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Uma forma sionista de defender os palestinos

Jerusalém, Israel, 30/06/2011 – O rabino Arik Ascherman é um ardente sionista e religioso que acredita que Deus fez um pacto com seu povo e a terra de Israel e, ao mesmo tempo, um persistente lutador em defesa dos direitos humanos, especialmente dos palestinos. “Creio que a melhor forma de proteger meus filhos e salvaguardar seu futuro é lutar pela justiça e tomar partido do sofrimento dos palestinos”, disse Ascherman à IPS.

O desajeitado rabino, com sua espessa barba e o emaranhado de mechas sob um solidéu andando pelas colinas da Cisjordânia, pode ser confundido com um dos fanáticos colonos judeus que enfrentam os palestinos. Mas é bem o contrário. Ascherman ajuda os agricultores palestinos a colher azeitonas, reconstruir as casas destruídas pelo exército israelense e a cavar poços de água. Também é comum que se coloque como escudo humano quando soldados e colonos judeus atacam os palestinos.

“Não há nada como se deixar ser golpeado pelas forças de segurança israelenses para formar um laço comum com eles e dar-lhes uma nova perspectiva de quem consideram seu inimigo”, riu Ascherman, integrante da organização Rabinos pelos Direitos Humanos. “Fui atacado e detido várias vezes e preso uma vez por policiais e soldados israelenses, mas também os palestinos quebraram o vidro do meu carro pensando que se tratasse de um colono”, contou Ascherman, casado, com dois filhos, que chegou a Israel em 1994 procedente dos Estados Unidos.

A organização foi criada em 1988 para defender a causa dos pobres israelenses e defender os direitos das minorias, incluídos os palestinos. Também luta contra o abuso de trabalhadores estrangeiros, pela igualdade de gênero e pela erradicação do tráfico de mulheres. Em 2006, recebeu o destacado prêmio da Paz Niwano por trabalhar em um contexto interconfessional e, em 2011, Ascherman e o rabino Ehud Bandel receberam o prêmio Gandhi pela Paz.

O sionismo é comparado ao racismo e fanatismo porque é associado com a expulsão dos palestinos de seu histórico território e a violação de seus direitos. A organização afirma que defende a autêntica voz dos sionistas e a tradição judia de defender os direitos humanos. “Há diferentes correntes sionistas, as que são religiosas e as que não são. Algumas me aborrecem e desagradam, mas não representam todos os judeus”, disse Ascherman ao ser consultado sobre a expropriação de terras dos palestinos para criar o Estado de Israel, em 1948.

“Houve sionistas que foram excludentes e não quiseram compartilhar o território com os palestinos. Também houve os pioneiros sionistas socialistas que estavam dispostos a fazê-lo e eram vistos junto a eles na vanguarda da revolução social”, afirmou o rabino. “Creio no direito dos judeus de viver em Israel e de existir, mas a tradição judia diz que a justiça e os direitos humanos triunfam sobre a criação do Grande Israel”, acrescentou.

Grande parte do trabalho da Rabinos pelos Direitos Humanos se desenvolve na Cisjordânia, onde, graças às suas ações legais, agricultores palestinos puderam novamente ter acesso às suas hortas, após vários anos de proibição. O trabalho da entidade em Jerusalém oriental sofre enorme pressão. A situação na Cisjordânia se tranquilizou um pouco, mas em Jerusalém oriental a tensão é grande. Ascherman considera possível uma terceira intifada (levante palestino) e que ele ocorreria nessa parte da cidade.

“Na Cisjordânia posso utilizar certas ferramentas da democracia israelense para lutar pelos direitos dos palestinos e chegar à mídia. Mas em Jerusalém a situação é outra. Vejo os mesmos sinais de raiva e frustração entre os palestinos que precederam a segunda intifada”, observou.

Segundo Ascherman, “as autoridades israelenses estão decididas a limitar a presença palestina em Jerusalém oriental e continuar fazendo dali lugar para seus colonos. Muitas dessas iniciativas estão financiadas por judeus ricos do exterior”. Todas as pessoas estão obrigadas a desempenhar seu papel, inclusive se o problema não é resolvido imediatamente, acrescentou. Envolverde/IPS