Um novo olhar sobre a política

Uma nova forma de fazer política se alastra pelo mundo. São movimentos como a Primavera Árabe em diversos países do oriente Médio, e o Ocupe Wall Street, em Nova York. No Brasil o Instituto Democracia e Sustentabilidade fortalece o debate sobre essa nova política.

Uma participação política que vai além dos partidos, mas que seja uma construção coletiva, participativa, capaz de abordar e debater dilemas que unem políticos, artistas, militantes sociais e ambientais, jovens e intelectuais. Esse é o espaço de atuação do Instituto Democracia e Sustentabilidade, que reúne muitos dos integrantes da campanha presidencial da ex-senadora Marina Silva. No final de novembro o IDS promoveu um encontro em São Paulo, com a participação de diversos intelectuais e militantes, para debater conceitos e caminhos para esta nova maneira de ser e fazer política. Um dos pensadores do grupo, o professor Ricardo Abramovay, ligado à Faculdade de Economia da USP, explica que ainda não há registro de experiências políticas bem sucedidas no mundo que não tenham como base a estrutura dos partidos políticos. Para ele o que está acontecendo é a uma construção coletiva baseada no bem comum, mas que “política não pode prescindir de representação”.

Marina Silva, também presente, vê nessa tendência de mobilização independente o reflexo de uma certa descrença da sociedade em relação aos políticos tradicionais. “O excesso de promessas não cumpridas levou o atual modelo de democracia representativa a um impasse”. A ex-senadora vê com esperança os movimentos de construção coletiva. Para ela é importante compreendermos que as coisas se movimentam independente de vontades ou de planejamento. “Não fosse assim ainda estaríamos da idade da pedra”, explica.

Também estiveram presentes Carla Mayumi, responsável pela pesquisa “O Sonho Brasileiro” e o cientista político e pesquisador da UFRJ  Giuseppe Cocco, o que deu ao debate uma riqueza de opiniões. Mayumi conta que em sua pesquisa os jovens desmontaram uma grande força participativa, vontade de fazer juntos. “Eles acreditam de fato no que estão fazendo”, testemunha. Essa nova maneira de buscar o protagonismo político mostra como o modelo convencional está debilitado. Cocco menciona a “ditadura do centro” personificada nas figuras de José Luis Zapatero, na Espanha, e Nicolas Sarkozy, na França. Mas alerta que ainda não há fórmulas de transição, mas sim um movimento que se espalha e inclui cada vez mais gente.

Alguns consensos começam a surgir, mesmo que novas fórmulas ainda sejam muito questionadas. O principal deles é que a  democracia representativa está demonstrando um certo escarçamento. A profissionalização dos partidos cria distorções na representatividade dos eleitos e deixa muitos espaços para a corrupção. Ao falar sobre os excessos do mundo contemporâneo – isolamento, produção e consumo -, Marina destacou que  “os partidos na forma como estão não vão se deixar atravessar pelos movimentos. Eles vão querer sempre atravessar os movimentos”. Ela afirma que é preciso inverter essa lógica, formando partidos e candidatos que serão “servidores dos movimentos”, identificados com as ideias defendidas pelos militantes. “O Estado brasileiro tem dono: os partidos. É preciso um novo pacto político para devolver o Estado brasileiro à sociedade”, defendeu.

No evento, o IDS, além de lançar o seu site, apresentou também o processo da Escuta Ativa, dinâmica por meio da qual vai ouvir e também discutir com a sociedade, buscando constituir-se em um canal de participação, agregação e valorização de iniciativas em curso.

Estudo

Durante o encontro foram divulgados os resultados da pesquisa qualitativa “Política cidadã – reflexões e caminhos”, encomendada pelo IDS à empresa Ideafix. O estudo foi realizado no município de São Paulo com 100 jovens entre 18 e 25 anos, divididos em grupos de 8 a 12 pessoas, e mais 30 formadores de opinião selecionados a partir de uma lista de indicações baseadas em competências temáticas.

Os jovens, nos grupos, expressaram espontaneamente opiniões fortes sobre a política, associando-a a termos negativos como “nojo”, “raiva” e “vergonha”. Mesmo os que tem atividade política em grêmios ou em comunidades não se mostraram interessados em seguir a carreira. Ao mesmo tempo em que estão descrentes em relação à mobilização política, os entrevistados mostraram-se entusiasmados ao construir uma cidade ideal. Nela, haveria mais instâncias de participação política, mais transparência mais prestação de contas. (Envolverde)