeram a criar um fundo de compensação de US$ 20 bilhões para ajudar os prejudicados pelo vazamento. No começo de julho, o procurador-geral dos Estados Unidos, Eric Holder, informou a Kenneth Feinberg (designado para administrar as demandas relacionadas com a BP) que o Departamento de Justiça iniciaria uma auditoria independente com base em críticas à transparência do processo seguido por Feinberg.

Um informe, apresentado no dia 25 de julho, diz que o processo é um “fracasso abjeto”, e diz que até agora o fundo pagou apenas 16% das demandas apresentadas. Um estudo da organização Advogados pelos Direitos Humanos Ambientais (AEHR) informou discrepâncias no modo como Feinberg administrou as reclamações de fundos de desastres anteriores pagos com dinheiro de contribuintes – como o caso do 11 de setembro de 2001 – e as reclamações do Fundo de Compensação do Vazamento Petrolífero da BP, cujos pagamentos derivam da própria companhia petrolífera.

“Concluímos que, em desastres anteriores, os que apresentaram reclamações não precisaram mostrar provas de causalidade. Tudo o que precisaram fazer foi dizer que estavam doentes” e que estavam nesse lugar, disse à IPS Michele Roberts, coordenador de campanhas e políticas da AEHR. No caso do fundo de compensação da BP, os moradores da área do Golfo ficaram sabendo que suas reclamações são rejeitadas se não podem provar que a BP ou o dispersante usado são a causa de sua doença, disse Roberts, acrescentando que a inconsistência é “uma violação direta dos direitos humanos”.

Rolfes disse à IPS que, enquanto não vir a construção de centros de saúde em cada distrito prejudicado pelo vazamento, não considerará que a resposta foi adequada. “Agora precisamos de atenção com a saúde e isso deveria ser financiado pela BP. Não está certo o contribuinte arcar com os gastos do desastre petrolífero da BP”, afirmou. Envolverde/IPS