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Uma corrida de obstáculos

Lagos, Nigéria, 5/4/2011 – Dificuldades para distribuir o material de votação em todas as seções no final de semana forçaram o adiamento do início das eleições presidenciais, legislativas e locais na Nigéria. A última complicação de um processo acidentado. A campanha eleitoral foi manchada por episódios violentos, atentados com bomba e ataques armados contra atos políticos, assassinatos e confrontos entre adversários.

“A violência complicará a participação, as pessoas terão medo de serem atacadas quando forem votar”, alertou a coalizão Nigeria Elections Situation Room (Sala de Emergência para as Eleições da Nigéria), que defende a realização de eleições confiáveis. Porém, o fator decisivo para o adiamento foi a distribuição de material e a designação de funcionários. Algumas pessoas já haviam votado quando ocorreu a interrupção.

As eleições legislativas acontecerão no dia 9 e as presidenciais no dia 26.

Doze dos 36 Estados do país sofreram episódios de violência durante a campanha eleitoral, segundo o Comitê de Informação e Mídia sobre Gestão de Emergência (Micem), integrado por porta-vozes de agências de segurança e de emergência da Nigéria. “Esses Estados concentraram a atenção pública e das manchetes da imprensa sobre atividades agressivas de partidos e atores políticos”, disse o diretor de Informação da Defesa e do Micem, coronel Mohammad Yerima.

Nas últimas duas semanas morreram pelo menos 20 pessoas em confrontos políticos, informou a organização Anistia Internacional, com sede em Londres. “A violência causa imenso dano ao país e às suas instituições”, lamentou o subdiretor da Anistia para a África, Tawanda Hondora, em um comunicado divulgado no dia 1º. “Os políticos devem assumir a responsabilidade por suas ações e conter seus partidários antes que as eleições se transformem em um caos”, acrescentou.

As ameaças contra defensores dos direitos humanos dificultam seu trabalho como supervisores, fundamental para garantir o bom desenvolvimento da votação. A Anistia também está preocupada com as maciças detenções realizadas pelas forças de segurança e da ordem que disparam sem avisar. Por outro lado, são poucos os que se surpreenderam com os acontecimentos.

“O poder é doce”, disse à IPS Morris Alagoa, da Organização para as Liberdades Civis. “A violência está vinculada à busca de poder. Os políticos atuam como leões feridos para alcançá-lo a todo custo”, acrescentou. A ocupação de cargos públicos promete o controle de milhares de milhões de dólares procedentes da renda obtida com o petróleo.

O presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, originário do Sudeste deste país rico em petróleo, disputa a presidência com outros três candidatos. O ex-chefe de Estado, general Muhammadu Buhari, do Congresso por uma Mudança Progressista, será novamente candidato à presidência, após uma tentativa em 2003. O outro presidenciável é o ex-diretor da agência contra a corrupção, Nuhu Ribadu, do Congresso de Ação da Nigéria.

Vários grupos de interesses do Norte estão descontentes com a possibilidade de reeleição de Goodluck porque, segundo eles, atenta contra um acordo interno do governante Partido Democrático Popular para que um presidente do Norte alterne com outro do Sul. Partidários de Goodluck afirmam que ele foi vice-presidente do governo do Norte Umaru Yar’adua e que assumiu a presidência em maio de 2010 devido à morte do titular do cargo.

O Fórum de Líderes Políticos do Norte, integrado por muçulmanos, tentou obter a renúncia dos outros dois presidenciáveis para ter um candidato único e derrotar Goodluck. “Será uma eleição difícil para o atual presidente, se for competir contra um único candidato do Norte”, disse à IPS o analista Tunde Akanni, da Universidade de Lagos. O problema da candidatura de Goodluck tem origem em uma velha rivalidade política entre Sul e Norte, cristãos e muçulmanos, respectivamente, que muitas vezes termina em violência.

Mais de 14 mil pessoas morreram em razão de confrontos étnicos e religiosos nesta nação africana entre 1999 e 2009, informou o Grupo Internacional de Crise, com sede em Bruxelas. O governo enviou soldados e outras forças de segurança a todo o país numa tentativa de conter a violência. A Comissão Nacional Eleitoral Independente havia anunciado que suspenderia as eleições onde fossem registrados problemas.

“É preocupante a ocorrência de distúrbios em zonas onde os candidatos temem perder porque se pode influir no resultado”, disse à IPS o opositor Patterson Ogon, candidato a uma vaga no Legislativo no Estado de Bayelsa, no delta do Rio Níger. “A Comissão eleitoral deve investigar todos os episódios de violência antes de divulgar um resultado”, acrescentou. Envolverde/IPS