Busan, Coreia do Sul, 1/12/2011 – Os delegados africanos presentes no 4º Fórum de Alto Nível sobre Eficácia da Ajuda ao Desenvolvimento voltarão para casa hoje, com muitas histórias inspiradoras para tentar fazer com que seus países consigam economias de renda média. A maioria dos Estados da África tem uma situação muito melhor do que tinha há cinco décadas o país anfitrião, a Coreia do Sul que, agora com uma economia sólida, oferece uma alternativa para os que desejam criar associações que permitam melhorar o crescimento.
Os delegados africanos ouviram com atenção o presidente sul-coreano, Lee Myung Bak, na cerimônia de abertura do encontro, no dia 29, quando relatou o longo e penoso caminho que sua população precisou seguir para chegar a ser um país desenvolvido. Foram necessários sacrifícios dolorosos, mas deram seus frutos, afirmou.
“A história do desenvolvimento econômico e da democratização da Coreia do Sul está cheia de alegrias e tristezas, de gente que precisou trabalhar duro para escapar da pobreza e sonhou em ter uma vida decente”, disse o mandatário. “As pessoas costumam me perguntar qual a chave do sucesso da Coreia do Sul. Sem dúvida, foi o poder da educação”, ressaltou.
“Mesmo quando não havia comida suficiente para levar à mesa, os pais sul-coreanos sacrificaram tudo para educar seus filhos. Essas crianças cresceram e encabeçaram o desenvolvimento econômico. Creio que a educação é a chave para o progresso das pessoas, dos países e do mundo”, afirmou Bak.
O consultor queniano Moses Dura espera que a África esteja escutando. “A ajuda é uma boa ideia. Está destinada a complementar os recursos locais. Contudo, na maioria dos países africanos, os regimes políticos são corruptos”, afirmou. No Quênia, por exemplo, houve várias acusações sobre corrupção em ministérios importantes, como Educação, Água e Terras, acrescentou.
A corrupção e a falta de responsabilidade nos governos são um câncer que consome os esforços dos países africanos para se converterem em economias de renda média e serem menos dependentes da ajuda. A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, exortou, na mesma cerimônia, as nações em desenvolvimento a assumirem e exercerem sua responsabilidade pela lentidão do desenvolvimento.
Muitas organizações da sociedade civil aproveitaram a presença de Clinton para apontar os Estados Unidos por sua responsabilidade na falta de efetividade da assistência. A secretária reconheceu que seu país mantém uma ajuda condicionada que não pode ser totalmente livre. Isto ocorre apesar do consenso geral de que a ajuda não condicionada é um elemento substancial da efetividade. Isto é, que o dinheiro dado ao país beneficiário sob este conceito seja destinado à assistência ao desenvolvimento.
“Entre 2005 e 2009, duplicamos a proporção de ajuda não condicionada, de 32% para 68%”, disse Clinton. “Ainda necessitamos que uma porcentagem da ajuda continue condicionada para conseguir apoio político para os orçamentos que transformamos em assistência ao desenvolvimento”, explicou a secretária.
Na medida em que 2015 se aproxima, inúmeros países africanos estão muito interessados em que funcione a ajuda para atingir os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). O presidente Lee dedicou algumas palavras aos países africanos que acreditam ser muito tarde para alcançar essas metas.
“Quando era pequeno, a Coreia era um dos países mais pobres do mundo. O produto interno bruto era inferior a US$ 100 por habitante e o país estava repleto de gente sem trabalho”, contou. “Entretanto, em meio século, a Coreia do Sul se reconstruiu, emergiu das cinzas de uma guerra devastadora e da extrema pobreza e instaurou uma democracia e uma economia vibrantes. Firmemente, creio que o Fórum de Busan permitirá alcançar os ODM e construir um mundo melhor para todos”, acrescentou.
Agora, mais do que nunca, a África tem uma grande oportunidade para conseguir um crescimento substancial. Michael Sudarkasa, especialista da Nova Aliança para o Desenvolvimento da África (Nepad), disse que há novas oportunidades para mobilizar recursos por meio de associações com China, Índia e inclusive Brasil. “Porém, a África precisa de doadores que sigam as estratégias de desenvolvimento de seus países, ao mesmo tempo em que proporcionam ajuda”, afirmou. “O setor privado africano deve ter um papel muito maior para alcançar os ODM. Os investidores que chegam à África buscam representantes dessa área para criar associações de mútuo benefício”, disse Sudarkasa.
Hillary Clinton também destacou a importância de forjar alianças para “ajudar os países ricos em recursos naturais a escaparem da fuga de matéria-prima que os fazem ricos em petróleo e ouro, mas pobres no restante”. Para isso, os Estados Unidos trabalham com Gana e Tanzânia, e disse que o Brasil faz o mesmo com Moçambique no setor agrícola, pois os dois países têm solos semelhantes, além do mesmo idioma, afirmou. Sudarkasa disse que pedirá urgência aos países africanos a fim de “elevarem o impacto combinado que oferecem essas oportunidades e para aplicarem os fundos dos doadores de forma a reconhecer que a ajuda é um catalisador para melhorar o desenvolvimento econômico e humano”. Envolverde/IPS