Paris, França, 5/4/2011 – A economista francesa Esther Duflo afirma que se pode aliviar a pobreza com políticas adequadas. Como exemplo mostra o êxito obtido por sua equipe no Norte da Índia, onde 40% das famílias estudadas por seus colaboradores imunizaram seus filhos ao receberem um quilo de lentilha. Esther entende que para reduzir a pobreza basta as autoridades e os governantes “traduzirem as conclusões das pesquisas em ações” e adotar programas cuja efetividade ficou demonstrada.
No entanto, é mais fácil falar do que fazer. Às vezes é frustrante conseguir que as autoridades apliquem os resultados dos estudos que poderiam melhorar a vida das pessoas, reconheceu Esther, que em 2010 recebeu a Medalha John Bates Clark, entregue pela American Economic Association, por sua grande contribuição ao conhecimento e pensamento econômicos.
Seu novo livro, lançado este mês, “Poor Economics: a Radical Rethinking of the Way to Fight Global Poverty” (Economia da Pobreza: Reformulação Radical da Forma de Lutar contra a Pobreza Global) concentra novamente a atenção em mais ações para aliviar a pobreza. A obra, escrita em conjunto com Abhijit Banerjee, professor internacional de Economia da Fundação Ford, pretende conseguir que este ano a “economia da pobreza” se torne um assunto principal nas reuniões e conferências internacionais.
“Fundamentalmente, creio que é um tema que atrai as pessoas”, disse Esther à IPS. “A diferença na renda entre os mundos rico e pobre é tão grande que as pessoas precisam estar interessadas”, afirmou. Esta economista de 38 anos é professora no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e faz conferências na França, onde, segundo alguns críticos, fez da economia do desenvolvimento um assunto chique. Fazendo doutorado no MIT, foi uma das primeiras estudantes a aplicar a economia ao desenvolvimento, quando poucas universidades os relacionavam.
“Não era considerado um tema atraente”, recordou Esther. “Houve uma geração que começou a analisar o desenvolvimento a partir de outras áreas. Tinham suas próprias teorias e havia poucos economistas. Minha contribuição foi começar a me concentrar no detalhe. Mas contei com tutores e mentores”, afirmou. Sua grande contribuição foi mostrar quais programas são mais efetivos para combater a pobreza. Seu trabalho “utiliza experiências de campo para identificar os que são altamente específicos para um determinado fim, desde tratamentos médicos baratos até inovadoras propostas na área da educação”, segundo o MIT.
Junto com Abhijit e Rachel Glennerster, Esther fez a pesquisa na Índia. Rachel dirige o Abdul Latif Jamil Poverty Action Lab (J-PAL, ou Laboratório de Ação contra a Pobreza Abdul Latif Jamil), do MIT, fundado em 2003 por Esther, que o criou juntamente com Abhijit e Sendhil Mullainathan, economista e professor da Universidade de Harvard.
Os pesquisadores do J-PAL realizam estudos em vários países e trabalham com autoridades nacionais e órgãos governamentais para colocar em prática programas de alívio da pobreza, explicou Hélène Giacobino, diretora-geral da instituição na Europa. “A maior parte de nosso trabalho consiste em analisar as diferentes políticas contra a pobreza e avaliar seu impacto e sua efetividade”, disse à IPS. Desde 2003, foram feitas mais de 235 pesquisas sobre emprego, ausência escolar, programas sociais, entre outros temas em 38 países. A maioria dos estudos dura três anos ou mais.
No Quênia, pesquisadores do J-PAL concluíram que a falta às aulas se relacionava com parasitos intestinais. Entregaram medicamentos aos estudantes e esse problema diminuiu 25%. Depois, a Fundação Bill Gates financiou programas para distribuir medicamentos contra os parasitos. O J-PAL lançou a Deworm the World (Desparasitar o Mundo), uma organização não governamental que ajudou o governo do Quênia a atender 3,6 milhões de crianças em 2009, segundo o MIT.
Pascaline Dupas fez um estudo sobre o uso dos mosquiteiros na África e concluiu que as pessoas que os recebem gratuitamente os usam da mesma maneira que as que compram essa proteção. Essa conclusão jogou por terra o argumento de que quem recebe doações não as apreciam ou não as usam. “O estudo mostrou que é melhor entregar mosquiteiros de forma gratuita para prevenir a malária. É uma forma de ajudar quem não pode pagar”, disse Esther.
A economista se sentiu inspirada pelo exemplo de sua mãe, uma médica que viajou por diferentes países em desenvolvimento ajudando vítimas das guerras. “Sempre me interessou saber o que se pode fazer para mudar a vida dos mais pobres”, afirmou. “Descobri que a economia proporciona um bom ângulo, embora pareça um pouco distante”, acrescentou. Com o J-PAL e o novo livro, Esther e o restante da equipe esperam “melhorar as políticas destinadas a aliviar a pobreza e melhorar a saúde, a educação e o acesso a empréstimos”, ressaltou. Envolverde/IPS