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Uma ugandesa que venceu o tabu do serviço funerário

Regina Mukiibi Mugongo é a primeira diretora de uma empresa funerária em Uganda. Foto: Amy Fallon/IPS
Regina Mukiibi Mugongo é a primeira diretora de uma empresa funerária em Uganda. Foto: Amy Fallon/IPS

 

Kampala, Uganda, 2/12/2013 – O negócio dos sepultamentos é quase tão antigo quanto a humanidade. Mas em Uganda, onde grande parte da população associa as pompas fúnebres à bruxaria, não é qualquer mulher que se atreveria a dirigir uma empresa funerária. Regina Mukiibi Mugongo precisou enfrentar muitos preconceitos e tabus para ser a primeira, quando criou a Funeral Services Ltd. (UFS), há 16 anos. “Tive que enfrentar muita resistência. As pessoas me diziam que seria assediada por fantasmas”, contou Mugongo à IPS. “Diziam: isso é tabu. Como pode fornecer um serviço assim? As pessoas lutavam contra mim”, disse esta mulher que organizou milhares de funerais, incluindo os de figuras políticas, religiosas, diplomáticas e da realeza.

Mugongo deixou uma carreira de 15 anos no antigo Banco Comercial de Uganda para iniciar uma empresa de viagem com seu irmão Freddie, agora falecido. Foi durante suas viagens que os irmãos conheceram os serviços oferecidos pelas funerárias ocidentais, e se deram conta de que havia um nicho no mercado ugandense. Fundaram a UFS em 1997, mas Freddie faleceu um ano depois e Mugongo teve que assumir toda a tarefa. Agora tem 35 empregados e cinco filiais em toda Uganda. A UFS também é a única companhia local que integra a organização de funerárias da região dos Grandes Lagos.

Em seu escritório na sede da UFS, Mugongo exibe com orgulho seus troféus. No ano passado, ganhou o Prêmio para o Êxito Empresarial, concedido pela Uganda Women Entrepreneurs Associatede Limited (UWEAL). Em outubro recebeu o prêmio Mulheres Pioneiras Fenomenais 2013, entregue pela organização norte-americana 100 Black Women of Funeral Service. A empresa importa caixões dos Estados Unidos (cerca de 125 ao ano) e também fabrica caixões “dignos” em sua própria carpintaria. “A demanda é por caixões feitos em Uganda porque são mais baratos. Os decoramos com ornamentos importados e forramos por dentro com linho”, detalhou Mugongo.

Ela teve a sorte de obter um empréstimo informal de US$ 176 mil de um banco local para iniciar sua empresa. Tanto seu bom histórico como bancária, quanto seu diploma em negócios foram vitais para que pudesse ter acesso aos fundos, que devolveu seis anos depois. Mas nem todas as mulheres são tão afortunadas. A UWEAL, com 750 membros registrados em dez distritos do país, afirma que até 48% dos negócios no país poderiam ser propriedade de mulheres.

Segundo Monica Malega, chefe de políticas dessa organização, 60% das integrantes da UWEAL trabalham na agricultura. Ela diz que, apesar de as mulheres serem mais rápidas do que os homens para empreender um negócio, enfrentam mais dificuldades, especialmente para ter acesso a terras. “Por exemplo, pode ter terra um ano, mas não ter a segurança de que poderá usá-la no ano seguinte, porque, provavelmente, seu marido dirá que precisa dela e você planejou um investimento de cinco anos”, disse Malega à IPS. “E quando se é mulher e se vai ao banco pedir um empréstimo, perguntam por seu marido para que também assine o documento”, pontuou.

Desde sua época de bancária, Mugongo concluiu que as mulheres são melhores do que os homens na administração do dinheiro. “Os homens talvez estejam dispostos a pagar os empréstimos, mas têm muitos problemas. Acabam usando o dinheiro para outros fins”, afirmou.  “Nós não temos propriedades, por isso temos que receber um poder notarial de nossos maridos e amigos. Hipotecamos as propriedades de outras pessoas. Por isso se sente essa pressão, de que se não cumprir sua obrigação alguém perderá uma propriedade. As mulheres temem fazer mau uso dos empréstimos bancários”, explicou.

A Autoridade de Investimentos de Uganda, uma agência governamental semiautônoma, trabalha para mudar essa situação. A agência “está prestes a montar um escritório no Banco de Desenvolvimento de Uganda para ajudar os grupos de mulheres a terem acesso a financiamento”, disse à IPS seu alto executivo em investimentos, Stephen Byaruhanga Rwaheru. “A barreira que temos é que as taxas de juros ainda são muito altas (de 25% a 30%), e, portanto, é difícil para as associações de mulheres pedirem empréstimos”, afirmou. As taxas deveriam cair para 10%, acrescentou. No entanto, Mugongo está otimista sobre o futuro das empresárias ugandesas. “Podemos ter sucesso quando somos inovadoras”, ressaltou. Envolverde/IPS