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Uma promessa e um problema crescem juntos

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As nações mais pobres têm em seus jovens a saída da pobreza, disse Babatunde Osotimehin, diretor-executivo do UNFPA.
Istambul, Turquia, 12/5/2011 – À primeira vista, o veloz crescimento demográfico dos países menos adiantados (PMA) leva ao juízo fatalista de uma pior distribuição de recursos. Mas os menos adiantados também são os mais jovens do mundo e, bem potencializados, podem ser um bem precioso. Este é o argumento exposto por Babatunde Osotimehin, diretor-executivo do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA), em entrevista à IPS.

“O crescimento populacional nos PMA é maior do que em outros países em desenvolvimento”, disse Osotimehin na Quarta Conferência das Nações Unidas sobre os PMA, que acontece até amanhã nesta cidade turca. “Vemos uma tendência de crescimento de 3% ou 3,5% ao ano nos PMA”. Isto é muito mais do que no mundo desenvolvido e em outras nações em desenvolvimento. “Há 900 milhões de pessoas e, se este crescimento continuar, em 2050 haverá o dobro, aproximadamente dois bilhões”, afirmou.

O diretor da UNFPA reconhece que na maioria dos casos, quando o crescimento demográfico é veloz também cresce a pobreza. “Então, precisamos reverter o ciclo de pobreza. E se isto é alcançado, invariavelmente se reduz o aumento da população”. Como descobriram China e Índia, as superpovoadas economias emergentes, mais bocas para alimentar também significam mais braços para produzir e mais mentes para criar. O que funciona para indianos e chineses também poderia funcionar para os PMA.

“Empregar a energia da população jovem para ampliar a base produtiva em todas as formas possíveis poderia representar o dividendo demográfico que faria os PMA avançarem”, disse Osotimehin. “Os ‘tigres’ do sudeste asiático cresceram contando com populações jovens. Inclusive nos países onde a população diminui estamos chegando à circunstância em que são necessáriasa políticas e planejamento familiar para ampliar a base juvenil”, acrescentou.

Nos PMA, “se forem aplicadas as políticas corretas em educação, saúde e inclusão social, veremos como decola a produtividade. Mas, se não fizermos nada disso nos PMA, veremos que as crianças repetirão seus pais: terão mais e mais filhos e o ciclo de pobreza somente se ampliará”, afirma Osotimehin. Este “se” depende dos governos e dos povos dos PMA. Nesta Conferência, todos reconhecem que é preciso um sistema de comércio mundial justo para que estas nações se sacudam do infeliz rótulo de “menos adiantadas”.

O crescimento demográfico e a longevidade estão estreitamente vinculados aos problemas da expansão econômica e do comércio, afirmou Osotimehin. “Nos PMA, estamos ganhando impulso em matéria de longevidade, pois começamos a ver além das doenças que causam mortalidade materna e infantil, e estamos lutando contra as infecções que matam adultos e crianças, ampliando também o ciclo de pobreza. Talvez não seja tão rápido como gostaríamos, mas estamos fazendo”, acrescentou.

Por isso, argumenta este especialista, devemos olhar as questões de população, “porque as pessoas vivem mais e as demandas são maiores, então, a base produtiva deverá atender essas demandas”.

Um novo informe do UNFPA intitulado “Dinâmicas Demográficas e Pobreza nos PMA: Desafios e Oportunidades para o Desenvolvimento e a Redução da Pobreza”, afirma que os investimentos nos jovens, bem como a emancipação feminina e a saúde reprodutiva são chaves para impulsionar a capacidade produtiva e acelerar a saída do ciclo de empobrecimento.

O documento afirma que os 48 PMA (33 africanos, 14 asiáticos e um caribenho, o Haiti) têm uma numerosa e crescente juventude: cerca de 60% dos habitantes têm menos de 25 anos. Estes jovens – diz o informe – podem conduzir o crescimento econômico se tiveram saúde, educação e emprego. Os investimentos nas meninas, habitualmente desatendidas, podem proporcionar um valioso dividendo para o desenvolvimento.

“Dar poder às mulheres e às meninas começa pela melhoria nos cuidados com a saúde reprodutiva e o planejamento familiar”, afirma Osotimehin no relatório. “Muitas adolescentes são mães, muitas morrem ao dar à luz, muitas abandonam a escola, muitas sofrem abusos e discriminação diariamente.” “Os investimentos também reduziriam a mortalidade materna e levariam a famílias menos numerosas com mais recursos para dedicar à saúde e à educação de cada filho. Desta forma, este círculo virtuoso ajuda as famílias, as comunidades e as nações a escaparem da pobreza”, acrescentou Osotimehin. Envolverde/IPS