Muitos dos manifestantes são jovens, estudantes de graduação subjugados pelo endividamento e inseguros quanto ao seu futuro. Spenser Williams, graduado e mestre em História Natural na Universidade Prescott no Arizona, trabalha numa loja de bicicletas no Maine, enquanto paga seu crédito educativo. Ele veio a Nova York para protestar. “Estou de saco cheio do quanto a ganância e o lucro de curto prazo interferem na política”, disse Williams.
O momento foi perfeito. O primeiro-ministro grego George Papandreou cancelou sua visita à Assembleia Geral das Nações Unidas para assegurar um outro empréstimo para o seu país quebrado. Desde o dia 17 de setembro, os manifestantes estão ocupando o Parque Zuccotti, próximo ao coração do mercado financeiro de Nova York, em Wall Street, para protestar contra a dominação das corporações sobre a política.
Muitos dos manifestantes são jovens, estudantes de graduação subjugados pelo endividamento e inseguros quanto ao seu futuro. Os organizadores do protesto, inspirados pelos eventos em Madri e na Praça Tahrir, chamaram milhares para descerem a Wall Street e protestarem contra a economia, impregnada da política capitalista que fracassou em entregar o que prometeu.
“Os bancos foram resgatados e nós fomos vendidos!”, cantavam os manifestantes, enchendo a Brodway em direção ao Parque, passando por vários expectadores nas calçadas, alguns parecidos com turistas, outros, simples observadores curiosos.
A mensagem dos manifestantes ressoou claramente sobre um pequeno grupo de turistas de Madri, parados ao lado do protesto, mesmo sem entender inglês. Jesus Garcia, um homem de meia idade com óculos e uma câmera no pescoço, estava acompanhado de duas mulheres. Ele disse em espanhol que tinha entendido imediatamente a mensagem do protesto como um reflexo do que tinha visto nas manifestações dos indignados, de 15 de março, na Plaza del Sol, na capital espanhola.
“É como a luta deles (em Madri) contra a pobreza e os empreendimentos bancários, que causaram esta crise, em primeiro lugar. Eu concordo com os manifestantes”, disse Garcia.
Um bombeiro, que ajudou a resgatar vítimas dos ataques ao World Trade Center no 11 de setembro de 2001, falou no dia 24 de setembro no protesto. De acordo com outros manifestantes, um pequeno número de ex-banqueiros mostrou seu apoio ao movimento. Isso atraiu alguns observadores e muitos simpatizaram com as demandas dos manifestantes, inclusive os trabalhadores locais, ferreiros e outros empregados. Outros transeuntes, de terno completo, disseram que não estavam a par do que se passava e não podiam comentar.
Alguns pedestres aborrecidos às vezes disparavam comentários contra os manifestantes. Um homem vestido de calça caqui e um parca amarelado disse, aos berros dos tocadores de tambor que estavam cantando: “Arrumem um emprego!”.
Muitos manifestantes naquele dia indicaram que gostariam de um emprego.
Spenser Williams, graduado e mestre em História Natural na Universidade Prescott no Arizona trabalha numa loja de bicicletas no Maine, enquanto paga seu crédito educativo. Ele veio a Nova York para protestar.
“Estou de saco cheio do quanto a ganância e o lucro de curto prazo interferem na política”, disse Williams.
Um homem corpulento, na casa dos seus 50 anos, estava segurando um incenso de Nam Champa, que, disse ele, “uma garota bonita me deu”. Richard Nash tinha cabelo curto e vestia um boné de baseball. Ele estava enfiado numa jaqueta vermelha e parado na esquina do Parque, do lado de fora, observando o que acontecia, com seu companheiro de trabalho, Nick Kaye. Ambos são corretores de seguros que trabalham no Edifício Liberty Plaza. Nash não acredita que o capitalismo desenfreado ou o socialismo puro sejam a resposta. No entanto, estava convencido de que o protesto era importante.
“Os manifestantes estão expondo um substrato da realidade”, observou Nash.
Ele reiterou a percepção de incerteza imbuída com uma intuição de que as coisas possam estar mudando. “Eu acredito que estamos na ponta de um iceberg”.
Nash não tinha certeza de para onde o protesto estava indo, mas simpatizava com a garotada da universidade que estava na Praça expressando suas preocupações, porque muitos, acrescentou, já estão atolados em dívidas e no desemprego.
“Nós deveríamos simplesmente ter empregos decentes para as pessoas decentes… porque tem de haver futuro…”.
Animado pela proposta “taxação Buffet” de Obama, a qual propõe mais impostos sobre os ricos, a discussão rapidamente chegou na dívida nacional. Nash e seu colega Kaye propuseram o ideal norte-americano de todos pagarem a sua parte justa.
“Todo mundo tem de ter sua parte no jogo”, ele disse, referindo-se à necessidade para todos os norte-americanos de contribuírem. Ele acredita que os norte-americanos deveriam ser taxados à proporção de sua renda e local de moradia, porque Nova York é mais cara para viver do que o Alabama. Kaye afirmou que deveria haver um plano de taxação para todo mundo, enquanto ambos concordaram com a máxima: “eliminar as facilidades para os ricos”.
Dois homens estavam deixando um jantar indiano no Nassau/Cedar, um na casa dos 30 anos e o outro, mais velho. Ambos trabalhavam como investidores ao sul de Wall Street. O mais jovem, com sua gravata ainda apertada depois de ter feito o que chamou de refeição apimentada, explicou que o problema é maior do que Wall Street e mais complexo do que as manchetes de jornal descrevem.
“Muitos processos se passam nos bastidores”, disse ele. Seu colega mais velho brincou que “Obama deveria taxar os pobres”.
A segurança era rígida. A legião modelo de banqueiros não estava disposta a aproveitar o dia de verão almoçando em seu lugar habitual do mercado de ações porque o caminho estava bloqueado.
Poonan e Frank, dois manifestantes no começo dos 50 anos, atravessaram as barricadas a pé para espalhar a mensagem e recrutar mais manifestantes. A respeito da solução tributária proposta por Obama, Poonan comentou: “Em vez de vender planos, o que nós de fato precisamos é de uma ajuda honesta. Simplesmente dar dinheiro ao povo, não às corporações”.
Frank, ex-marxista oriundo de um programa de doutorado no College City, disse que a economia dos Estados Unidos está sofrendo porque “parou a industrialização e agora está produzindo dívida”. Frank reconheceu que momentos de tumulto, no entanto, trazem à tona períodos de mudança.
“Este é um momento divisor de águas. Os próximos dez anos devem se mostrar muito interessantes”, acrescentou Frank.
Tradução: Katarina Peixoto.
* Publicado originalmente no site Agência Carta Maior.