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Uma oportunidade para a paz no Paquistão

Vítima do atentado de 17 de maio contra uma mesquita em uma aldeia do distrito de Malakand, na província paquistanesa de Jyber Pajtunjwa, que matou 13 pessoas. Foto: Ashfaq Yusufzai/IPS

 

Paquistão, 29/5/2013 – Nesta cidade do noroeste do Paquistão se respira um pouco melhor desde que o primeiro-ministro eleito, Nawaz Sharif, propôs iniciar um diálogo com o proscrito Tehreek-e-Taliban Pakistan (TTP), o que renovou as esperanças de paz. O TTP manteve aterrorizadas as Áreas Tribais Administradas Federalmente (Fata), vizinhas da província de Jyber Pajtunjwa, da qual Peshawar é a capital. Os ataques se intensificaram nos dias anteriores às eleições do dia 11 deste mês, e deixaram uma esteira de sangue entre dirigentes políticos da região.

A declaração de Sharif, de que “conversar com o Talibã não é uma opção ruim”, gerou uma sensação de alívio entre moradores desta província e em especial das Fata, que suportou a pior parte dos atentados que se sucedem desde 2001. O porta-voz do TTP, Ihsanullah Ihsan, comemorou a oferta e a considerou um sinal positivo. “Idealizamos uma estratégia sobre o curso das ações a serem tomadas em resposta às conversações de paz”, afirmou.

O terrorismo é o principal problema a ser resolvido pelo novo governo para colocar o país no caminho do progresso, disse à IPS o ativista da eleita Liga Muçulmana do Paquistão (LMP-N), Rehmanullah Jan. “Desde 2005, perdemos 49 mil pessoas, entre elas cinco mil soldados, por causa do Talibã”, destacou. Outras agrupações também apoiaram a iniciativa. O partido Paquistan Tehreek-e-Insaf (PTI), encabeçado pelo ex-astro do críquete Imran Jan, esteve, de fato, à frente da campanha para dialogar com os talibãs. Esse partido integrará um governo de coalizão em Jyber Pajtunjwa.

Pervez Jan Jattack será o ministro-chefe desta província. “Damos a maior prioridade ao estabelecimento da paz e ao fim do terrorismo”, disse Jattack à IPS. Se o terrorismo não acabar, não haverá possibilidade de desenvolvimento social e econômico. “O exército realiza uma operação militar nas Fata desde 2005. Mas o resultado tem sido zero e o TTP ainda domina na maioria dos sete distritos tribais das Fata”, acrescentou. “Se nos últimos oito anos não foi possível eliminar pela força, manter conversações parece ser a melhor opção”, ressaltou.

Sobre o ramo de oliveira que Sharif está oferecendo, o analista Said Akram, do departamento de ciências políticas da Universidade de Peshawar, disse à IPS que o Talibã ofereceu ao governo, em março deste ano, manter conversações. No entanto, o governo do Partido Popular do Paquistão (PPP), que deixa o governo, “não demonstrou interesse, por isso não houve progressos”, ressaltou.

Sharif, que já governou o país em duas ocasiões na década de 1990, venceu as eleições deste mês. Naquele momento, o TTP pediu a Sharif, então na oposição, assim como a líderes religiosos como Maulana Fazlur Rehman, de Jamaat Ulema-e-Islam (JUI), e Syed Munawar Hassan, de Jamaat-e-Islami, que fossem os fiadores do diálogo. “Na oposição, Sharif não foi fiador, mas, agora que está no governo e é primeiro-ministro, sua principal prioridade será iniciar negociações com o TTP”, opinou Akram.

Tanto a LMP-N quanto o PTI também buscaram a ajuda de Maulana Samiul Haq, chefe de outra facção do JUI e principal patrocinador do maior seminário islâmico do país, Darul Ulum Haqqania, para que facilitasse as conversações entre governo e TTP. Considera-se o influente clérigo como o “pai do Talibã”. A “maioria de seus líderes é formada por meus estudantes”, disse Haq à IPS. “Tenho contato com os chefes do Talibã e a resposta foi positiva”, destacou.

Porém, precisava da garantia total, não só da LMP-N e do PTI, mas também do chefe das forças armadas, general Ashfaq Pervez Kayani, antes de lançar um processo de diálogo formal com o TTP. “Estamos seguros de que prevalecerá a paz se o governo, a oposição, o exército e o Talibã dão demonstrações de sinceridade”, afirmou.

Mohammad Aslam Jan, professor de estudos sobre o Paquistão na Universidade Abdul Wali Jan, com sede em Mardan, a 50 quilômetros de Peshawar, disse que se trata da melhor possibilidade do governo para controlar o TTP. “O novo governo deve levar a sério a oferta, se deseja a paz”, afirmou. Na verdade, a população votou na LMP-N e no PTI precisamente porque o PPP e a Liga Awami não conseguiram instaurar a paz, observou. Os eleitores viram uma luz de esperança nos slogans de paz durante a campanha eleitoral e ficarão muito desiludidos se não conseguirem conter o terrorismo.

A Liga Awami governou Jyber Pajtunjwa nos últimos cinco anos e se manteve em confronto com o TTP, o que custou a vida de 800 dirigentes e filiados em reiterados ataques. Ainda assim está a favor de negociar a paz com o Talibã. “Queremos a paz a todo custo e apoiaremos o governo porque as pessoas estão fartas do terrorismo”, disse à IPS o porta-voz da Liga Awami, Zahid Jan. Envolverde/IPS