Uma copa do mundo movida a emoções e muito lixo

Lixo nos Estádios da Copa do Mundo no Brasil. Foto: www.inbs.com.br
Lixo em estádio da Copa do Mundo no Brasil. Foto: www.inbs.com.br

 

Não faltaram emoções e momentos inesquecíveis na Copa do Mundo realizada no Brasil. No balanço final podemos até mesmo afirmar que o evento foi um grande sucesso!!

Agora toda essa festa também registrou seu lado pouco edificante. E não me refiro aos problemas na organização, mas ao fator geração de lixo. A sujeira dos estádios e seus arredores, nos locais das chamadas fan fests e em outros pontos com concentração de torcedores, resultaram em grandes quantidades de lixos espalhados. Um triste espetáculo a unir patrícios e estrangeiros.

O despreparo público em enfrentar a situação acompanhada de uma falta de educação generalizada agravou em muito a situação.

O pior é que o volume de lixo durante a Copa do Mundo aumentou significativamente! Acostumadas a produzir 43 mil toneladas diárias, nas 12 cidades-sede esse número foi acrescido em mais 14 mil e quinhentas toneladas por dia, segundo dados levantados pela Abrelpe – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais.

Uma quantidade especialmente impactante em cidades menores que não estão preparadas para esse excedente de lixo sendo descartado. Os piores exemplos estão com as capitais Cuiabá, no Mato Grosso e Natal, no Rio Grande do Norte. Em dias normais Cuiabá produz em torno de 500 toneladas de resíduos, só a Copa aumentou em mais 1.150 toneladas, ou seja, mais de duas vezes o que o cuiabano está acostumado a descartar.  Em Natal, em média, são geradas por dia mais de 770 toneladas de resíduos. Apenas o total da Copa é responsável por mais 915 toneladas diárias, na capital Potiguar.

Até em cidades maiores o aumento também foi bastante significativo como os verificados em Porto Alegre e Brasília com 70% e Curitiba e Manaus com cerca de 50% a mais. Mesmo cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, já acostumadas com imensas quantidades de resíduos geradas diariamente, o impacto também foi grande. Só para se ter uma ideia, a festa realizada no bairro da Vila Madalena (zona oeste da cidade e que concentrou durante toda a competição grande número de torcedores) registrou apenas após o segundo jogo do Brasil contra o México, cerca de 40 toneladas de lixo!

Recicláveis recolhidos

Mesmo que insuficientes alguns esforços foram feitos para dar conta dessa realidade. O Ministério do Meio Ambiente informou que foram investidos cerca de R$ 2 milhões na contratação de 1,5 mil catadores para atuarem nas 12 cidades-sede no recolhimento de materiais nos estádios e nas Fan Fests. Antes da realização das partidas das semifinais e da final já haviam sido coletadas cerca de 182 mil toneladas de resíduos recicláveis. Uma montanha de resíduos que nos leva a perguntar que, mesmo tendo sido encaminhadas para uma destinação correta, o que devemos esperar de nosso futuro se em todas as nossas atividades são necessárias à produção e descarte de tal quantidade de materiais?

Isso quando imaginamos que foram efetivamente coletadas e encaminhadas para o destino mais correto que é à volta ao setor produtivo no que chamamos de logística reversa. Mas inúmeras vezes esses materiais perfeitamente reutilizáveis ou recicláveis vão parar em aterros sanitários e, o que é ainda pior, em locais totalmente inapropriados como terrenos baldios, rios e mares, causando enormes prejuízos para as pessoas e para o meio ambiente.

Um outro tipo de vencedor

Bem, a Alemanha levou merecidamente o título da competição, mas também podemos afirmar que tivemos um outro tipo de campeão nesse que é considerado o maior evento esportivo do planeta.

Apesar de sua equipe não ter passado da fase de grupos, quem deu aula de civilidade e uma goleada fenomenal na falta de educação foi à torcida japonesa ao recolher os resíduos gerados nos estádios após as partidas. Uma bela imagem que ficará registrada para uma importante reflexão pós-Copa.

Reinaldo Canto é jornalista especializado em Sustentabilidade e Consumo Consciente e pós-graduado em Inteligência Empresarial e Gestão do Conhecimento. Passou pelas principais emissoras de televisão e rádio do País. Foi diretor de comunicação do Greenpeace Brasil, coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente e colaborador do Instituto Ethos. Atualmente é colaborador e parceiro da Envolverde, professor em Gestão Ambiental na FAPPES e palestrante e consultor na área ambiental.